Tempo de prometer

Hélio Bernardo Lopes
As eleições que aí vêm, destinadas a escolher os deputados à Assembleia da República, servirão para dar aos portugueses mais atentos diversas indicações. E uma dessas indicações será a pontuação a conseguir pelos partidos ora no poder e que conduziram a generalidade dos portugueses a uma situação de terrível sofrimento e de enorme incerteza.

Notam-se já, como se percebe às claras, mudanças táticas diversas, destinadas a levar o eleitorado à certa. Desde logo, as constantemente apregoadas facilidades, a todos os níveis, que poderão ser concedidas no ano que se aproxima. Como teria de dar-se, o Primeiro-Ministro lá nos diz que, se assim puder ser, não deixará de conceder as referidas facilidades ou benefícios. E aqui o problema não está na inexistência de quem acredite em tal discurso velhinho e com barbas, mas na quantidade dos que venham a enfiar o barrete, como usa dizer-se.

Desta vez, sempre com a preciosa ajuda presidencial, aí nos surgiu o abaixamento dos impostos. Mas, disse o Presidente da República, não poderão ser apenas alguns, porque assim se criariam injustiças. Num ápice, qual réplica ecoante, logo o Primeiro-Ministro nos veio dizer que irá mesmo ser assim, desde que a situação do País o permita. E, como qualquer um percebe facilmente, neste ano que aí vem a situação do País vai permiti-lo...

Simplesmente, se os impostos baixarem quem vai lucrar mais serão, obviamente, os de maior riqueza, porque são estes que mais têm, percentual e justamente, vindo a ser tributados. Ao mesmo tempo, deixará de entrar nos cofres do Estado o atual montante de dinheiro, pelo que surgirão acrescidas dificuldades para o Estado Social, que naturalmente atingirão os mais débeis, sendo que hoje já quase deixou de existir classe média. E do PS, como se pôde perceber, o que sobreveio perante tal proposta foi o silêncio...

No meio de tudo isto surgiu agora uma nova prática política: perante um qualquer erro grosseiro de governação, com consequências sociais muito graves, lá nos surgem os titulares das pastas em causa a pedir publicamente a sua desculpa. É, indiscutivelmente, a segunda edição do histórico programa televisivo, PERDOA-ME, de que um dos primeiros atingidos terá sido Joaquim Ferreira do Amaral.

Mas estes dois casos mais recentes – eles são às dezenas – de pouco servem, porque os que assim procedem ficam a anos-luz de Walter Rosa, António Vitorino ou Jorge Coelho, que souberam tirar as consequências democráticas do que se passou nos seus ministérios ou ao seu redor. Loiças de qualidade política muito diferente. Uma realidade que me causa uma graça terrível sempre que recordo as façanhas do Partido Comunista Reconstruído...

Pois, caro leitor, tudo isto é assim mesmo, mas a verdade é que são os portugueses que, no próximo ano – e no seguinte – se irão pronunciar sobre o que vai tendo lugar no nosso País e nos que encimam as nossas instituições de soberania. Que os portugueses nunca dedicaram grande atenção ou interesse à democracia, bom, eu mesmo pude já salientá-lo. Mas os dois anos que aí vêm irão mostrar se o nosso eleitorado continua a achar que a democracia vale a pena, ou se, afinal, se contenta com migalhes, dadas em nome de um (inimaginável) futuro melhor.

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