A Festa do Charolo de Outeiro

[vc_row][vc_column width="1/6"][/vc_column][vc_column width="2/3"][vc_custom_heading text="TEXTO E MULTIMÉDIA: ANTÓNIO LUIS PEREIRA" font_container="tag:p|font_size:20PX|text_align:center|color:%23777777" google_fonts="font_family:Source%20Sans%20Pro%3A200%2C200italic%2C300%2C300italic%2Cregular%2Citalic%2C600%2C600italic%2C700%2C700italic%2C900%2C900italic|font_style:200%20light%20regular%3A200%3Anormal" css=".vc_custom_1593455442741{margin-top: 20px !important;}"][vc_separator color="black" el_width="30"][vc_column_text css=".vc_custom_1593451032434{margin-top: -20px !important;}"]Cumprida anualmente no primeiro sábado que imediatamente se sucede ao dia de Ano Novo, a Festa de São Gonçalo de Outeiro congrega o labor e o empenho coletivo de dez mordomos que são os responsáveis por toda a logística relativa à manutenção desta ancestral tradição, cujas origens ainda não estão historicamente fixadas, mas que se pensa remontarem ao século XVIII.[/vc_column_text][vc_separator color="black" el_width="30" css=".vc_custom_1593380901708{margin-top: -20px !important;}"][/vc_column][vc_column width="1/6"][/vc_column][/vc_row][vc_row css=".vc_custom_1593461392263{margin-top: 30px !important;}"][vc_column width="1/4"][bs-user-listing-4 columns="1" title="" icon="" hide_title="1" heading_color="" heading_style="default" title_link="" filter_roles="0" roles="" count="1" search="" order="DESC" order_by="user_registered" offset="" include="4" exclude="" paginate="none" pagination-show-label="0" pagination-slides-count="3" slider-animation-speed="750" slider-autoplay="1" slider-speed="3000" slider-control-dots="off" slider-control-next-prev="style-1" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" custom-css-class="" custom-id="" override-listing-settings="0" listing-settings="" bs-text-color-scheme="" css=""][/vc_column][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Outeiro é uma pequena povoação que fica à margem imediata da estrada que liga Bragança a Miranda do  Douro, bem próximo e em antecedência da vila de Argozelo, uma outra localidade cuja história está marcada pela influência dos Judeus.

Em Outeiro não há referências a qualquer comunidade judaica, mas no morro que se desenvolve sobranceiramente na direção nascente dos dois principais núcleos do atual povoamento ergueu-se, pelo menos até meados do séc. XVIII, um importante castelo cujas origens se fixam no período medieval.

O interesse e a importância histórica de Outeiro não reside apenas no seu castelo, outrora designado como o Castelo de Outeiro de Miranda. Quem passar na antiga estrada de ligação 218-2, vai deparar-se com um majestoso templo, a Basílica de Santo Cristo, a única basílica portuguesa situada em espaço rural.

Mas a aldeia de Outeiro tem muito mais para mostrar e oferecer ao caminheiro ou viajante que se disponha a descobrir estas terras recônditas e belas que se desenvolvem numa faixa territorial fronteiriça do interior transmontano.

Uma das tradições deste povo com maior interesse é a Festa de São Gonçalo, ou "Festa do Charolo", uma manifestação do solísticio que na região se designa como o “Ciclo das Festas de Inverno”. Cumprida anualmente no primeiro sábado que imediatamente se sucede ao dia de Ano Novo, o acontecimento congrega o labor e o empenho coletivo de dez mordomos que são os responsáveis por toda a logística relativa à manutenção desta ancestral tradição, cujas origens ainda não estão historicamente fixadas, mas que se pensa remontarem ao século XVIII.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/4"][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row][vc_row full_width="stretch_row_content_no_spaces"][vc_column][vc_single_image image="6456" img_size="1600x504"][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width="1/4" css=".vc_custom_1593461411247{margin-left: 0px !important;}"][bs-push-notification style="t2-s1" title="Subscribe for updates" show_title="0" icon="" heading_color="" heading_style="default" title_link="" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css=".vc_custom_1593461435602{margin-bottom: 300px !important;}" custom-css-class="" custom-id=""][zoomsounds_player source="https://ia601509.us.archive.org/16/items/explicacaodafesta/milagredosgoncalo.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="Depoimento de Ramiro Romão" songname="Lenda Fundadora" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="6459" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_column_text css=".vc_custom_1593380588442{margin-top: 10px !important;}"]Ramiro Romão, mordomo da festa, fala-nos sobre a lenda relativa ao culto de São Gonçalo.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][vc_column_text css=".vc_custom_1593461960323{margin-left: 20px !important;}"]O culto a São Gonçalo começa por ser a primeira curiosidade neste período de comemorações regionais onde também prevalece a figura de Santo Estêvão e as festas relacionadas com o Reis e com o Carnaval. Esta será, portanto, uma primeira mas desafiadora incógnita em qualquer proposta de investigação que pretenda obter algum esclarecimento sobre as origens desta tradição que, à semelhança de tantas outras que ocorrem no concelho de Bragança e por todo o território do Nordeste Transmontano, mistura, de forma extraordinariamente humana, o sagrado e o profano.

São Gonçalo (1187-1262), foi um santo que viveu em território português e sobre o qual existe o consenso geral de ser um excelente pregador dominicano que acabou por se instalar junto às margens do rio Tâmega, onde atualmente se ergue a Igreja e o Convento de São Gonçalo, em Amarante, para a partir daí pregar o evangelho.

Ao que parece, a sua missão pregadora obteve um sucesso à escala permitida pela época e o seu posterior culto, após a beatificação, paulatinamente se espalhou por todo o Norte de Portugal e mesmo pelos domínios ultramarinos detidos por Portugal, de que foram exemplos a índia e o Brasil. Além do epíteto de “Casamenteiro das encalhadas”, as orações a São Gonçalo revelam, sobretudo, a procura da cura, o controlo das calamidades naturais, a proteção dos condenados, a proteção da miséria, a recuperação de bens perdidos e a interferência divina para afastar os perigos e dar saúde aos anciãos.

Como chegou o culto de São Gonçalo até Outeiro não se sabe muito bem, apenas se constata que a evocação deste santo é feita num período de festa revigoradora, de uma festa ritual que enfatiza o renascimento cíclico dos elementos congregadores e protetores das comunidades rurais do Nordeste Transmontano, onde os símbolos cristãos e profanos, assim como a música tradicional, tocada por gaita-de-foles, flauta pastoril, tamboril ou bombo, se misturam ordenadamente num processo gradual de comemoração em que quase sempre o pão emerge como o elemento centralizador e de destaque. Esse mesmo pão que no caso de Outeiro surge em forma de rosca ou mesmo de santo, em declarada evocação dos símbolos solares e divinos.

Conta-se, conta-nos o Sr. Ramiro Romão, um dos mordomos da Festa de São Gonçalo de Outeiro, que o culto deste santo e a construção da pequena capela que o acolhe e que se ergue timidamente mesmo em frente à majestosa basílica, começou devido a uma peste que quase dizimou toda a “criação” da aldeia.

“Reza a lenda” que a devoção da população de Outeiro a São Gonçalo remonta aos inícios do Século XVIII. “Por essa altura terá havido aqui um surto de peste, muito usual nesses tempos, e uma vez que não havia tratamentos como há hoje, o povo da altura resolveu, em honra de S. Gonçalo, construir uma capela para que a peste fosse extinta. E, como de facto, isso aconteceu. Foi o milagre de São Gonçalo e passado pouco tempo os animais ficaram todos a salvo, ou seja, a peste desapareceu completamente e a partir de então a festa começou-se a realizar sempre no dia 10 de janeiro que é o dia de São Gonçalo”.

Por este motivo, explicado pela lenda, a população de Outeiro  celebra a sua festa anual em honra de São Gonçalo, tendo posteriormente associado a essa celebração a tradição do "Charolo", num quadro festivo em que se percebe patente os diferentes momentos da festa tradicional transmontana, estando totalmente incorporados os momentos sagrados, como a liturgia cristã ou a procissão, e os momentos mais profanos, como a confeção das roscas e do charolo, o peditório, o leilão, a “Dança da Rosca” ou a “Pandorcada”.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/4"][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_separator color="black" el_width="30" css=".vc_custom_1593453867879{margin-top: 00px !important;}"][vc_custom_heading text="O CULTO DO PÃO" font_container="tag:p|font_size:38PX|text_align:center|color:%23777777" google_fonts="font_family:Source%20Sans%20Pro%3A200%2C200italic%2C300%2C300italic%2Cregular%2Citalic%2C600%2C600italic%2C700%2C700italic%2C900%2C900italic|font_style:200%20light%20regular%3A200%3Anormal" css=".vc_custom_1593453879853{margin-top: 20px !important;margin-bottom: 40px !important;}"][/vc_column][/vc_row][vc_row full_width="stretch_row_content_no_spaces"][vc_column][vc_single_image image="6466" img_size="1600x635"][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width="1/4" css=".vc_custom_1593383379524{margin-top: 150px !important;}"][zoomsounds_player source="https://ia802903.us.archive.org/27/items/explicacaodafesta/confecaopao.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="Depoimento de Ana Quintas" songname="Roscas Feitas com Amor" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="6471" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_column_text css=".vc_custom_1593386661022{margin-top: 10px !important;margin-bottom: 100px !important;}"]Ana Quintas, mordoma da festa, explica-nos como são feitas as roscas[/vc_column_text][zoomsounds_player source="https://ia802903.us.archive.org/27/items/explicacaodafesta/explicacaodafesta.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="Depoimento de Maria Helena Geraldes" songname="As letras dos namorados" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="6474" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_column_text css=".vc_custom_1593386655357{margin-top: 10px !important;margin-bottom: 50px !important;}"]“O charolo era a mocidade solteira que o fazia". Maria Helena Geraldes explica a festa do antigamente[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][vc_column_text css=".vc_custom_1593451271695{margin-left: 20px !important;}"]Tudo começa nos dois dias anteriores ao sábado da festa com a confeção das roscas e a organização dos ramos e do “charolo”. Num salão da junta de freguesia local, equipado propositadamente para esse efeito com forno e amassadeira, os mordomos deitam mãos à cansativa tarefa. Mais de duzentas roscas vão ser amassadas, levedadas e cozidas. Depois de douradas e apetitosas ao olhar são colocadas em acolchoado adorno numa estrutura em forma de andor a que chamam “charolo”.

Ana Quintas, mordoma da festa, explica-nos como são feitas as roscas. “ Logo de manhã os mordomos dirigem-se para o forno da aldeia e cada um faz a sua tarefa. É necessário sumo de laranja, peneirar a farinha, bater os ovos, fermento, manteiga, água e muito amor. Mistura-se tudo e amassa-se. Depois de misturados todos os ingredientes, a massa fica a repousar durante duas horas e meia. Posteriormente cortam-se pedaços de massa à medida pretendida e no entretanto vai-se acendendo o fogo".

Simultaneamente batem-se mais ovos para pincelar as roscas depois de serem moldadas em forma de sol ou em forma de um boneco que pretende a representação do São Gonçalo. Não raro, alguns dos pães de configuração antropomórfica representam também pares de namorados acompanhados de placas com iniciais de nomes para que a bênção do santo recaísse sobre eles.

Noutros tempos, que é o mesmo que dizer há cerca de cinco ou seis décadas atrás, essas representações, e também as placas em pão com a primeira letra do nome das raparigas, eram as mais “mandadas” nas arrematações do leilão de sábado à tarde. Maria Helena Geraldes, mulher já idosa e uma profunda conhecedora da tradição, conta-nos que “quando era nova” o “charolo” era feito só por jovens solteiros, quatro rapazes e quatro raparigas, mas a onda de emigração que se fez sentir sobre região “levou-nos a mocidade toda e tivemos que nos adaptar”. Naquele tempo, retoma a conversa a Srª Maria, “o charolo era a mocidade solteira que o fazia, porque são os rapazes solteiros que levam o charolo. Fazíamos também muito boneco em pão e a rosca tal e qual como é agora. E fazíamos umas placas com as nossas letras iniciais do nome. Aquelas que tinham namorado, os namorados queriam comprar essas placas, os outros rapazes que o sabiam puxavam, porque isto é leiloado, um mandava e outro mandava, que era para fazer pagar muito ao namorado pelo nome da namorada”.

Agora são os mordomos, quase todos de idade avançada, que preparam os ramos e enfeitam o “charolo”. Logo que cozidas, as roscas são dispostas numa longa fila de mesas, “para descansar”. Em toda essa azáfama, que roda integralmente à volta do pão - de um pão que aqui surge como símbolo de ligação ao trabalho e à terra e com um manifesto significado religioso -, não há tempo para descansar. Tudo tem que ser feito de modo a que o pão que resulta de um intenso esforço e labor, o pão que se partilha entre os homens e se oferece ao “Senhor”, seja a dignificação de quem o preparou. Por isso coloca-se toda a entrega na composição daquele andor piramidal que deverá sair para a rua recheado de roscas e encimado por cinco ramos coroadores, onde prolifera a doçaria caseira, guloseimas, frutos secos e também algum fumeiro.

A tarde de sexta chegou ao fim. E enquanto se dá aqui e ali um ou outro retoque no "charolo" e se ultimam os ramos, o brilho nos olhos dos mordomos da Festa de São Gonçalo de Outeiro alumia já a noite espessa que num instante se instalou.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/4"][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_separator color="black" el_width="30" css=".vc_custom_1593380975985{margin-top: 0px !important;}"][vc_custom_heading text="O SÁBADO DA FESTA" font_container="tag:p|font_size:38PX|text_align:center|color:%23777777" google_fonts="font_family:Source%20Sans%20Pro%3A200%2C200italic%2C300%2C300italic%2Cregular%2Citalic%2C600%2C600italic%2C700%2C700italic%2C900%2C900italic|font_style:200%20light%20regular%3A200%3Anormal" css=".vc_custom_1593453923871{margin-top: 20px !important;margin-bottom: 40px !important;}"][/vc_column][/vc_row][vc_row full_width="stretch_row_content_no_spaces"][vc_column][vc_single_image image="6478" img_size="1600x581"][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width="1/4" css=".vc_custom_1593384435250{margin-top: 300px !important;}"][zoomsounds_player source="https://ia801509.us.archive.org/16/items/explicacaodafesta/afestaemverso.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="Depoimento de Zulmira da Purificação Rodrigues" songname="A festa em verso" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="6479" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_column_text css=".vc_custom_1593386637018{margin-top: 10px !important;}"]Zulmira da Purificação Rodrigues construiu em verso todos as fases da Festa de São Gonçalo[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][vc_column_text css=".vc_custom_1593453685535{margin-left: 20px !important;}"]Logo bem cedo, pelo romper da manhã de sábado, um grupo de rapazes e mordomos acompanhados de gaita-de-foles, tamboril e bombo percorrem as ruas da aldeia num peditório para a festa. No outro bairro, um grupo de homens transporta o “charolo” da casa da Junta de Freguesia para a basílica de Santo Cristo , onde é colocado como um autêntico andor para fazer parte da Eucaristia em honra de São Gonçalo, celebrada por volta das 10:30 horas. Um pouco antes começam a chegar os filhos de Outeiro que por razões profissionais ou quaisquer outras habitam na cidade de Bragança. O grande templo da aldeia, húmido e frio, já guarda lá dentro o “charolo” e num instante acolherá o calor e a fé da gente que neste sábado de janeiro vai venerar São Gonçalo.

Após a celebração da missa, segue-se a cerimónia da procissão religiosa que é também acompanhada por música tradicional adequada à situação, onde se faz notar, mais uma vez, o som de gaita-de-foles, da caixa e do bombo. Nesta procissão, que sai da basílica para contornar a pequena capela, o “charolo” segue à frente, logo seguido do andor de São Gonçalo. O percurso é curto, fazendo-se quase sempre em território adjacente ao largo da basílica, mas tendo como ponto referencial a capelinha do santo cultuado. Depois do retorno feito ao interior do templo maior, o andor das roscas seguirá para o largo fronteiro ao edifício da Junta de freguesia, onde a festa haverá de ser retomada logo que todos os comensais repastem o almoço típico do dia de São Gonçalo.

Sendo assim, e porque está a chegar a 1 hora da tarde, coloquemos a atenção na mesa da D. Maria do Céu para onde fomos convidados pelo seu filho António Carlos Bernardo. O Sr. Manuel Bernardo, que é o chefe de família, apressa-se a informar-nos que tudo ali é “caseiro”, até o bagaço que provámos em forma de aperitivo para comprovar a sua qualidade. Entretanto, e num ambiente de agradável conviviabilidade, foi chegando o butelo, as "cascas" ou "casulas" de feijão, os chouriços, a orelheira, os chispes, as batatas e os restantes legumes. Degustámos com gosto este almoço típico de evocação do dia, que regámos regaladamente com um saboroso vinho de uns "pés de vinha" cultivados na encosta do castelo; um tinto produzido sem quaisquer aditivos e com uma graduação superior a doze graus. Informam-nos durante a conversa que esta é a refeição que está presente em todas as casas de Outeiro, por ser a gastronomia típica e da tradição do dia de São Gonçalo.


Ao entrar da tarde já a gaita-de-foles e a batida dos bombos se ouvem junto ao edifício da junta de freguesia, onde vão decorrer todas as “celebrações” profanas. Crianças, jovens e adultos de todas as idades e condições começam agora a juntar-se no largo fronteiro ao edifício público, bebem café no bar da junta e confraternizam entre si. Não tarda, homens e mulheres vão alinhar-se em duas filas, eles com uma rosca erguida ao céu e elas com os braços no ar. A “dança das roscas” é uma das mais interessantes manifestações de exposição do pão que existem na região. Poder-se-á dizer que é mesmo única na aparente expressividade lúdica, embora pareça envolver um conjunto de gestos e formalidades imbuídas de um valor simbólico com significação própria de ritual.

A “dança das roscas” tem como som de fundo a melodia tradicional da gaita-de-foles. Os homens e as mulheres organizam-se em duas filas tão compridas quanto o número de atores que nelas queiram participar. De um lado os homens, do outro as mulheres. O bailado arranca em movimento e cadência, os homens expõem as roscas ao sol e as mulheres dançam de braços erguidos a abanar. Cada fila avança no sentido da outra. Os rostos e os corpos aproximam-se. Depois, num movimento rápido, viram-se de costas, tocam-se "rabo" com "rabo", e troca-se a posição da fila dos homens e da fila das mulheres. A dança repete-se com os mesmos gestos, uma, duas, três, quatro, tantas vezes quanto a duração da música o permitir, até terminar em contagiosa alegria.

https://www.youtube.com/watch?v=C_d-IOcIlpk

Depois de duas ou três danças, cumpre-se a tradição. Agora são as roscas dançadas pela mão dos homens que vão ser partilhadas entre os presentes. Cortam-se grossas fatias e distribuem-se por todos os que aí se encontram. Essa é a altura de partilhar; a altura da comunhão do pão entre homens, mulheres e crianças.

O resto da tarde está reservada ao leilão. As roscas, uma a uma, vão ser vendidas pela maior licitação. O “charolo” encontra-se encostado à parede da junta de freguesia e de lá começa a ser retirado, pouco a pouco, todo o pão. Cinco euros, dez euros, quinze euros e por aí a adiante até a rosca ser entregue à melhor oferta. Este ano não há placas com as iniciais do nome das raparigas e não há rapazes a “mandarem” mais para fazer inflacionar a placa da rapariga amada. Se calhar também já não há namorados em Outeiro como havia antigamente, como no tempo em que era solteira a Srª Maria Helena Geraldes. Mas a figura do São Gonçalo ainda está presente no leilão, surgindo frequentemente alguns bonecos de pão que são quase sempre os mais "mandados" na arrematação.

O presidente da Junta de Freguesia, César Garrido, que acompanha a festa de perto, explica-nos que o dinheiro obtido com o leilão reverterá integralmente para a confraria e também para ajudar a pagar os custos da festa, porque uma festa como esta tem despesas que necessitam de ser saldadas.

A tarde já vai adiantada em Outeiro. Está na hora de entregar a responsabilidade da manutenção da tradição  aos mordomos do próximo ano. Novamente os gaiteiros [icon name="video-camera" class="" unprefixed_class=""] vão percorrer as ruas. As novas nomeações obedecem a uma organização que respeita a estruturação urbana da aldeia. Os próximos mordomos sairão das casas que se sucedem às casas dos mordomos que acabaram a missão. Mais uma vez o ambiente festivo se instala, um significativo número de pessoas, gaiteiros e restantes músicos param em frente das casas do novos nomeados. Toca-se, come-se, bebe-se muito, dão-se abraços e muitos vivas. Quando a noite cair é a Pandorcada que reina. É nessa altura que a festa atinge o auge do profano e num excesso de tudo, dança-se, dança-se, dança-se.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/4"][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row]

Tradições de Páscoa em Trás-os-Montes

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-user-listing-4 columns="1" title="" icon="" hide_title="1" heading_color="" heading_style="default" title_link="" filter_roles="0" roles="" count="1" search="" order="DESC" order_by="user_registered" offset="" include="4" exclude="" paginate="none" pagination-show-label="0" pagination-slides-count="3" slider-animation-speed="750" slider-autoplay="1" slider-speed="3000" slider-control-dots="off" slider-control-next-prev="style-1" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" custom-css-class="" custom-id="" override-listing-settings="0" listing-settings="" bs-text-color-scheme="" css=".vc_custom_1586441596870{margin-top: 30px !important;}"][bs-push-notification style="t2-s1" title="Subscribe for updates" show_title="0" icon="" heading_color="" heading_style="default" title_link="" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css="" custom-css-class="" custom-id=""][/vc_column][vc_column width="3/4"][vc_column_text css=".vc_custom_1586441196039{margin-left: 15px !important;}"]Trás-os-Montes, um amplo território que na atualidade se distribui pelos distritos de Vila Real e Bragança, mantém ainda - resultado de um longo processo de isolamento e de um fraco índice de urbanização-, muitas das tradições que ao longo da sua história se foram cimentando entre as comunidades rurais. A semana que antecede a Páscoa é um bom exemplo das tradições cristãs e pagãs que anualmente se repetem de uma forma cíclica neste território.

Os autos da paixão, a procissão do Senhor dos Passos, as endoenças, as vias-sacras e as queimas do Judas são alguns dos exemplos desses ancestrais hábitos que sobreviveram até aos dias de hoje e que ano após ano se repetem em muitas das nossas localidades.

Estas seculares tradições cumprem-se todas na semana que medeia entre o “Domingo de Ramos” e o “Sábado de Aleluia”, e são, na sua maioria, manifestações fortemente marcadas por sentimentos religiosos, apesar de estar sempre presente um substrato cultural que as relaciona de uma forma inequívoca com a vertente lúdica e pagã que ainda permanecem arreigadas no seio da cultura destas comunidades rurais.

Os autos da paixão e as vias-sacras são expressões coletivas de fé, de uma fé bem sentida, mas onde ainda moram fortes influências de uma encenação provinda do teatro popular, apesar do sentimento predominante ser o luto e a dor pesarosa pela morte de Jesus Cristo; um luto e uma dor que se exprimem através de tons carregados de roxo e de negro, cores essas que expõem tristeza, melancolia, reflexão, penitência e todo o sentimento de perda e de sofrimento que antecipa o mistério pascal. Em todos os casos são recuperadas as catorze paragens que integram as estações da via sacra, e aldeias há que ainda conservam intactos os cruzeiros que representam cada uma dessas estações.

É nos autos da paixão que se encontra uma das mais elaboradas expressões do teatro popular. Com uma participação colectiva, afectiva e efetiva da comunidade, estas representações integram velhos e novos, homens e mulheres, e quase sempre atingem picos de realismo que alguns dos participantes até chegam a parecer figuras saídas do Novo Testamento. Por estes autos passam as narrações dos últimos dias da vida de Jesus Cristo, e neles intervêm personagens como os discípulos, com Judas em primeiro plano, Herodes, Caifaz, Pilatos, Fariseu, Maria Madalena, soldados romanos ou mesmo o Diabo, culminando todas essas encenações na deposição do filho de Deus na cruz.

Mas o sentimento de perda vivida, sentida e transmitida pela população durante a Semana Santa em Trás-os-Montes tem a sua mais peculiar e enigmática expressão no concelho de Vinhais, uma das localidades da região onde ainda previvem e se registam alguns vestígios das chamadas endoenças. Aqui existe um ritual onde se interpreta e encena a procura e a busca de Nosso Senhor Jesus Cristo, e todos os habitantes das pequenas aldeias se perguntam, uns aos outros, e entre vizinhos e amigos, se “alguém por aí o viu”.

Também em Freixo de Espada à Cinta permanece ainda bem viva e preservada a procissão dos "Sete Passos", uma não menos enigmática manifestação pagã que marca a Semana Santa e cujos contornos deixam transparecer claras influências de uma tradição antiquíssima, com provável origem na época medieval. Desta tradição existe um riquíssimo documento constituído por um filme intitulado “Encomendação das Almas – Sete passos [icon name="video-camera" class="" unprefixed_class=""]”, uma produção de 1979 para a RTP com a realização de Leonel Brito e textos de Rogério Rodrigues.

A partir da meia-noite de Sexta-Feira Santa, uma figura encapuçada de negro, dobrada pelo tronco, circula pelo adro da igreja matriz de Freixo com uma luminária a pender-lhe das mãos, enquanto à porta do templo são entoados cânticos com vozes exclusivamente masculinas. Posteriormente, pelas ruas do Centro Histórico da vila, mais duas dessas figuras, também encapuçadas e vestidas de negro, arrastam objetos de metal num estridente ruído, enquanto, seguindo-os de perto, o mesmo grupo de homens continua a entoar cânticos em diversas paragens pré-estabelecidas, com a figura que transporta a lamparina a encabeçar o cortejo. A procissão pagã dos "Sete Passos" exprime um culto dos mortos, um culto a todos os mortos que se entoa na véspera do sábado de aleluia, o dia em que foi anunciada a ressurreição do filho de Deus.

Já em Mogadouro, a tradição enraíza numa essência histórica melhor definida no tempo. A “Procissão dos Passos [icon name="video-camera" class="" unprefixed_class=""]” é uma das muitas manifestações pascais que durante a época quaresmal se realizam na região do nordeste transmontano. O Senhor dos Passos de Mogadouro é uma manifestação religiosa com contornos vincadamente históricos que se realiza de dois em dois anos nesta vila transmontana. Segundo alguns investigadores, surgiu pela mão de Luís Alvares Távora, Senhor de Mogadouro, que deu o impulso, em 1559, para a criação da Confraria da Igreja da Misericórdia. A procissão sai da igreja da Misericórdia e segue até ao convento de S. Francisco que se situa no fulcro urbano da localidade. O cortejo é de matriz marcadamente religioso, mas mantém contornos etnográficos que remontam ao séc. XVII.

Num campo mais lúdico, há a registar as “queimas de judas”, manifestações festivas e de algum excesso que marcam o fim de um tempo de restrições e penitência que foram impostas durante o período da Quaresma. Em Constantim, uma aldeia localizada às portas da cidade de Vila Real, renasceu há alguns anos pelas mãos dos habitantes da localidade um destes costumes antigos que esteve muito tempo adormecido. A Queima de Judas, o traidor, é realizada na noite de sábado de aleluia, véspera do Domingo de Páscoa, e reúne dezenas de pessoas num cortejo constituído por várias figuras que transportam tochas acesas pelos arruamentos da aldeia, vindo depois toda a representação a culminar na praça principal, num cenário dantesco, onde Judas é queimado entre gritos e risos de escárnio, numa representação que dizem “teatralizar a vingança do povo contra Judas que traiu Jesus”.

O mesmo espirito tem a “Queima de Judas em Montalegre”, também realizada no “Sábado de Aleluia”. O município constitui anualmente um concurso com inscrições prévias para incentivo geral da população e com o intuito de manter viva a tradição.

Nestes meios rurais mantém-se ainda o hábito de ao meio dia de Quinta-feira Santa tocar o sino a finados, o que significa o anúncio simbólico da morte de Cristo. A partir desse momento todas as pessoas abandonam os seus afazeres agrícolas e regressam a casa para cumprir o “dia santo de guarda”, permanecendo sem trabalhar, e muitas delas em jejum, até ao meio dia de sexta-feira.

Em outras localidades só no “Sábado de Aleluia”, à meia-noite, se volta a tocar os sinos das igrejas. Este ato radica numa tradição muito ancestral já relatada nos inícios do séc. XX por Francisco Manuel Alves, o prestigiado historiador, antropólogo e arqueólogo transmontano, na sua obra “Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança”. Segundo essa tradição, “a bênção para o que repica os sinos na noite de Páscoa da Ressurreição, toda passada em toques festivos de sinos, consiste em ser muito feliz no encontro de ninhos de aves com pássaros”. Mas o toque do sino assegura um significado de maior relevância para estas comunidades. Ele significa o fim da tristeza, do silêncio, das restrições e do luto e anuncia um novo tempo de alegria, de vida, de ressurgimento, de renovação, de esperança, de felicidade e de uma outra vida que se espiritualiza e interioriza através do exemplo da Ressurreição de Jesus Cristo e da sua perpetuação através da vida eterna.

A meia-noite do sábado de Aleluia é, portanto, a hora simbólica que marca o arranque das festividades do dia de Páscoa, dia assinalado pelo encontro de famílias, pelo ritual eucarístico e pela convivialidade e confraternização que se faz à volta mesa. Gastronomicamente a Páscoa está associada a manjares como o folar, o borrego ou o cabrito assado, e no domínio religioso pela tradição do Compasso.

Como refere Ernesto Veiga de Oliveira no seu livro “Festividades Ciclicas em Portugal”, “no Nordeste montanhoso e planáltico de Trás-os-Montes, o folar é uma bola redonda, em massa dura, feita com farinha, ovos, leite, manteiga e azeite, que encerra bocados de carne de vitela, frango, coelho, porco, presunto e rodelas de salpicão, cozidos dentro de massa, que junto deles fica mais tenra com a gordura que deles se desprende. Por seu turno, estes folares, podem ser, segundo as regiões, grandes e altos, em massa fresca (Bragança), ou achatados e pequenos, em massa seca, (Freixo de Espada à Cinta). Cozem-se geralmente em grande número, e continua-se a comê-los mesmo passada a Páscoa, sendo especialmente próprios para levar de merenda”.

Muitos destes folares continuam a ser feitos em casa, no forno a lenha onde normalmente se cozia o pão, mas também nas padarias locais que neste período alugam os fornos especificamente para cozer a massa dos folares. Ainda no domínio da gastronomia, o cabrito assado está a substituir o cordeiro ou o borrego, embora não há muitos anos estes constituíssem o prato típico que estava por absoluto generalizado no almoço de todas as famílias no Domingo de Páscoa. O cordeiro, símbolo da Páscoa Cristã, assumia aí também uma dimensão e um sentido de comunhão, uma vez que personificava Cristo, o filho e cordeiro de Deus que foi sacrificado para remissão dos pecados de toda a humanidade.

Mas o dia de Páscoa, na maior parte das aldeias, vilas e cidades da região fica sobretudo marcado pela alegria da visita pascal - o chamado Compasso. Algumas excepções se registam como, por exemplo, em Macedo de Cavaleiros, onde a visita pascal se realiza na segunda-feira seguinte. Num número reduzido de aldeias ou lugares a visita do Compasso pode ser transferida para o domingo imediatamente a seguir à Páscoa, surgindo assim o domingo de Pascoela como habitualmente é designado pelos transmontanos e durienses.

O Compasso nada mais é do que um grupo de paroquianos que leva à frente o padre numa visita a todas as casas onde é dada a beijar uma cruz com Cristo crucificado. Neste ritual, o pároco entra nas casas de todos os fiéis e benze-a com água benta, enquanto é anunciada por todos a boa nova da Ressureição de Cristo: “Aleluia, aleluia, Jesus Cristo Ressuscitou!”.

Nesta cerimónia, recorda-nos Ernesto veiga de Oliveira, “o padre, de sobrepeliz e estola, precedido dos membros da confraria ou paróquia, de opa, e levando o crucifixo, a campainha e a caldeirinha, corre a freguesia a levar aos paroquianos a Boa Nova e a bênção pascal e a tirar o folar. O padre entra nas casas cuidadas e embelezadas e, com a saudação tradicional dá a cruz a beijar a todos os presentes que seguem o «compasso» e que se reúnem e ajoelham na sala principal em redor da melhor mesa da casa que está coberta com uma toalha de linho rendada, ao lado do crucifixo, dos castiçais, de jarras floridas e de um pires ou de uma taça com o «folar», geralmente um envelope com dinheiro dentro”.

Neste ano de Cristo de 2020, tudo foi cancelado. Resta a vontade dos homens e das mulheres e uma melhor conjuntura sanitária para que no próximo ano todas as tradições sejam retomadas.
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Bragança: Há cidades que nos seduzem!

[vc_row][vc_column width="1/4"][vc_gmaps link="#E-8_JTNDaWZyYW1lJTIwc3JjJTNEJTIyaHR0cHMlM0ElMkYlMkZ3d3cuZ29vZ2xlLmNvbSUyRm1hcHMlMkZlbWJlZCUzRnBiJTNEJTIxNHYxNTgxMTA1MTAzNDgwJTIxNm04JTIxMW03JTIxMXNvWThnQm1GNXEwNmhaekxTTnp0UzBRJTIxMm0yJTIxMWQ0MS44MDU1MzQ5NTUyMDA3NSUyMTJkLTYuNzUyNTA2OTExMjA2NDA4JTIxM2YzMzQuNjg0NjgwOTc3NjA0NCUyMTRmLTAuMjE1NDQ3NDA5Nzk2MzI1OTMlMjE1ZjAuNzgyMDg2NTk3NDYyNzQ2OSUyMiUyMHdpZHRoJTNEJTIyMTAwJTI1JTIyJTIwaGVpZ2h0JTNEJTIyNDUwJTIyJTIwZnJhbWVib3JkZXIlM0QlMjIwJTIyJTIwc3R5bGUlM0QlMjJib3JkZXIlM0EwJTNCJTIyJTIwYWxsb3dmdWxsc2NyZWVuJTNEJTIyJTIyJTNFJTNDJTJGaWZyYW1lJTNF" title="Localização"][/vc_column][vc_column width="3/4" css=".vc_custom_1581105356813{padding-left: 40px !important;}"][vc_column_text]Há cidades que se entranham no olhar. Bragança é uma delas. Não é uma cidade grande, nem tem engarrafamentos. A vida aqui flui com mais tempo, o tempo suficiente para deixarmos pousar com calma o olhar na velha cidadela ou na pacatez do Parque Natural de Montesinho.


Este é um quadro antigo, testemunho precioso da história de uma terra fronteiriça. Na velha cidadela sente-se ainda a vivência do ancestral, o silêncio a encher-nos de paz e o velho edifício da Domus Municipalis a encher-nos os olhos.

Domus Municipalis [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""] é , se dúvida, um edifício com um carácter singular, o único testemunho do país onde se pensa terem sido praticados os princípios elementares da democracia numa altura em que o conceito ainda não existia.

Raro exemplar da arquitectura civil, vive abraçado à igreja de Santa Maria. Pensa-se que o edifício sempre teve uma dupla vocação: casa de reuniões municipais e cisterna de abastecimento de água da localidade. Esta dupla funcionalidade é conjecturada a partir de alguma documentação da época medieval, onde, frequentemente surge denominado como “Casa da Água” e depois como “Casa da Câmara” ou Paço Municipal.

A data da sua construção tem sido objecto de alguma controvérsia. “ Estudos recentes com base em análise dos aspectos artísticos e da documentação coeva parecem ter estabilizado a data de construção na segunda metade do século XIV”.

Não muito longe do Museu Abade de Baçal o visitante poderá encontrar o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""], edifício setecentista que foi recentemente recuperado e ampliado a partir de um projecto do Arquitecto Souto Moura para aqui expor obras da pintora transmontana Graça Morais. Além da exposição permanente desta autora, o centro acolhe exposições temporárias de referência nacional e internacional.Dentro das muralhas da antiga vila instalou-se em 2007 um espaço de divulgação das tradições relacionadas com as máscaras do Nordeste Transmontano e da Região de Zamora. O Museu Ibérico da Máscara e do Traje [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""] é “um lugar único onde se encontram expostas máscaras, trajes, adereços e objectos feitos por artesãos portugueses e espanhóis e usados nas “Festas de Inverno” em Trás-os-Montes e Alto Douro e em Zamora”.

Ainda dentro da cidadela há ainda um tempinho para visitar o Museu Militar [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""] que ocupa todo o interior da Torre do Castelo “ impondo-se como espaço memória das vivências militares da cidade, porquanto a maioria das peças originais foram doadas pelos habitantes, participantes nas Campanhas de África e 1ª Guerra Mundial”.

Mas a cidade tem muito mais para oferecer. Logo ao fundo da cidadela vai encontrar um edifício de traçado simples que acompanha uma estreita ruela, com grandes dimensões, pintado de branco, onde se instalou o Museu Abade de Baçal [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""].

Esta é uma casa de cultura por excelência que faz a mais eloquente e merecida homenagem ao padre sábio de Baçal. Aqui se encontra um riquíssimo espólio arqueológico e etnográfico que constituem hoje preciosos documentos para a caracterização da cultura transmontana.

De referência para a cidade e um ponto obrigatório de qualquer visita é também o Centro de Ciência Viva/Casa da Seda [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]. “Inaugurado em 2007, é constituído por dois espaços: o Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental (projecto da arquitecta italiana Giulia Appolonia, com soluções inovadoras de climatização e energia) e a Casa da Seda instalada num antigo moinho recuperado (de entre os vários que fabricavam neste troço do rio Fervença). Espaços lúdicos experimentais, vocacionados para visitas com crianças em idade escolar”.

Não parta sem uma visita ao coração do Parque Natural de Montesinho [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]. Região povoada desde há milénios, conserva vestígios arqueológicos em muitas das suas aldeias, a que se juntam verdadeiros quadros pictóricos patentes numa paisagem ainda bem preservada.

Se num dia destes lhe apetecer um pouco de paz e sossego venha até ao Nordeste e comece por visitar a capital deste território. Aqui ficam algumas sugestões.

Bragança: Locais a visitar:

Cidadela/ Domus Municipalis [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Museu Militar
[icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Museu do Abade de Baçal [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
O Núcleo Museológico da CP [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Museu Ibérico da Máscara e do Traje [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Centro de Arte Contemporânea Graça Morais [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Centro de Ciência Viva/Casa da Seda [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Igreja e Convento de S. Francisco [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Igreja de São Vicente [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Igreja da Sé
Igreja da Misericórdia [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Convento e Igreja de Santa Clara [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Actual Paço Episcopal [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Mosteiro Castro de Avelãs [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""]
Parque Natural de Montesinho [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""][/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Castelo e vila amuralhada de Ansiães

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-heading title="Localização" show_title="1" icon="" title_link="" heading_color="" heading_style="default" heading_tag="h3" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css="" custom-css-class="" custom-id=""][vc_gmaps link="#E-8_JTNDaWZyYW1lJTIwc3JjJTNEJTIyaHR0cHMlM0ElMkYlMkZ3d3cuZ29vZ2xlLmNvbSUyRm1hcHMlMkZlbWJlZCUzRnBiJTNEJTIxMW0xOCUyMTFtMTIlMjExbTMlMjExZDMyMjk2Ny44NzIxMzU5NjY0JTIxMmQtNy40ODQyMTM2MzU0NjMzNzElMjEzZDQxLjIzMDY3NTI4MDQ4NzclMjEybTMlMjExZjAlMjEyZjAlMjEzZjAlMjEzbTIlMjExaTEwMjQlMjEyaTc2OCUyMTRmMTMuMSUyMTNtMyUyMTFtMiUyMTFzMHhkM2I2NTc5NWE1OGQyODclMjUzQTB4YjJkZDViYTExOWZjOWQxYSUyMTJzQ2FzdGVsbyUyNTIwZSUyNTIwVmlsYSUyNTIwTXVyYWxoYWRhJTI1MjBkZSUyNTIwQW5zaSUyNUMzJTI1QTNlcyUyMTVlMCUyMTNtMiUyMTFzcHQtUFQlMjEyc3B0JTIxNHYxNTgwNDk5ODk4ODA0JTIxNW0yJTIxMXNwdC1QVCUyMTJzcHQlMjIlMjB3aWR0aCUzRCUyMjEwMCUyNSUyMiUyMGhlaWdodCUzRCUyMjQ1MCUyMiUyMGZyYW1lYm9yZGVyJTNEJTIyMCUyMiUyMHN0eWxlJTNEJTIyYm9yZGVyJTNBMCUzQiUyMiUyMGFsbG93ZnVsbHNjcmVlbiUzRCUyMiUyMiUzRSUzQyUyRmlmcmFtZSUzRQ==" css=".vc_custom_1580499923312{margin-top: -15px !important;}"][bs-heading title="Informações gerais" show_title="1" icon="" title_link="" heading_color="" heading_style="default" heading_tag="h3" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css="" custom-css-class="" custom-id=""][vc_tta_accordion style="flat" autoplay="10" active_section="1" css=".vc_custom_1584197472062{margin-top: -15px !important;}"][vc_tta_section i_icon_fontawesome="far fa-clock" add_icon="true" title="Horário" tab_id="1580498387334-17633a1b-e61a"][vc_wp_text]Das 9h às 17:30 horas com guardaria[/vc_wp_text][/vc_tta_section][/vc_tta_accordion][/vc_column][vc_column width="3/4" css=".vc_custom_1580498700198{padding-left: 40px !important;}"][vc_column_text]Com uma implantação geográfica que lhe confere excelentes condições naturais de defesa, o Castelo de Ansiães surge-nos com uma história milenar, cujo início se fixa por volta do IIIº milénio A.C. Desde esse período que as caraterísticas geomorfológicas do sítio em muito terão contribuído para uma ocupação quase sucessiva desta topografia.

Esta vocação para a defesa natural adquire particular importância durante o processo da Reconquista Cristã. Nessa altura, a Ansiães é concedido a sua primeira carta de foral, pelo rei leonês Fernando Magno. Os Séculos XII, XIII, XIV e XV, definem um período exponencial do crescimento deste reduto amuralhado.

Afonso Henriques em 1160, Sancho I em 1198, Afonso II em 1219 e finalmente Manuel I em 1510 reconhecem e promulgam forais à vila de Ansiães. Nos finais do séc. XV, e particularmente no séc. XVI, uma tendência demográfica com caráter depressivo começa a atingir o local, e em 1527 algumas aldeias que constituíam o município contavam já com uma população superior à de Ansiães.

Nas centúrias seguintes este movimento acabou por se agudizar, culminando na transferência dos paços do concelho para Carrazeda, acto que ocorreu em 1734 pelo fato de no antigo reduto residir um número bastante reduzido de pessoas. Estruturalmente este arqueosítio divide-se em dois espaços distintos. O primeiro situado a quotas mais elevadas corresponde à primitiva implantação roqueira. Este perímetro é definido e organizado a partir de uma muralha de configuração ovalada que se reforça com cinco torreões quadrangulares.

Trata-se de uma área com uma autenticada especialização defensiva, uma espécie de último reduto destinado a albergar os moradores em caso de contenda bélica. O segundo espaço que define a zona urbana propriamente dita é constituído por uma segunda linha de muralhas com uma extensão superior a 600 metros e três torreões quadrangulares. Este espaço encontrava-se dividido por vários caminhos que se intercediam entre si, estruturando pequenos bairros ou áreas residenciais.[/vc_column_text][vc_gallery interval="3" images="3626,3627,3628,3629,3630,3631,3632,3633,3634,3635,3636,3637,3638,3639,3640" img_size="900x503"][/vc_column][/vc_row]

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