O interesse

|Tânia Rei|
Vivemos num mundo de pouco interesse. Numa actualidade, se assim o preferirem, de pouco interesse. Estamos rodeados de pessoas, à partida, sem interesse.

Isto faz com que tenhamos poucos motivos de interesse. Não, note-se, por falta de disponibilidade para ter interesses, mas porque estes escasseiam. É difícil alimentar um interesse sem uma fonte para tal. Sem termos a mínima ideia de como vamos acender a fornalha do interesse em nós.

Todos os dias acontecem muitas coisas. Sem interesse. Por isso, se espremermos os factos diários, não aconteceu nada. Não teve interesse. Não foi avassalador. Falámos com fulano, com sicrano, beltrano... Vimos isto e aquilo... Lemos aqui e acolá. Mas não fica nada. Não despertou interesse. Fomos por ali e por além, em viagens curtas ou compridas. Fizemos coisas, comemos coisas, dormimos coisas. Só que não teve interesse. Adormecemos já, em boa verdade, os nossos sentidos. Porque sabemos, logo desde o início, que nada tem interesse.

É interessante que pouco tenha interesse. Qual foi a última vez que sentiu interesse?

Talvez haja um mundo de interesses debaixo deste que, como sabemos, não tem interesse algum. Talvez o mal esteja em ver mal, em ouvir mal, em ler mal e em falar mal. Talvez o problema seja não estarmos presentes. Não fisicamente só, mas em essência.

Se estivermos atentas, o maravilhoso desenrola-se à nossa frente, em catadupa. Sem deixar tempo para recuperar o fôlego. É que, afinal de contas, não faltam coisas interessantes, falta é que apertemos o “botão” do interesse em nós mesmos. Que deixemos de ser reles, arrogantes e sabe-tudo. Que paremos de olhar de cima e que tenhamos o tempo que leva a dispensar atenção.

No outro dia, o Tó contava-me que o senhor do café gosta de ver aviões. Tem uma aplicação que lhe diz onde estão, para onde vão e quando vão aterrar. Gosta de ir vê-los a passar no céu: “Olha, anda ver! Vem ali um!”. É giro, sim senhor, mas não foi ver. Não tinha interesse. Depois, para meu espanto, no telemóvel é o Tó que está a ver aviões: “Aterrou um agora no Porto, vês? Era a esta hora que estava previsto chegar. Está a diminuir a velocidade, vê aqui!”.

Agora sabem os dois quando passam aviões e para onde vão, somente porque o interesse ganhou, ele que só vence quando somos capazes de ver para além de nós próprios.

O significado dos sonhos

|Tânia Rei|
Aviso: Isto não é um dicionário de significados de sonhos. Mas eu gosto desses livros, fique claro. Nunca comprei nenhum porque não sonho com frequência, apesar de achar fascinante.

Por exemplo, há uns tempos sonhei que estava a ser perseguida por um javali. Inusitado, não? Pois apenas quer dizer que posso vir a ter chatices com um familiar. Não aconteceu, ainda que guarde o aviso. E fiquei a saber que os javalis correm imenso. Irra! Quase não me safava, no sonho.

Contudo, há outras justificações mais esotéricas para alguns sonhos igualmente inusitados como este meu, e que me causam inquietações. Explicaram-me, gente entendida na matéria, que quando sonhámos com alguém que partilha o mesmo plano do que nós (i.e está vivo) é sinal de que essa pessoa nos quer falar, tem algo para nos dizer, e não consegue, não pode ou não quer, quando está acordado. Ou que pensa em nós, de alguma maneira. Então à noite, quando deixámos o nosso corpo, o sacana do nosso espírito faz o favor de denunciar tudo o que teimamos em guardar durante o dia – em resumo é isto.

É uma teoria que divide, certamente, opiniões. Estão a lembrar-se do sonho que tiveram com fulano de tal, com quem nem têm confiança, ou então com aquele outro onde conversavam com quem não vêem há imenso tempo. Nem contavam ver mais. Nunca mais. E não vos faz sentido que justamente aquele indivíduo tenha algo para demonstrar, a esta altura do campeonato.

Não sei o que pensar sobre isto. A sério que não. Poderia ser reconfortante, em determinados casos. Noutros é só estranho ser “visitado” durante o sono.

Os sonhos deviam ser uma ciência exacta, para podermos confrontar o outro, quando acordado. “O que estavas a fazer no meu sonho? O que me querias dizer? Fala agora, se tens coragem!” - diriamos, afrontados e ligeiramente perturbados pelas visões desenhadas na nossa cabeça, pautadas por conversas estapafúrdias.

Só que isto não está comprovado. Ninguém nos ensina isto na escola, nem há documentários na internet (talvez haja, ok). Por isso, vamos continuar a ter sonhos incompreensíveis, sem que nunca mudem esse estado. E, se os contarem a alguém, além de não se realizarem, como avança a ciência popular, acontece algo pior ainda. Vão ouvir um redondo: “Deixa-te disso, pá! Foi só um sonho”.

Uma vida cheia

|Tânia Rei|
Setembro é, por norma, o mês que me deixa mais pensativa e, até, melancólica. Já passou (bem) mais de metade do ano. Faltam menos de quatro meses para o Natal. Quase um mês para eu fazer anos (nunca deixarei ninguém esquecer-se disto). E já dá para ter uma ideia, muito expressiva, de como está a ser este ano, a todos os níveis.

No fundo, neste e noutros anos, todos procuramos uma vida cheia. E não tenho a certeza do que é ter uma vida cheia. É ter trabalho, amor e saúde? É ser bem-sucedido? É sentir-se feliz? E o que precisamos para nos sentirmos (não sermos sempre, mas sermos em momentos) felizes? É uma pescadinha de rabo na boca, porque para tudo isto, precisamos de uma vida cheia.

Tenho medo, e, por favor, partilhem este medo comigo, de olhar para trás e perceber que tive uma vida cheia... de nada.

Enquanto nos preocupamos em amealhar coisas para encher o saco da vida, parece-me que vamos deixar cair relíquias sem que nos apercebamos. E veio-me a imagem mental de um ladrão, com uma saca de serapilheira, que espalha pelo chão cálices de ouros cravejados de diamantes, ao passo que só consegue amealhar moedas de pouco valor e de metal duvidoso.

E, ainda falando nesta analogia, mesmo um saco cheio, a transbordar, não é sinal de um bom saque, de uma colecção digna de se orgulhar.

Uma vida cheia é, no meu entender, semear diamantes por onde passamos, mais do que apanhá-los. Deixar um halo de actividade, que indicie que estivemos ali. Uma vida cheia é não deixar ninguém para trás, levar os bons connosco de rojo, debaixo de um braço se for preciso. Uma vida cheia é fazer o que nos deixa felizes, para estarmos felizes e sermos felizes. E fazermos alguém feliz.

Uma vida cheia é não nos esquecermos de quem somos, de onde viemos e para onde queremos ir. É pegar em frases feitas e insuflar-lhes o sentido. Antes que seja tarde, vou olhar para trás e ver se deixei, acidentalmente, escapar um cálice valioso, uma jóia de incalculável valor. Ainda que não seja bom, talvez, pensar no passado, é melhor dar dois passos atrás do que não ter caminho para a frente.

Uma vida cheia, é, no fundo, ter o que sonhámos. Não de forma idílica, mas uma vida feita dos sonhos mutantes, que a cada dia nos empurram mais para a frente do que para trás, mesmo quando por lá não vemos lá estrada alguma.

Férias: quem precisa delas?

|Tânia Rei|
Voltei há uma semana de férias, e só hoje arranjei coragem para vos falar nisto. Aliás, só hoje me apercebi o que me atingiu: o fim das férias. É o pior que se pode fazer a uma pessoa. Não desejo o fim das férias nem ao meu pior inimigo.

Voltei, na passada quinta-feira, e parecia que me tinham dado com um taco de basebol na cabeça. Tentava, tropegamente, dar marretadas nas teclas do computador, ler emails, consultar sites, pegar em tarefas pendentes… e só me ocorria “isto sempre esteve aqui?”, “onde estou?”, “quem sou?”, “estou aqui porquê?”, entre outras questões pertinentes, numa altura em que o meu cérebro tentava processar onde estava o fato de banho para me ir estender ao sol.

Parece que tinha acordado de um coma profundo, onde tinha sido inesperadamente feliz. E agora, acordada, o maior esforço era não tropeçar nos meus próprios pés, anormalmente grandes, no fatídico dia em que as férias acabaram. Passei o dia com sono, sem vontade de fazer nada, a sentir-me um trol sentado numa cadeira, com os pés (grandes) estupidamente a baloiçar. Em determinado momento posso mesmo ter-me babado em cima das teclas que (furiosamente) esperava que me obedecessem.

Não sei se as férias são um prémio, um direito que nos assiste ou um castigo, porque temos marcado o dia do regresso, e sabemos, a priori, que vamos voltar e sofrer.

A sério, cada vez que penso naquelas duas semanas mágicas, onde a maior preocupação era decidir o que comer e o que beber, que música ouvir e onde ir estender o costado ao sol, sinto uma lágrima a rolar cara abaixo. Talvez nunca mais queira ter férias. Para quê obrigar-me a passar por este penar, a esta dor que me atrofia os músculos? Se eu não me defender, quem me irá defender?

E, de qualquer forma, eu amo o que faço. Então… quem é que quer sol, bebericos frescos, longos passeios e intermináveis descansos? Por favor…

Um bocadinho é sempre de mais

|Tânia Rei|
Quantas vezes (ou alguma vez?) deram por vocês a pensar no mais sensato, no melhor, no “tem que ser feito”, no “é o caminho lógico”, até para manter uma certa sanidade mental, para depois, no minuto seguinte, arranjaram mil e uma desculpas para não tomar porra de atitude nenhuma?

Aquelas situações em que entre a inércia e a acção só vai mesmo um bater de pestanas, só que ficamos ali especados, a jogar ao sério com a vida. Porque, normalmente, achamos que se aguentarmos mais um bocadinho tudo vai mudar, e que vamos conseguir cumprir todas as nossas malditas utopias. Algo como só falta mesmo a porcaria de uma etapa. E virar o leme num momento crucial destes era burrice. Era como atirar ao chão o raio de uma toalha ensopada em suor e, em grande parte, sangue.

É que se fizermos mais um esforcinho, vamos conseguir… Conseguir continuar a encher um copo que já transborda, mas ao qual teimamos em pôr uma caninhas no bordo, para ocupar com mais umas pinguinhas, que rebolam de imediato para o chão. Só nós não vemos. Ou fazemos por não ver. Se fecharmos os olhos, pensarmos em outras coisas, fizermos planos para o futuro glorioso que hipotecamos todos os dias, tudo vai passar. E melhorar. Passar e melhorar, passar e melhorar, passar e melhorar.

É só mais um bocadinho. É a derradeira prova, esta em que renunciamos. Esta hora, na que viramos as costas ao que julgamos ser uma parede, era a hora. Teria sido agora o ponto de viragem. Como aquela história do fulano de tal que jogava sempre a mesma chave no Euromilhões, e um dia, cansado de perder, mudou os números. E, nesse dia em que ele seguiu em frente, saiu a antiga combinação dele. Por não ser persistente o suficiente, não é hoje um milionário, daqueles que mete nojo de tão rico.

É só, portanto, mais um bocadinho.

“É só mais um bocadinho. Um bocadinho. Bo-ca-di-nho”, repetimos nós, enquanto tentamos alcançar a nossa mantinha para cobrir as pernas, numa manhã qualquer de Inverno no lar da terceira idade.

É que um bocadinho, para quem espera desconfortável, é sempre de mais.

Os gémeos

|Tânia Rei|
Às vezes, acontecia este fenómeno: quando estávamos a partir amêndoas com um tijolo burro, sentados com o rabo no chão, saíam da casca dois frutos em vez de um. Vinham, regra geral, encavalitados um no noutro, ou encaixados e meio deformados.

Diziam às raparigas que não podiam comer, ou iam ter gémeos. Aquilo parecia-me mesmo mau, ter dois filhos de uma vez, tal era o alarmismo. Parecia uma praga, como as que rezam nos contos de fadas. Uma gravidez de gémeos há umas décadas, não assim há tantas, deveria, de facto, ser alarmante, à falta de melhor palavra. De repente, duas bocas para alimentar, quando não havia assim tanto.

Lembro-me da primeira vez que vi gémeos. Gémeas, na verdade. Eram raparigas. E eu devia ter uns 4 anos. Fui com os meus pais ver as recém-nascidas e achei aquilo giríssimo. Eram mesmo iguais, e tinham daquelas chuchas castanhas, iguais também.

Nunca me tinha apercebido que era possível que uma pessoa tivesse outra igual a si. Igual, e não “muito parecida”. É diferente, ser igual ou ser muito parecido.

Mais tarde, ou mais cedo, não sei bem quando, percebi que os meus vizinhos também são gémeos idênticos. Mas eu sempre os distingui, e para mim não devia contar. A seguir, mete-se a televisão ao barulho, com sotaque de português do Brasil. Era aquela novela, “Mulheres de Areia”, em que a Glória Pires fazia de duas. E eu achava mesmo que ela, para aquela personagem, se dividia em duas iguais. Assim como achava que os actores morriam mesmo, e elogiava mentalmente a capacidade de morrer tão bem, à primeira, em frente às câmaras, sem nervos. Porque não dava para repetir, então tinha que sair bem logo. Como eles voltavam a aparecer noutras novelas, já não sei. Na minha cabeça, devia haver um período em que os actores ficavam mortos, e depois voltavam, para continuar a trabalhar.

Na ficção, há sempre um gémeo bom e outro mau. Coisa que nunca entendi, isso de serem iguais mas terem que ser diferentes a esse ponto. Um podia gostar de cozinhar e outro de jardinagem, sei lá! Mas, não! Um é um anjo, e o outro um demónio com instintos sanguinários. À parte das Olsen.

Essas são mesmo duas, e são as duas boazinhas (ou eram, pelo menos, nos filmes). Pregavam muitas partidas, só que isso parecia-me normal.

Afinal, de que serve ter alguém igual a nós se não for para enganar os outros, com brincadeirinhas inocentes? E partilhar namorados, daqueles com os quais a cena não é nada séria, pois claro. E, como nos filmes, mandar o gémeo fazer aquilo que o outro gémeo não sabe.

Quando me saíam dessas amêndoas, comia-as logo! Meti-as goela abaixo e pensava “aposto que não é assim que nascem os bebés iguais”. E, lá está, conhecem alguém neste caso?

De que nos serviam as asas?

|Tânia Rei|
No dia outro dia, à hora do almoço ou ao final do dia, não me lembro bem, nos curtos minutos a pé que separam o meu trabalho de casa, apanhei um susto daqueles que me fazem soltar gritinhos histéricos de gaja.

Vi um pássaro morto, logo ali, ao dobrar a esquina, encostado a uma parede. Se calhar já alguém tinha dado um pontapé ao cadáver do pobrezinho, para o arrumar fora do local de passagem. “Olha, grande coisa! É mesmo uma cena de rapariga!” – pensam vocês, que não sabem que eu tenho medo de passaredo em geral.

É por causa do bico fininho, que eu imagino sempre a furar-me os globos oculares. E dos ossos quebradiços. E aqueles pezinhos, com unhas compridas e afiadas, que agora até estão na moda (as unhas), e das quais eu não gosto, porque me trazem à memória aquelas patinhas impacientes (tic, tic, tic, tic) que parece que só sabem andar se for depressa, ou aos pulinhos, que também já vi. E eu não gosto dessas pressas. Nem de pássaros. Diz que se chama ornitofobia, o medo dos pássaros. Mas gosto de penas, quando estão a fazer de brinco. E gosto de frango. E ovos. Como muito ovo, de galinha, só. E gosto de peru, se for fatiado em fiambre ou em bifes.

Fiquei uns minutos, a olhar para o bicho. Com medo, com pena (não das dele, pena mesmo) e com curiosidade. Não era um pardal, daqueles que por agora andam gordos e de papo cheio. Era assim um de plumagem acinzentada e um bico amarelo-escuro ou meio laranja. Estava numa posição não natural, assim com o pescocito para trás, como num filme de terror, naquela parte dos exorcismos.

Fiquei a pensar no sucedido. Um pássaro, que tem asas e anda sempre a voar por aí, livre, quando morre acaba no chão, atirado a um canto. E de nada lhe servem as asas. Não deixa de ser triste, ver um animal que foi feito mais para o ar do que para a terra, deitado num paralelo da calçada.

Não deveriam os pássaros, quando morrem, ter o direito de ficar no ar? Ou um sítio onde não pudessem ser comidos por gatos gulosos e preguiçosos ou a servir para fazer o jeito ao pé ou para fazer trabalhar uma vassoura. Um animal que conheceu o céu, que sentiu o vento cortar-lhe o corpo, devia ter um final mais digno do que um chão frio e sujo, num canto qualquer.

É que já nem sei se é melhor ter asas, mas uns pés curtinhos e sem muita utilidade, ou umas pernas grandes e não ter como voar por meios próprios. É que a pé podemos ir longe, mesmo que demoremos mais, apesar de ficarem sítios inalcançáveis. Com asas teremos outras perspectivas, porque vemos tudo lá de cima, mais amplo, tudo miudinho debaixo dos nossos pezitos também eles minúsculos.

Naquele dia, contudo, limitei-me a este reles pensamento humano:” Livra! Ainda bem que não sou um pássaro!”.

O nosso dever quando crescemos

|Tânia Rei|
A minha afilhada tem, neste dia em que vos escrevo, 3 anos, 1 mês e 5 dias. Ela já sabe que não quer crescer.

Quer ficar pequenina, como é agora. Não sei se ela sabe todos os benefícios associados, ou se é só porque já percebeu que os grandes não têm direito a colo quando estão cansados de caminhar, ou quando não vêem bem alguma coisa, precisamente por não terem altura que chegue.

Se pudéssemos escolher, agora, todos diríamos que queríamos ficar sempre pequeninos. Davam-nos de comer, vestiam-nos, lavavam-nos. Preocupavam-se connosco. Podíamos brincar, fazer asneiras e dormir às horas a que quiséssemos (dentro do aceitável para os adultos).

O mal, contudo, não reside em crescer. O que não aprendemos com a idade e o tamanho (pelo menos do corpo) é que nos devemos continuar a tratar como se fôssemos todos pequeninos. Como que se todos no pudéssemos magoar ou precisássemos que nos dessem a mão para atravessar a estrada. Uma estrada que fica maior, com a idade. Tão grande, que às vezes nem conseguimos ver o outro lado do passeio, quanto mais o fim.

O mal de crescer é deixar de acreditar que temos o dever de tratar bem os outros. Em resumo, é isto – crescemos em altura e em vez de olharmos para a frente e para os lados, olhamos para o umbigo.

Ir envelhecendo, além de nos fazer perceber que não podemos comer terra, devia tornar-nos mais maduros. Mas não. Crescemos a olhar para o chão, onde só vemos os nossos pés, os nossos passos, as nossas mechas de cabelo a fazer sombra aos olhos, e a tapar tudo em redor. Ocultamos da nossa mente que temos o dever de ser bons.

Crescemos mal. Assim é que é. Crescemos e deixamos de acreditar que devemos ser bons. Crescemos e optamos caminhos e tomamos decisões. Sem pensar se estamos a afectar quem nos rodeia, quem escolhemos colocar na nossa vida. Ou tirar dela, às vezes sem as avisar, o que é uma chatice.

Crescemos, e esquecemo-nos que devemos fechar as portas por onde passamos. Ou deixá-las escancaradas. Portas entreabertas são tão perigosas como ratoeiras. E pode acontecer que, quando tentarmos fazer o percurso inverso, as portas tenham trancas de ferro, a vedar a entrada, mesmo que não as encontremos fechadas.

Fazemos isto porque crescemos mal. E, de facto, crescer não traz nada de bom.

A minha afilhada é que a sabe toda. E só tem 3 anos, 1 mês e 5 dias.

O que é preciso

|Tânia Rei|
As manhãs cheiram a torradas.
Às vezes, cheiram a tostas mistas, onde claramente predomina o queijo, que escorre gulosamente pelas bordas lambuzadas de manteiga.

As manhãs cheiram a café com leite, com pouco açúcar, para não desfazer a amargura na boca totalmente. Porque o amargo, assim como o doce e o salgado, são precisos, nem mais que não seja para testarmos as nossas papilas gustativas – como sabemos que funcionam, se não as usarmos?

As manhãs têm pouca gente na rua. Logo pela fresquinha, só anda na calçada quem precisa mesmo. As manhãs, além do sabor a torradas e a leite com café, trazem um trago de frescura. Um bafo, nem quente nem frio, assim no modo ideal, que entra pelas narinas e que se aloja na boca. Fica ali, durante parte daquela manhã, a ruminar, a roçar-se nos dentes, na língua, na garganta… E vai descendo, devagarinho, até que se aloja no coração.

O que é preciso mesmo? É que continuem a existir as manhãs. Muitas manhãs. Porque às manhãs sucedem-se as horas de almoço, as tarde, os finais de tarde, as noites e os serões.

Segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos. Somados, aumentados, multiplicados, repuxados, almejados. Tenhamos nós manhãs suficientes. Saibamos nós aproveitar as manhãs.

Se as manhãs foram sinónimo de renovações na vida, de novos recomeços, de novas oportunidades, não acordemos depois do meio-dia. Porque só quem vê manhãs, novas manhãs, manhãs renovadas, pode ver coisas novas e fazer as melhores escolhas.

As manhãs têm este dom: ver as coisas começar, do início. Não andamos ali perdidos, sem saber o que aconteceu, ninguém toma decisões antes por nós.

As manhãs cheiram a torradas. As torradas têm um toque de amor, nos meios dourados e humedecidos de manteiga. O amor sabe bem de manhã, e combina com a vida. As manhãs fazem uma cadeia de pensamento mais ou menos circular, qual fio feito com flores de Primavera onde dedos febris vão enfiando felicidade.

A condição do apego

Tânia Rei
Ando há mais de um mês a mudar de casa. Tenho, neste momento, duas casas. Três, se contar com aquela onde fui criada. Mais, se contar com todas aquelas onde mora o meu coração, ou parte dele.

Sim, posso desculpar-me com falta de tempo, visto que foi uma mudança forçada. E é sempre complicado quando somos obrigamos a mudar algo sem que queiramos, sem que ali tenhamos empenhado esforços ou envidado energias. Regra, só queremos mudar o que não nos traz felicidade, ou não nos faz bem. E eu gostava de morar onde estava, caramba.

Já podia andar às escuras em casa, sem esbarrar em esquinas ocultas. Conhecia os vizinhos, que me conheciam de volta, e me abriam a porta quando me viam com compras ou algo mais volumoso nas mãos. O carteiro, imagine-se, sabia onde eu morava.

De repente, tive de escolher outra casa, às pressas. Tive de levar as minhas coisas, a ferros, e, depois de entregar as chaves, não vou poder voltar, gentilmente, bater à porta e dizer que, afinal, me esqueci de um pertence. E custa deixar o que nos fez felizes. Fui feliz na minha antiga casa. Enquanto tirava os meus livros do móvel da sala, móvel esse que já não é meu, lembrei-me que me lembro do dia em que os pus lá, com a promessa de os ler a todos. Vou mudá-los de estante, e, não os li.

Novos horizontes exigem novas promessas. Novos desafios exigem novas vontades. Mas custa deixar aquele espaço, e, se calhar, ainda que de forma inconsciente, quero prolongar ali a minha existência. Não quero que a casa de esqueça de mim. Não quero que deixe de ter o meu cheiro e a decoração que lhe dei. E como fazemos para que não se esqueçam de nós? Para que não apaguem a nossa marca?

A casa nova ainda não teve tempo de ficar a cheirar a mim. Ainda nem escolhi onde vou pôr os pratos, arrumar os vestidos de Verão ou onde vou pendurar os meus quadros. Só sei que é ali que vou ficar, e ponto final.

A outra casa, a que me fez feliz, vai continuar a existir. E eu não vou estar lá. Apenas me resta acreditar que o meu novo cantinho me vai fazer tão ou mais feliz. Porque a vida continua, com ou sem resquícios do passado.

A tempo inteiro

|Tânia Rei|
Em tempos imemoriais, cada um de nós havia de se especializar em alguma coisa. Só fazíamos aquilo, de forma absolutamente irrepreensível. Tínhamos a experiência de anos, de situações complicadas, que para as resolver não nos valeram livros nem tutoriais no Youtube.

Havia tempo, e percebia-se a real necessidade de ser alguma coisa, precisamente, a tempo inteiro. Claro que, como todo o bom português, podíamos ser versados noutras coisas, mas isso não exigia o tal tempo. Usávamos os sobrantes, o buraco do relógio em que queríamos descontrair, ou fazer coisas diferentes daquelas em que éramos extremamente bons.

Agora, tudo mudou, e deixou de haver essa disponibilidade. Quem mais perdeu foi o amor. Não há tempo para amar a tempo inteiro. Um amante a tempo inteiro é como a figura da dona de casa, que podia assumir esse papel, e abdicar de uma carreira para ser mãe, limpar a casa, ir ao salão de cabeleireiro às sextas à tarde e tomar chá com as amigas aos sábados antes de fazer o almoço, somente para reclamar da vida e, óbvio, contar as últimas do Luísinho e da Mariana. Esta figura só existe, e só existiu em boa verdade, nas telenovelas. Ainda assim, é uma analogia rápida.

Não temos tempo para suspirar de meia em meia hora por alguém. No máximo, uma vez por semana, e com hora marcada, como o chá com os amigas. Não temos tempo para imaginar a outra pessoa em situações promíscuas, durante as reuniões de trabalho aborrecidas. Não temos tempo para sorrisos parvos no trânsito, quando nos lembramos do sorriso da outra pessoa, que nos disse algo tão engraçado. Da mesma forma, não teremos sequer tempo para mandar um berro enfurecido ao automobilista que nos apitou. Ficou verde o sinal, e nós não vimos. "Nunca te deves ter apaixonado, ó palhaço!". Temos que ser trabalhadores, colegas, amigos, padres, mecânicos, personal stylist, festeiros, críticos, e ainda donas de casa (sejamos mulheres ou homens), e, quando der, ficamos apaixonados. Só um bocadinho, vá lá, que já é certo e sabido que, na manhã seguinte, temos que fazer. Não podemos ficar ali, a pingar mel.

Não há é tempo para gostar de alguém a tempo inteiro. Que disparate! Vamos gostando, quando a agenda assim o permite. Assim são as exigências do novo mundo, em que quem ficou a perder, além de todos nós, pois, foi o amor, que viu o horário reduzido, e nem tem um sindicato que lhe possa valer.

Abelhas num mundo de vespas. Ou ao contrário 

|Tânia Rei|
Vocês não sabem, mas eu até percebo de apicultura. Estão a rir-se? Olhem que estou a falar a sério.

Não, nunca produzi mel. Mas já trabalhei num sítio onde se embalava. E onde não faltavam abelhas, mel e outros produtos da colmeia. E aprendi, facilmente, a distinguir uma abelha, que faz mel, de uma vespa, que não faz nada.

Ele há muito bicho assim. Por exemplo, dentro da colmeia, os machos, os zângões, não fazem nada. Só arejam o local, de quando em vez, a bater as asas (fanfarrões!) e ajudam na procriação. Qualquer semelhança com a vida humana é mera coincidência, até porque nem é isso que vos quero contar (apesar de, note-se, ficar o registo).

Então, ouçam esta - parece que as vespas são carnívoras. Aprendi este fim-de-semana. Pode lá ser! Mas, é. Comem larvas dos outros bichos, das abelhas, pelo que entendi. E, por sua vez, as abelhas comem coisas fofas. Comem pólen e néctar. Se todos tivéssemos esta dieta, podíamos estar obesos e diabéticos, é verdade. Por outro lado, seríamos uns docinhos.

Parece coisa de filme, caramba! Comer pólen e néctar. Aposto que as princesas dos livros, além das maçãs, enquanto fiam linho, também emborcam pólen e néctar.

E outra que provavelmente não sabem, é que os apicultores, quando andam com aqueles fatos estilo astronautas, mas com rede em vez de vidro para respirar, não estão livres de serem picados. Porque os malandros dos bicharocos atacam zonas como os punhos, os tornozelos e o pescoço. Ou seja, os sítios onde a vestimenta tem falhas, para por lá passarmos os membros. Ou o costureiro está feito com elas, ou são persistentes, ou são mesmo espertas para caraças. E no mundo dos humanos também há sempre quem fuce por uma oportunidade. E chatos, sempre a tentar levar a deles avante. Desses, também há.

Sabem, as abelhas (fêmeas) têm ferrão. As vespas também. Picam, e incha tudo. Fica tudo inchado, e vermelho. E, com azar, ou se forem muitas ou se forem alérgicos, vão para o hospital a parecer um balão para os garotos que se vende nas romarias aos santos.  Também vi aquelas canetas modernas para injectar remédio para o veneno destes insectos. Uma performance extremamente duvidosa, um senhor que exemplificava espetou o produto no próprio polegar, em vez de no falso doente. Pensando bem, é o que anda a fazer meio mundo, não é? A papar o recurso dos outros.

A falta de discernimento entre abelhas e vespas é a metáfora perfeita para o mundo. Enquanto uns se dedicam a fazer algo assinalável e útil para a vida em comunidade (pois, as abelhas não andam a fazer mel para nós), há outros quantos que andam camuflados, mortinhos por carne fresca. Sabem distinguir abelhas melíferas das vespas?  Não?

Espero que agora percebam o que vos quis dizer.

Ser ou não ser? Raios o partam

|Tânia Rei|
Digam-me lá se é assim ou não é?

Toda a mulher, à seria e como deve de ser, é sincera.
Todo o homem sabe que há coisas que é melhor não dizer.

Toda a mulher é explosiva.
Todo o homem é uma pessoa normal, com dias bons e dias menos bons.

Toda a mulher é impaciente.
Todo o homem sabe lançar o isco, e recolher a cana quando a pescaria acaba.

Toda a mulher é desconfiada.
Todo o homem também, só se esforça para não parecer um agente da PIDE.

Toda a mulher odeia falsidades, intrigas e invejas.
Nenhum homem tem parrocha para isso. Ou tempo para perder com essas coisas.

Toda a mulher sonha em mudar o Mundo.
Todo o homem jura que mulher nenhuma o vai mudar.

Toda a mulher gosta de se definir.
Todo o homem espera que o definam.

Toda a mulher cria ocasiões.
Todo o homem aproveita oportunidades.

O problema não está no que dizemos ser, nas bandeiras que levantamos a nosso favor. O problema está, sim, nas ideias que criamos na cabeça dos outros a nosso desfavor.

Quero ver-te

|Tânia Rei|
Quando éramos miúdos, numa faixa etária que não consigo classificar com clareza, o pico das relações de cariz sentimental era termos em nossa posse algo pertencente ao outro, ao que por aqueles dias nos tirava o pouco fôlego suportado pela caixa torácica dos jovens.

Algo que tivesse passado tempo com o objecto da nossa paixão, para prolongarmos nós o tempo que passávamos a suspirar. Um anel, uma pulseira, um brinco…Quiçá um papel de pastilha elástica, de preferência com a própria lá enrolada, lavada em saliva, para nos recordarmos daqueles beijos “máquina de lavar, no programa de torcer”, com sabor a mentol.

Não me lembro de ter trocado algo com alguém, como recordação do amor juvenil. Mas é provável. Lembro-me, contudo, como se exibiam aqueles pertences. Sim, podia ser Inverno e estar a nevar, e era ver malta arremangada até ao cotovelo, para mostrar uma pulseireca de cabedal (falso, na maioria das vezes, e isso não lhe tirava brio nenhum). E rapazes com brincos ridículos de menina, daqueles grandes e pesados, que faziam doer as orelhas, ou então de fimo, que estiveram muito na moda. E raparigas com casacos claramente demasiado grandes, em que a ombreira lhe caía a meio do braço. Sabíamos que, algures, havia alguém cheio de frio, que nunca o admitiu (e, na volta, constipou-se).

À medida que crescemos, passamos a dar menos valor ao material. As relações, ou melhor, as ligações, já não carecem de um lado físico. Não necessitamos de uma presença física da outra pessoa, como que se quiséssemos praticar vodu. Sentirmo-nos ligados a alguém passa-se, numa fase mais madura da vida, mais dentro de nós do que numa pulseira de falso cabedal. E não há nada melhor do que ver quem nos trava a atenção, e perceber, do outro lado, a mesma emoção. Pousar os olhos (e os lábios) passa a bastar para uma vida cheia (ainda que parte disto aconteça somente na nossa cabeça) porque passa a ser uma raridade.

Outra (são tantas) coisa chata de crescer é que antes era tão fácil ver alguém. Isto porque os “nossos” pareciam viver todos a poucos quilómetros de distância. E viviam. Aqueles com quem partilhávamos o dia-a-dia. E era uma chatice quando tínhamos que faltar às aulas para ir, por exemplo, a uma consulta. Era como se o Universo nos tivesse abduzido, e a nossa ausência era notada.

Depois, crescemos, e a escola deixa de ser o epicentro das nossas emoções. Conhecemos pessoas de sítios que nem sabemos onde ficam. Passamos a ter agendas mais cheias. Passamos a achar tudo complicado, quando antes tudo era fácil. E nunca percebi muito bem este pulo do simplificado para o burocrático, que só se agrava com os anos.

Tenho saudades de acordar de manhã e saber que iria ver todos aqueles que queria ver. Os que me faziam falta. Até os que não me faziam falta nenhuma, pois claro, o que era totalmente suportável, em rácio.

Tenho saudades do facilitismo com que dizia “vi-te”, a toda a hora. Agora, no pesado mundo dos adultos, só posso dizer “quero ver-te”, com carácter de urgência, pois!

Não sei é quando.

Eu e a minha desilusão num mundo de gente mastigada

|Tânia Rei|
Não sei, não faço a mínima ideia, sobre o que esperar da Vida. Não sei, nem quero saber, mais vos digo, o que a Vida espera de mim.

Em boa verdade, acho que nem eu nem ela estamos interessadas em alimentar egos. E deve ser o único ponto em que estamos em acordo.

Olho para a esquerda, para a direita. Em volta. Nunca para cima ou para baixo, porque acredito na igualdade. Um mundo em que todos estão ao meu lado, e quem está atrás, então, bom, só me está a desacelerar o passo.

[post_ad]
Olho, com atenção, com a que me é possível, no meio das luzes ofuscantes que a Vida teima em aceder, e apontar directamente à vista. Olho, mas nunca encontro o que procuro.

Pessoas genuínas. Que tenham sempre a mesma cara, vistas de qualquer ângulo. Pessoas fraternas. Pessoas que a Vida ainda não mastigou. Onde estão as pessoas que, de facto, se interessam com as outras? Que as querem conhecer? Que estão sempre ali. Pessoas que olham para as outras pessoas, e vêem… pessoas.

A Vida abriu uma fábrica de pessoas, formatadas para ser uma pirâmide: elas próprias à cabeça, e uma base que vai alargando conforme o grau de importância que julgam que cada um pode vir a ter, independentemente da veracidade prática desse julgamento, onde não há direito a defesa, e muito menos a recursos para outras instâncias.

Este mundo não é para anjinhos, para os bonzinhos, nem muito menos para os disponíveis. Porque a Vida não quer. Introduziu um modelo que se aceita como o correcto.

E nesse mundo safam-se os espertos, lixam-se os restantes, coleccionados como degraus de escadas, que não vão levar a lugar algum. Que acabam em portas pesadas, fechadas. Ou a espaços amplos onde, finalmente, possam olhar, para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo, para trás ou para a frente, sem que vejam mais alguém. Ficaram sozinhos, sem conteúdos. Sem virtudes, sem diferenças, sem discussões, sem enganos e aventuras.

Porque aí já a Vida os mastigou. E cuspiu para a borda do prato. Porque à Vida não lhe faltarão os dentes para mastigar desilusões para os resilientes.

Dêem o Nobel a Deus

|Tnia Rei|
Naqueles dias, Deus, entidade de poder e paciência infinitos, estava, por mais estranho que possa parecer, entediado. 

A Sandra descobriu que o marido, António, andava enrolado com a colega de trabalho, Susete, porque viu uma mensagem no telemóvel do sacana que dizia “tenho saudades de fazer amor contigo”. O Benfica empatou. Veio um furacão que arrasou cidades inteiras, e a ajuda humanitária teima em não chegar.

Tudo porque Deus estava aborrecido.

Somos milhões, biliões, triliões neste Mundo. Muitos nem têm registo no cartório, mas Deus, esse senhor perspicaz, tem o nome de todos na ponta da língua, sabe da família, e tem acumulada a função de escrever para todo e qualquer um o guião de uma vida inteira.

Louvo a imaginação de Deus. Claro que algumas existências são mais banais, mais estandardizadas. Ainda assim, note-se que Deus sabe a estória de cada um de cor. Imaginem-se a ser atendidos desta maneira numa repartição pública, com uma relação com o funcionário sem segredos, onde não precisam de explicar nada… Que maravilha.

Imagino Deus num espaço muito branco, com mesas brancas, um céu branco (não há telhado), rodeado de funcionários vestidos de branco, com cabelos aos caracóis, de tonalidades que dançam entre o loiro platinado e o castanho claro, agarradinhos à cabeça e imensamente bem penteados. Não há no chão uma única marca provocada pelo arrastar das cadeiras ou pela sola das sandálias dos anjos. É tudo imaculado. Tudo branco de fazer doer a vista, como num anúncio de um detergente ou lixívia. Deus, mais alto do que todos, por ser mais velho, gesticula muito enquanto fala.

Dita, ao mesmo tempo, estórias de vida com detalhes, datas, horas, momentos-chave. Cria um enredo com muitas personagens. Rodriguinhos é o que não faltam, como se quer, cheios de emoção, de lábia barata, de sal para temperar. E nunca, mas nunca, baralha as estórias. Cada um tem o destino que Deus escolheu. Precisamente aquele, sem margem para reclamação ou engano. Era assim que tinha que ser, porque cada passo dado em cada encruzilhada já estava predestinado. Não há livre arbítrio que nos valha. Isso é a treta desta falsa democracia divina. É, na realidade, um brainwash, em que acreditamos que fazemos o que nos dá na real gana, ignorando o facto de Deus ter andado com uma trabalheira desgraçada para nos riscar as linhas.

Era, até, um desrespeito poder ter uma vida diferente daquela que nos foi escrita. Estávamos a amassar, como uma folha antiga que se deita ao lixo, o esforço de Deus, para que nada nos falte. Construiu uma espécie de linha férrea onde abundam carris e óleo, e é só ir, com algumas paragens para manutenção.

[post_ad]
Deus, contudo, tem por hábito escrever também sozinho. Leva uma chávena de café forte, e vai para o seu gabinete, que é branco na mesma, mas que tem uma escrivaninha de madeira escura. É parecida com a do São Pedro, que recebe com pompa as alminhas no Céu, mas a de Deus tem mais gavetas e uns desenhos esculpidos nas pernas. Tem muitas folhas rasuradas, cheias de anotações. Estas são as estórias de alguns, que ele gosta mais ou menos, ou que têm um temperamento difícil, e é necessário andar com ajustes.

Deus, reparem, não tem tempo para mais nada. Dedica-se à escrita com fervor. Não dorme porque não precisa, mas também porque não tinha como, nesta lufa-lufa.

Em 2016, Bob Dylan fez História e venceu no Nobel da Literatura. Decisão ousada e polémica, com um músico a fazer uma rasteira a quem não quer saber de métrica.

Deixo um apelo à Academia – não podemos continuar a ignorar esta carreira brilhante. Façam o favor de este ano voltarem a marcar a diferença, e dêem o Nobel a Deus.

Não garanto que ele o venha receber, ou que, sequer, ligue a agradecer. Ainda assim tenho para mim que talvez, até, esteja Ele já a rabiscar sobre isto.

Relações dos chineses

Quando era pequena, lembro-me do quão fascinante me parecia ir a uma loja dos 300. As lojas chamadas assim na gíria, vá. Tinham outros nomes, mais ou menos normais, mas depois nas vitrinas estavam sempre números garrafais, que nunca chegavam a um conto (mil paus, jovens, são hoje 5 euros).

Estas lojas estavam à pinha durante a época do Natal e nas festas das localidades. Porque lá dentro havia de tudo, desde pechisbeques para servirem de presentes para a tia-avó que não se gosta ou uma taça para pôr salada. Reparem como, hipoteticamente, estamos a falar de um só objecto, o que tinha o sumo à variedade que anunciei.

Eu achava aquilo espectacular. Cada fila tinha coisas específicas. Era a secção de cozinha, da roupa interior, de casa de banho, de decoração e de bricolage. À entrada estavam as utilidades de mulher, como perfumes cheios de álcool, batons e vernizes. Havia, calhando, uma prateleira de higiene, onde se vendia Reglex, sem mais nenhuma opção.

O que me parecia incrível era a diversidade. Em boa verdade era uma espécie de centro comercial. Mais ou menos, pronto. Depois, o mercado asiático invadiu isto tudo. Muitos comerciantes sofreram, com a indignação à flor da pele, e cerraram portas. Passamos nesta fase a história das lojas de produtos baratos a ter uma nova designação: as lojas dos chineses.

Na realidade, apenas se mudou a nacionalidade dos lojistas. Porque, lá por dentro, as coisas estão bastante iguais, à excepção da musiqueta de fundo, que passou a ser cantada por mulheres de vozes fininhas como as dos anjos e umas letras muito parecidas à introdução dos desenhos animados dos anos 90. Na versão anterior não me lembro se havia ou não música de fundo. Provavelmente só tínhamos para ouvir a conversa da empregada de caixa com a vizinha do lado.

[post_ad]
A qualidade dos artigos continua a ser muito duvidosa. O que nunca nos impediu de comprar uns collants ou uma moldura, assim “às pressas”, dizemos, e “num desenrasque” a um preço “em conta”. Algumas coisas, ou todas, não esperamos (pois não?) que tenham um tempo de vida útil considerável. Assim, dali a uns dias já vamos ter que ir comprar mais do mesmo. O uso e o desgaste ali acusam rápido, e dizemos que, da próxima, mal aquilo se estrague de vez, vamos a um comércio a sério, da especialidade, e vamos trocar o artigo do desenrasque por um de bom material.

Mas, custa menos, está ali à mão, dá para levar mais uns collants, pelo sim pelo não, encontramos bugigangas que não sabemos bem para o que servem, apesar de terem um efeito hipnotizante, e, porque sim, levamos mais um bonequinho de colar no frigorífico, que é tão giro. Então, como nos fartamos de ver vantagens, optamos sistematicamente pela mesma solução reles. Uma altura, tive um tamagotchi, que era um animal virtual.

Estava na moda. Foi a única vez que tomei conta de um dragão. Os meus pais compraram-me um bom, que levava uma pilha de relógio maior, uma espécie de bateria. Não vos sei explicar. E, além daquilo ser caro, era diferente. Então arranjei um mais barato, que era um bicharoco não definido. E, que me lembre, não durou nada. Uma má troca que só percebi bem mais tarde, quando senti falta do meu dragão cor-de-laranja (o plástico era dessa cor, que na minha infância eram só brinquedos analógicos).

Em determinado ponto vamos achar que aquilo é que é. Que, mesmo comprando 3 vezes o mesmo artigo no espaço de um mês, estamos a fazer bons negócios. E ainda nos gabamos, pobres tolos, aos amigos. Foi o meu caso com o tamagotchi.

Tenho uma teoria que hoje vou partilhar com vocês: com as relações tendemos a fazer o mesmo. A inclinação actual é para que se cultivem relações sem qualidade, rápidas, porque estão ali à mão. Sabemos, numa clarividência que fingimos não ter, que essa ditosa relação não tem futuro. Nem nós lhe queríamos uma vida longa. Num ápice vai-se esgotar, vamos perceber que, afinal, raios, não encaixa no espaço para onde a tínhamos planeada, não é da mesma cor da nossa madeira da sala, e que metade das funcionalidades vinham já avariadas. Ou nós não sabemos funcionar com aquelas coisas, com instruções em letrinhas miudinhas, inclinadas e cuja língua à escolha mais parecida com a nossa é espanhol traçado com Google Tradutor.

O que vamos fazer? Vamos a uma superfície de competência declarada na aquisição de relações? Não. Vamos à mesma loja, procurar numa outra prateleira, porque agora aquilo está misturado e podemos não ter visto bem. Se calhar, no meio da tralha toda, está lá algo que nos interesse, de facto.

Ou então, que nos desenrasque.

O tempo e a paciência

|Tânia Rei|
O que mais controla a nossa vida, a limita e a oprime, é o tempo. Curioso que seja uma convenção humana a causar tanto embaraço. Os humanos têm passado toda a existência a tentar contrariar o tempo. Seja a reverte-lo, a atrasá-lo ou a aniquilá-lo, com seres que vivem para sempre, poções mágicas ou águas milagrosas, que apagam rugas e tiram anos de cima.

Tudo para quê? Para que possamos ter mais tempo terreno, para fazermos mais do mesmo, só que sem a preocupação das horas, dias e anos. Ora, eu assumo-me como uma pessoa impaciente. Talvez defeito de profissão, gosto de imediatismo, dizer ao mesmo tempo que se faz. Por isso para mim a vida eterna não ia resultar. Não me imagino com uma paciência tão santa, tão serena, tão madura, que me permitisse deliciar-me com o dom da espera.

O tempo, o nosso tempo, o que temos certo e contado, é o que de mais valioso podemos dar a alguém. O tempo e a disponibilidade. É a maneira mais subtil e verdadeira de mostrar quem é importante para nós. Empregar tempo numa pessoa, com aquela pessoa e não uma outra, deve ser encarado como um privilégio por quem o recebe, um agrado sem preço. Um agrado mútuo, também, porque do outro lado está-se a despender exactamente o mesmo tempo. Reparem, estamos ambos pagar a peso de ouro. Pagamos aquele momento com tempo. E esse, quando vai, não volta mais.

Há uma anedota, daquelas de estereótipos, em que duas pessoas estão de um lado de uma estrada, uma estreitinha, estilo caminho rural. Na outra berma, da passagem delgada, está uma nota de quinhentos euros. “Se o vento muda, ficamos ricos”, diz um para o outro. E continuam pacatamente, à espera que a brisa vire, e altere algumas linhas da nossa vida.

Pela primeira vez, não estou do lado de ninguém. Nem dos, como eu, apressados, nem como quem consegue esperar para saber se o amanhã traz, ou não, algo de assinalável.

Prefiro agora associar o tempo a pessoas: há pessoas por quem vale a pena esperar, porque valem o nosso tempo; há pessoas que são, somente, uma perda de tempo; há pessoas que só de pensar em usar algum do nosso tempo com elas já é uma perda de tempo; há pessoas que se perdem no tempo; e pessoas que nos fazem perder a noção do tempo.

O tempo foi a pior invenção humana de todos os tempos. E a paciência a pior invenção celeste. E não se misturam. Ter tempo e não ter paciência, não ter tempo e ter paciência, ter tempo e ter paciência, não ter tempo nem paciência. Quatro combinações, quais sabores de bolas de gelado, prontas para atiçar os nossos sentidos.

“O teu coração é tão negro como a noite”

|Tânia Rei|
Tenho um amigo que diz que, às vezes, são as palavras que nos dão a mão, para que as usemos. É o caso deste título, que, na realidade, é a tradução do nome de uma canção com a voz de Beth Hart com o guitarrista Joe Bonamassa.

Tenho mais amigos, que dizem coisas igualmente espectaculares. Todos temos. O que é óptimo. E notem que, diariamente, nos cruzamos com tanta gente, trocamos ideias, às vezes só a ouvir e a ver o que nos rodeia. E só uma ínfima parte destas pessoas, que vemos e ouvimos, acabam por ganhar um lugar na nossa vida. E não digam que os nossos amigos, conhecidos, amores e desamores, entraram na nossa vida “porque sim”. Não há aqui acaso. E um fez mais do que o outro para que isso acontecesse, numa fase inicial pelo menos. Uma das pontas deu o primeiro passo, e lançou a corda que havia de unir duas vidas, em tantos sentidos quanto os que pudermos imaginar. Escolhemos agarrá-la. Deixamo-nos ir.

Esta é a verdade sobre como criamos ligações. A verdade sobre como se perdem, como se quebram… Bem, essa é bem mais dura.

Certa vez, escrevi-os eu que somos responsáveis por escolher entrar na vida de alguém, e que por isso é, no mínimo, de bom-tom, avisar se estivermos de saída. Não simplesmente esperar que, depois de meia dúzia de galos na cabeça, a outra parte perceba que, afinal, não há nada atrás da parede que quis a todo o custo partir. Muitas vezes, acabam-se ligações com gritos, vozes crispadas, qual bruxa dos contos de fadas, que pragueja sobre o futuro pouco risonho do ofendido. Outras vezes, faltam palavras, faltam forças para argumentar.

Temos a mania de ludibriar os outros. Fazer de conta, para conquistar um lugar. Não percebo porquê fazer tamanho esforço, quando, de facto, não há a pretensão de ficar. E, numa história lugar-comum, sempre fazemos como as crianças, e avisamos quando temos feridas a curar. Dizemos onde dói, e um alarmante “não toques aí!”. E, tal como crianças travessas que todos somos, é justamente onde vamos apertar, mal tenhamos essa oportunidade. É cruel. É feito por um coração negro. E deixa outro coração mais negro ainda.

Há corações negros em demasia. Tantos que se pudéssemos ver o coração, no sentido, obviamente, figurado, de quem nos cruzamos, iriamos perceber que é algo como olhar para uma floresta queimada pelo fogo. E cravejada de sal. Está estéril.

Sempre tive como máxima acreditar nas pessoas. Porque, enfim, gosto que acreditem em mim, em todos os sentidos, por isso acho justo.

Tendencialmente é confundido com excessiva devoção e ingenuidade. Não me tomem por lorpa. Aliás, quem o é? Sabemos quase sempre.

Outra história lugar-comum é alguém que conhece outro alguém, que julga diferente de todos os alguéns que jamais pisam o mundo. Que olha diferente de todos os olhares. Que ouve com ultra-som. Que tem, enfim, um interior que vale a pena conhecer. E depois de aberto o peito, de expostas as entranhas, descobrimos um coração negro, que deixa o nosso mais negro.

Dia após dia mais negro. Menos crente. Menos palpitante. Dia atrás de dias, noite atrás de noite, até que só reste cinza, e nada mais em que acreditar.

As mulheres e os homens que as ignoram

|Tânia Rei|
Acho que tenho já vindo a partilhar com vocês, caros leitores, esta minha admiração para com o facto de existirem manuais à venda em qualquer esquina sobre coisas estapafúrdias, e que, sabemos à partida, são impossíveis, como, por exemplo, evitar a morte.

O que me causa mesmo mais espanto é que ninguém se dedique a escrever sobre o que interessa, que faça serviço público, um bem verdadeiro à humanidade.

Já vos explico.

Desde que o mundo é mundo que as fêmeas repetem a frase “eu juro que não o entendo”, quando o assunto tem a ver com homens. Na Pré-História, enquanto os homens saíam para caçar, as mulheres ficavam a falar mal deles, em grupo, e a partilhar experiências. E o processo mantem-se. Um bando de mulheres estará sempre, em algum ponto, a afiar facas. Cenas de gajas, enfim.

Os cânones mudaram, quando falamos de mulheres e homens bem resolvidos e sem aquelas ideias absurdas que tendem a perdurar, ligadas a sexismos e machismos. O que não muda é mesmo a quase necessidade do implicanço no feminino.

Os homens também refilam por causa do comportamento das mulheres. Sei que sim. E por coisas sem sentido, quando processadas pela mente de uma mulher. Aliás, tenho para mim que há homens sensíveis, e que é contraproducente partir do princípio de que os homens só querem loucuras com as miúdas. Ficaríamos surpreendidas se inquiríssemos os nossos amigos sobre o que não gostam nas mulheres, pois iríamos verificar que as queixam não incluem as palavras “mamas”, “rabo” e “grandes”. O único problema é que, sejam lá quais forem os dilemas masculinos, para a mulher, por vezes, o simples facto de o homem que detém a sua atenção e o seu afecto respirar é já motivo de inquietação.

Resolvi, homens, fazer eu uma lista sintética sobre aquilo que vocês fazem que irrita as mulheres:
-Tudo;
- Nada.

Pronto! Concisa e realista.

Agora a sério. A pior coisa que os homens fazem às mulheres, que as traz capazes de vos querer partir a cara, a casa e o carro, é… ignorá-las. Sobre isto é que devia haver um manual! Uma mulher que se sente ignorada e, por consequência, rejeitada, desperta a amazona que vive no seu seio. Sintam que isto é ligeiramente perigoso.

Uma mulher ignorada nível médio vai responder “não estou nada” quando notarem um distanciamento na próxima conversa, e tiverem a estúpida ideia de lhe dizer que ela está diferente com vocês. Vocês sabem que está, e sabem porquê. Temos que parar de agir como que se fazer de conta que não sabemos o que fizemos de mal ao outro espécime mudasse o ocorrido. Uma mulher ignorada nível supremo… bom… nunca a conhecerão muito bem, porque mal ela sinta que não tem a vossa atenção, vai pôr-se a milhas, e nunca mais vos fala. Do outro lado, uma mulher que não se preocupa se tem a vossa atenção ou não, i.e, ignorada nível baixo, não está assim tão interessada em vocês como queriam crer.

“Ai, o que eu mais odeio numa mulher é que seja fútil, e que só se preocupe com roupas e pechisbeques”, batem os homens no peito. Mentira! Deixem de tentar parecer simplistas. Seja ela dada a maquilhagem e a farpelas da moda, ou use galochas e um penteado despreocupado, um homem só conversa a fundo com uma mulher, só se interessa com o que ela pensa e quer, quando tem com ela uma conexão mental e/ou emocional. Caso contrário, o espécime masculino faz aquilo que faz com o resto do universo: olha, superficialmente, e com memória de peixe. Isto não é uma crítica destrutiva, alerto, é que a atenção de um homem é o mais difícil de conseguir, e é aquilo que as mulheres mais almejam. Porque só se ignora o que/quem é descartável; se ela se sente ignorada é porque é descartável; se ela é descartável então não é importante para o homem em questão; por isso, ele ignora-a para lhe mostrar que ela é descartável; logo, eventualmente, ela vai sentir-se rejeitada, porque se sente, em primeiro lugar, ignorada. Cria-se aqui uma espécie de pescadinha de rabo na boca, sendo inúmeros os caminhos para chegar até aqui, e poucos os que nos levam a sair desta realidade viciada.

Falem-me agora dos clichés que se continuam a apontar aos homens, entre eles: dormem depois do sexo, não baixam a tampa da sanita, só pensam em bola, não querem relações sérias. Exemplos que espelham o quê? Falta de atenção. A mulher quer falar depois da parte carnal – ele dorme – ela sente-se ignorada; Não baixa a tampa da sanita - não pensou no sofrimento dela se, ao usar a retrete, não reparar e tiver um choque térmico nas partes ao sentar-se – logo, está a ignorar as suas necessidades e diferenças; Diz que quer ver o futebol - a equipa de 11 matraquilhos é mais importante do que ela – isso mesmo, entenderam - está a ignorá-la; Não quer uma relação séria com ela - anda aqui e além a molhar o pincel – está a mandar-lhe sinais claros de que, dentro em breve, a vai ignorar. Bem-vindos à retorcida mente feminina!

Se querem afastar uma mulher, ignorem-na. Provam-lhe desta maneira, por A + B, que ela é não é merecedora que lhe despendam tempo e energia. E ela vai odiar-vos para sempre. Para muitas, faça-se jus à verdade, não resulta a treta de falar e ser sincero, pelo que este método é o mais eficaz. Porque se há coisa em que as gajas são boas é a ler nas entrelinhas, principalmente quando não têm lá nada escrito. Algo assim “Se calhar ele disse que não me quer ver mais porque está inseguro” ou “sei que ele gosta de mim” e remata com o sem-preço “eu juro que não o entendo”.

Se querem manter uma mulher na vossa vida, pois arranjem tempo para ela, para a fazer sentir-se incluída, importante, apreciada e, acima de tudo, insubstituível. As mulheres adoram sentir que se esforçam para cumprir estes itens, para as conhecem melhor, para partilharem momentos com elas, a todos os níveis. E, acreditem, elas vão corresponder, sem exageros nem histerismos, ali numa categoria que roça a perfeição (na maior parte dos casos, pelo menos).

Ignorem uma mulher, e vão deleitar-se com o lado mais negro daquele ser, que parecia tão sereno, fofinho e extremamente sexy. Comprem armaduras, se pretenderem regressar. Melhor, não voltem. É que a única coisa que mulher alguma perdoa nem esquece (entre uma infindável lista) é o facto de ser ignorada, principalmente se ela vos abrir o coração, e estiver a expor-se perante vocês.

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN