Como pode a Arqueologia minorar os impactos resultantes das alterações climáticas?

Aprender com o passado. Este é um conselho múltiplas vezes referido, mas muito poucas vezes colocado em prática. Mas não é isso que faz uma equipa de investigadores da Universidade de Washington, que está a utilizar  o conhecimento sobre o passado para precaver impactos ambientais do futuro. 

Arqueólogos desta universidade americana estão a desenvolver uma nova investigação que utiliza a tecnologia de sofisticados computadores para criarem modelos de aprendizagem capazes de explorar a forma como as sociedades do passado responderam a processos diferenciados de mudanças climáticas.

Esta investigação estabelece uma ligação entre os antigos climas e dados arqueológicos, com o objetivo de poder ajudar as comunidades agrícolas atuais na identificação das culturas mais adequadas e estratégias adaptativas às novas condições climáticas, sobretudo em áreas geográficas mais diretamente ameaçadas pela seca, por condições meteorológicas extremas e por outros desafios ambientais.

Segundo os mais diretos responsáveis por esta nova investigação, Jade d’Alpoim Guedes, Stefani Crabtree, Kyle Bocinsky e Tim Kohler, que utilizam técnicas de análise territorial baseados nos mais recentes avanços tecnológicos da modelagem computacional, esta técnica permite ”uma capacidade de análise sem precedentes para identificar o modo como as sociedades do passado reagiram a situações de alterações drásticas do meio ambiente em que viviam”.

O trabalho destes investigadores, e particularmente de Tim Kohler, tem sido considerado como pioneiro, tendo já sido desenvolvidos modelos para estudar interações entre povos ancestrais do sudoeste americano com o seu ambiente.

O Projeto Village Ecodynamics Project , lançado em em 2001, é disso um eloquente exemplo. Nele, os investigadores tentam perceber variantes de reação e comportamento humano face a níveis de precipitação, tamanho de uma população e esgotamento dos recursos disponíveis.

Ao comparar os resultados de modelos baseados em dados e evidências arqueológicas reais, os arqueólogos são capazes de identificar as condições e as circunstâncias ambientais que condicionaram as antigas civilizações ao redor do mundo em períodos de crescimento e em períodos de declínio. Em termos de exemplo, um dos seus modelos demonstra como a seca, a caça e a competição entre as populações no antigo Egito levaram à extinção de muitos mamíferos de grande porte à volta de 3.000 aC, ou como, num outro modelo, se tenta perceber como os padrões de habitat no Tibete estão a afetar a erosão.

Estes modelos são como um jogo de vídeo, no sentido de que é você que pode programar certos parâmetros e estabelecer regras para gerar uma simulação e depois deixar os seus agentes virtuais jogar para que esses diferentes parâmetros cheguem a uma conclusão lógica. Esta técnica permite-nos simular uma previsão da eficácia adaptativa de diferentes culturas agrícolas face a novas condições ambientais, mas também nos permite simular a forma como as sociedades humanas podem evoluir e impactar com o meio ambiente“, refere um dos investigadores ligado ao projeto, o arqueólogo Stefani Crabtree.

A distribuição de espécies ou a modelagem de parâmetros para estudar nichos agrícolas regionais é outra tecnologia que os arqueólogos estão a utilizar para prever onde as plantas e outros organismos cresceram bem no passado e onde elas podem ser úteis nos dias de hoje. Bocinsky e d’Alpoim Guedes estão a usar esta técnica para identificar culturas pouco usadas ou, em alguns casos, completamente desaparecidas e que poderão ser úteis em áreas onde o clima se está a tornar mais quente, em áreas afetadas pela seca prolongada ou em situações de dificuldade de abastecimento alimentar.

Uma dessas culturas, que identificaram a partir de dados arqueológicos, é uma variante de milho altamente tolerante à seca que os índios Hopi do Arizona adaptaram ao longo dos séculos para crescer e prosperar produtivamente em solos pobres.

E por isso, Kyle Bocinsky faz questão de salientar que os modelos estudados por esta equipa de investigação mostraram que “o milho dos Hopi poderá crescer muito bem nas terras altas da Etiópia, onde um de seus alimentos básicos, a banana da Etiópia, está a ser afetada por emergentes pragas e diferentes doenças resultantes de vagas de calor intenso. Cultivar o milho dos Hopi que é resistente à seca, em vez das culturas tradicionais, poderá, no futuro, tornar-se crucial para a sobrevivência humana em outros lugares afetados pela mudança climática“, sublinha Bocinsky.

Os investigadores também usaram um modelo de integração para uma agricultura de nicho a fim de identificar uma fonte de alimento alternativa viável no planalto tibetano.

Estes cientistas estão apenas a começar a explorar o potencial da modelagem baseada em dados recolhidos pela arqueologia e dizem que no futuro será cada vez mais importante ”a combinação do trabalho de campo da arqueologia tradicional com técnicas de modelagem baseadas em dados informáticos, de forma a que esta técnica ajude a gerir mais inteligentemente os nossos recursos, as nossas interações nos ecossistemas e evitar, desta maneira, erros passados a respeito da mudança climática“.

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