A deteção de cobras na compreensão do nosso sistema visual

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-user-listing-4 columns="1" title="" icon="" hide_title="1" heading_color="" heading_style="default" title_link="" filter_roles="0" roles="" count="1" search="" order="DESC" order_by="user_registered" offset="" include="33" exclude="" paginate="none" pagination-show-label="0" pagination-slides-count="3" slider-animation-speed="750" slider-autoplay="1" slider-speed="3000" slider-control-dots="off" slider-control-next-prev="style-1" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" custom-css-class="" custom-id="" override-listing-settings="0" listing-settings="" bs-text-color-scheme="" css=""][vc_single_image image="9391" img_size="500x160"][/vc_column][vc_column width="3/4"][vc_column_text css=".vc_custom_1619168250611{margin-left: 26px !important;}"]São muitas as pessoas que se sentem desconfortáveis na presença de uma cobra ou ao observar uma fotografia de uma cobra. No entanto, apesar de já não ser tão frequente o encontro inesperado com estes potenciais predadores como antigamente, pelo menos em contextos citadinos, as cobras continuam a desempenhar um papel importante na compreensão do nosso sistema visual.

Há pouco mais de uma década, Lynne Isbell, Professora de Antropologia e Comportamento Animal na Universidade de Califórnia, desenvolveu a Teoria da Deteção das Cobras [icon name="external-link-alt" style="solid" class="" unprefixed_class=""]. Segundo esta teoria, o aparecimento das cobras venenosas desempenhou um papel fundamental na evolução do sistema visual dos primatas.

As cobras venenosas surgiram há cerca de 60 milhões de anos, em África ou na Ásia, e depressa se tornaram um dos primeiros grandes predadores dos primatas. Estas, em comparação com as suas ancestrais, eram detentoras de uma das armas mais letais até ao momento: os seus poderosos venenos. Com quantidades reduzidas de veneno, estes predadores conseguiam matar ou lesar gravemente as suas prezas, mesmo as de grandes dimensões, como é o caso dos primatas. Para além disso, as cobras venenosas estavam muitas vezes camufladas na vegetação, o que tornava a sua deteção particularmente desafiante, exigindo uma perceção visual mais apurada do que para os restantes predadores. Assim, de acordo com a Teoria da Deteção das Cobras, os primatas viram-se obrigados a desenvolver sistemas visuais aperfeiçoados de forma a permitir uma deteção mais célere das cobras venenosas.

Mas este aperfeiçoamento não aconteceu de um dia para o outro. Tomando como ponto de partida as perspetivas evolutivas, uma deteção rápida de um estímulo potencialmente perigoso no ambiente possibilita uma rápida resposta do observador – mesmo antes que esse estímulo seja percebido como correspondendo a uma verdadeira ameaça ou a algo inofensivo – aumentando assim as hipóteses de sobrevivência. Esta resposta envolve um conjunto de ações por parte do observador, tais como ações de luta ou de fuga, que são facilitadas por alterações do estado fisiológico, tais como aumento da frequência respiratória e da dilação da pupila. Deste modo, através de pressões evolutivas, os primatas com sistemas visuais menos desenvolvidos, pouco habilitados para detetarem as cobras camufladas na vegetação, corriam maior risco de ser mordidos e de não deixar descendência, acabando eventualmente por se extinguir – um dos argumentos da Professora Lynne Isbell.

Apesar de ousada, a Teoria da Deteção das Cobras é suportada tanto por investigações experimentais em contexto laboratoriais como em situações mais ecológicas (ainda que menos frequentes). Estas investigações mostram que somos capazes de detetar, de forma muito rápida, pistas visuais que sinalizam uma possível ameaça, sobretudo quando essa ameaça foi outrora relevante para a nossa sobrevivência enquanto espécie. Por exemplo, em estudos de neurofisiologia, certas redes neurais são sistematicamente ativadas quando primatas não-humanos e humanos são expostos a fotografias de cobras. Estas redes parecem ser responsáveis por transportar as informações capturadas pelos nossos olhos para determinadas estruturas cerebrais, de forma rápida, direta e praticamente independente das nossas características individuais e dos nossos conhecimentos. Uma dessas estruturas, fortemente envolvida nos sistemas de deteção e de resposta de ameaça, é a amígdala. O mesmo não acontece, porém, quando são exibidas formas geométricas ou fotografias de aranhas. Curiosamente, as aranhas, apesar de potencialmente perigosas – e especialmente ativadoras para as pessoas com fobia – são menos relevantes do ponto de vista evolutivo do que as cobras, o que pode explicar a ativação de áreas diferenciadas do cérebro na presença destes dois estímulos.

Também ao nível do comportamento, os estudos revelam que imagens de cobras são detetadas de forma preferencial por primatas não-humanos e humanos. Por exemplo, quando é solicitado a adultos saudáveis que pesquisem um estímulo visual por entre um conjunto de estímulos irrelevantes, imagens de cobras são detetadas mais rápida e corretamente do que imagens de aranhas ou de objetos inofensivos, tais como cogumelos. Este efeito é observado quando as tarefas são particularmente exigentes do ponto de vista percetivo, numa tentativa de mimetizar, tanto quanto possível num estudo em laboratório, o ambiente complexo em que estes estímulos muitas vezes se inserem. Padrões de resposta semelhantes são também reportados em investigações com crianças, o que reforça que os processos inerentes à deteção de cobras são, de alguma forma, independentes de aprendizagem.

A deteção preferencial de cobras parece também ocorrer quando estas pistas não são visíveis de forma consciente, tal como verificado num estudo conduzido por investigadores da Universidade de Aveiro e do ISPA – Instituto Universitário, publicado em 2018 na revista Emotion [icon name="external-link-alt" style="solid" class="" unprefixed_class=""].

Nesta experiência, através de uma técnica laboratorial específica, as imagens relevantes para a tarefa eram apresentadas de forma muito gradual a apenas um dos olhos, enquanto imagens concorrentes e mais dominantes eram apresentadas ao outro olho. Assim, numa fase inicial, apenas as imagens concorrentes eram visíveis pelos participantes. Contudo, com o decorrer do tempo, as imagens relevantes iam-se tornando mais visíveis até que finalmente acediam à “consciência visual”. Os participantes eram então instruídos a indicar, o mais rapidamente possível, o momento a partir do qual conseguiam visualizar as imagens ou partes das imagens relevantes. Outro aspeto importante deste estudo passou pela manipulação do nível de detalhe das imagens. Os investigadores verificaram que, nas condições que proporcionavam menor detalhe visual, as imagens de cobras eram mais rápidas a aceder à “consciência visual” do que as imagens de animais inofensivos (pássaros). Como tal, os resultados do estudo sugerem que o nosso sistema visual não requer detalhes finos para que as cobras sejam detetadas mais rapidamente, de forma consciente, bastando receber informação grosseira, mas sugestiva da presença deste predador, como é o caso de imagens desfocadas com a forma curvilínea de uma cobra.

Para concluir, as muitas investigações nesta área apontam consistentemente para uma deteção preferencial de pistas visuais que sinalizam a presença de uma cobra no ambiente, o que vai ao encontro de alguns dos argumentos da Teoria da Deteção das Cobras. Assim, e a apesar de não ser ainda totalmente conhecido o peso do aparecimento das cobras venenosas na evolução dos primatas, o estudo da deteção destes predadores parece ter contribuído (e continuar a contribuir) para a investigação e compreensão dos fenómenos visuais da espécie humana. Este estudo tem também um papel fundamental do ponto de vista da Psicopatologia, uma vez que muitas das Perturbações Mentais são caracterizadas por desregulações específicas nos sistemas de deteção e de resposta de ameaça, como é o caso da Esquizofrenia e das Perturbações de Ansiedade.

Assim, da próxima vez que se deparar com uma cobra – mesmo que inofensiva – procure perceber quais foram as suas reações mais imediatas![/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Mais sozinhos e mais exaustos: estudo pioneiro revela que os países ocidentais são os mais afetados pelo burnout parental

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-push-notification style="t2-s1" title="Subscribe for updates" show_title="0" icon="" heading_color="" heading_style="default" title_link="" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css="" custom-css-class="" custom-id=""][vc_single_image image="9391" img_size="500x160" onclick="link_image"]

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Os países ocidentais, sobretudo os mais ricos e onde há uma cultura mais individualista, são os mais afetados pelo burnout parental. A conclusão é de um estudo internacional sem precedentes, que envolve mais de uma centena de cientistas de 42 países, incluindo Portugal.

Liderado pelas investigadoras Isabelle Roskam e Moïra Mikolajczak, da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, em Portugal o estudo [icon name="external-link-alt" style="solid" class="" unprefixed_class=""] é coordenado por Anne Marie Fontaine, professora da Universidade do Porto (UP), e Maria Filomena Gaspar, professora da Universidade de Coimbra (UC) e investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES).
O grande foco desta investigação internacional pioneira foi perceber se a incidência do burnout parental depende do contexto cultural do país em que se desenvolve, refletindo a preocupação da comunidade científica com o burnout induzido pelo stress associado ao cuidado de crianças e adolescentes – burnout parental – uma condição que traz sérias consequências quer para os adultos cuidadores, quer para as crianças.

Os resultados do estudo, já publicado no jornal científico Affective Science, evidenciam que a cultura, mais do que fatores socioeconómicos, desempenha um papel crucial na incidência do burnout de pais e mães, ou seja, as conclusões não deixam margem para dúvidas: nos países ocidentais mais ricos e onde há uma cultura mais individualista, as famílias em média têm menos filhos e são mais afetadas pelo fenómeno.

Isto significa que os valores individualistas nos países do Ocidente podem submeter cuidadores a níveis mais elevados de stress. «Esta descoberta leva-nos a repensar a máxima do 'cada um por si', que se espalha pelo mundo», afirma Isabelle Roskam.

Por sua vez, Anne Marie Fontaine nota que, «nos países individualistas, há o culto à performance e ao perfecionismo, e isso tem sido estendido também ao exercício do papel parental».

«A parentalidade nesses países pode ser uma atividade muito solitária, diferentemente do que ocorre em culturas mais coletivistas, como é o caso dos países de África, em que há um envolvimento maior de toda a comunidade na educação das crianças», sublinha Maria Filomena Gaspar. Além disso, acrescenta, «o individualismo tem-se agravado pela atual situação pandémica, em que as famílias nucleares encontram-se mais isoladas das suas redes de apoio habituais».

Considerando a atual crise de saúde, a equipa portuguesa também desenvolveu um estudo em que foi possível verificar um aumento da exaustão parental durante as medidas restritivas de confinamento. «Comparando-se os níveis de stress percecionados por pais e mães nos períodos anteriores e durante a pandemia, verificou-se um aumento para ambos os cuidadores. No entanto, é interessante ressaltar que este aumento da exaustão foi mais acentuado nos pais do que nas mães», afirma Joyce Aguiar, uma das autoras do estudo.

«Sabendo que Portugal é um país onde as mulheres são as principais responsáveis pelos cuidados com as crianças, esta maior propensão dos homens ao burnout parental deve-se não ao volume de tarefas parentais que de facto eles tenham assumido durante a pandemia, mas à ausência de recursos emocionais para lidar com as pressões de cuidar dos filhos nas atuais e desafiantes condições – em confinamento, sem apoio da família extensa, com o ensino à distância e o teletrabalho, por exemplo», esclarece.

Porém, refere ainda Maria Filomena Gaspar, «é de realçar que houve também pais e mães em Portugal que viveram o confinamento como uma oportunidade de redução do burnout parental com, respetivamente, 18,7% dos homens e 26,6% mulheres a relatarem essa melhoria».

«É fundamental que psicólogos clínicos e demais profissionais de saúde conheçam o burnout parental para que possam reconhecer os seus sintomas quando eventualmente se depararem com pais e mães nesta condição, que facilmente pode ser confundida com depressão. Para auxiliar no diagnóstico, fizemos uma adaptação ao português do Parental Burnout Assessment, publicada no New Directions for Child and Adolescent Development», finaliza Marisa Matias, membro da equipa e que trabalhou em conjunto com investigadoras do Brasil, de modo a garantir que o instrumento fosse adaptado tanto ao português europeu quanto brasileiro.

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Uma vacina contra a desinformação

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-user-listing-4 columns="1" title="" icon="" hide_title="1" heading_color="" heading_style="default" title_link="" filter_roles="0" roles="" count="1" search="" order="DESC" order_by="user_registered" offset="" include="18" exclude="" paginate="none" pagination-show-label="0" pagination-slides-count="3" slider-animation-speed="750" slider-autoplay="1" slider-speed="3000" slider-control-dots="off" slider-control-next-prev="style-1" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" custom-css-class="" custom-id="" override-listing-settings="0" listing-settings="" bs-text-color-scheme="" css=""][vc_single_image image="9391" img_size="500x160" onclick="link_image"][/vc_column][vc_column width="3/4"][vc_column_text css=".vc_custom_1615329715009{margin-left: 26px !important;}"]Paralelamente à implementação do programa de vacinação para o vírus SARS-CoV-2, investigadores das Ciências Psicológicas têm desenvolvidos pesquisas acerca da possibilidade de conferir imunidade à população contra a desinformação e notícias falsas. Obtenha neste artigo a sua “vacina para a desinformação”.

Não obstante esforços em contrário, implementados a diferentes níveis na população, continua a propagar-se e, diariamente, assistimos a novos focos um pouco por todo o lado. Poderíamos estar a falar do vírus SARS-CoV-2, cujo súbito aparecimento há pouco menos de um ano resultou na actual pandemia. Contudo, a frase de abertura do presente texto aplica-se igualmente à desinformação e notícias falsas, que encontraram na dinâmica subjacente às modernas redes sociais uma “ecologia” adequada à sua emergência, propagação e efeitos adversos. Surpreendentemente, a analogia entre o SARS-CoV-2 e a desinformação nas redes sociais pode ir mais além do que o mero paralelismo superficial ensaiado nestas linhas: num momento em que vacinas para o vírus SARS-CoV-2 foram recentemente desenvolvidas e implementados programas de vacinação, investigadores das Ciências Psicológicas têm estudado formas de implementar estratégias similares no combate à desinformação.

A ideia de fomentar resistência psicológica, a nível individual, a informações falsas, não é recente, antes remontando à década de 1960. Na altura, psicólogos sociais envolvidos no Programa de Atitude e Persuasão da Universidade de Yale conduziram alguns estudos na tentativa de responder aos receios de “lavagens cerebrais” (brainwash) e persuasão a soldados americanos capturado no Extremo Oriente. É neste contexto que William McGuire vem a desenvolver a chamada Teoria da Inoculação (1970), a qual tem ressurgido como alvo de vários estudos recentes como potencial estratégia no combate às modernas versões de desinformação. Uma “vacina para a desinformação” mostra-se particularmente promissora pois soluções alternativas têm-se mostrado ineficazes (como por exemplo, iniciativas de correcção de notícias falsas que, por necessariamente se focarem em peças de informação particulares, mostram-se mais demoradas e com menos alcance que a própria desinformação) ou mesmo resultado em efeitos adversos (como a implementação de algoritmos informáticos que filtrem notícias falsas ou iniciativas legislativas e reguladoras).

A noção de inoculação psicológica segue de perto a ideia de base do análogo biomédico: Se uma pessoa for exposta a pequenas amostras de informação falsa, relativamente “enfraquecidas”, isso espoletará processos de raciocínio que, quais “anticorpos mentais”, poderão vir a ser reactivados aquando da futura exposição a desinformação, resultando num equivalente de “imunização psicológica”. Na sua versão clássica, uma “vacinação psicológica” envolve geralmente dois componentes de base, um afectivo e outro cognitivo: (i) a pessoa é avisada de que vai ser exposta a uma peça de informação enviesada e falsa, similar aquelas que poderá encontrar no seu dia-a-dia – o propósito é aqui espoletar uma resposta emocional a uma possível “ameaça” e consequente activação de processos de raciocínio de resistência (componente afectivo); (ii) a informação é apresentada, podendo ser acompanhada de contra-argumentos e respostas possíveis (componente cognitiva). Uma meta-análise de 54 estudos clássicos acerca da “inoculação psicológica” revelou que esta se mostra mais eficaz na resistência a desinformação do que o mero fornecimento de informação fidedigna e que o efeito de “imunização” se mantem por pelo menos duas semanas.

Obviamente, e tal como acontece com o seu análogo imunológico, o sucesso da inoculação psicológica depende criticamente de uma compreensão clara não só dos mecanismos e processos subjacentes às principais formas de desinformação para as quais se deseja uma imunização, mas também os fenómenos psicológicos associados à respectiva vulnerabilidade. Curiosamente, alguns estudos recentes (e.g., Pennycook e colaboradores, 2020) evidenciaram que, de uma forma geral e pese embora diferenças individuais, a capacidade de discernir notícias e informações falsas não é comensurável como a intenção de partilhar as mesmas nas redes sociais. Com efeito, quando foi pedido a participantes de um estudo que indicassem o grau em que acreditavam ou o grau em que partilhariam nas redes sociais conteúdos desinformativos, as respostas divergiam entre si. Dito de outra forma, o que motiva uma qualquer pessoa a partilhar desinformação não é necessariamente o grau em que a mesma acredita na veracidade da mesma, mas antes o grau em que concorda com parte do conteúdo ou o grau em que esse é consonante com a afiliação sociocultural, o que facilmente é compreensível se se notar que tendemos a ser positivamente reforçados (e a reforçarmos nós mesmos, com likes e interacções sociais, sob a forma de comentários) pela partilha de conteúdo congruente com o grupo social ao qual nos identificamos, e não necessariamente pela veracidade e precisão do mesmo.

Simultaneamente, quando indagadas a esse respeito, a maioria das pessoas indica que é relevante para elas partilhar somente informação credível e precisa nas redes sociais. Acresce que, no mesmo estudo, quando era pedido às pessoas que indicassem o grau em que uma única notícia lhes parecia verosímil ou credível, relatos posteriores de intenções de partilha nas redes sociais para peças de desinformação, mesmo com conteúdo distinto, tendiam a correlacionar-se com juízos de credibilidade. Aparentemente, o mero facto de lhes ter sido previamente pedido que indicassem “até que ponto acreditavam” numa qualquer notícia foi suficiente para tornar saliente essa dimensão e, consequentemente, espoletar os mesmos processos cognitivos associados ao discernimento de notícias falsas. Este resultado encapsula as condições mínimas para uma “inoculação psicológica” – apresentação de uma amostra de desinformação acompanhada de um aviso de que a mesma pode não ser fidedigna, implicitamente presente na questão colocada ao participante.

Na mesma linha, outros autores têm procurado implementar a lógica da Teoria da Inoculação em pequenos jogos interactivos, os quais se apresentam como “vacinas de largo espectro” (ainda sem versões em Português) para a desinformação nas redes sociais: Bad News (focado em Notícias Falsas, de uma forma geral), Harmony Square(com um contexto declaradamente político) e Go Viral (com um foco na actual pandemia e respectiva desinformação). Todos estes partilham da mesma mecânica de jogo: o jogador é convidado a personificar um agente de desinformação com o objectivo de semear discórdia, confusão e cisões na “população”, implementando estratégias similares aquelas usadas para a propagação de notícias e informação falsa nas redes sociais. O desempenho do jogador é traduzido em likes virtuais (similares a uma pontuação) e na conquista de insígnias (badges) quando domina uma de várias estratégias comuns.

O primeiro destes, Bad New, desenvolvido em colaboração com Sander van der Linden e Jon Roozenbeek, investigadore na Universidade de Cambridge do Reino Unido e líderes na pesquisa contemporânea sobre a Teoria da Inoculação, mostrou-se eficaz na melhoria da capacidade de discernir e resistir a desinformação, num estudo de larga escala com 15000 participantes. Ainda que o componente activo, tal como implementado no jogo, seja um aspecto relevante na “inoculação psicológica”, é o seu aspecto informativo, instanciado no jogo sob a forma de insígnias, que fornece imunidade a notícias falsas e conteúdo enviesado.

O leitor poderá, pois, e ainda que sem o aspecto lúdico, beneficiar de imediato da sua “vacina para a desinformação” ao apreender as seguintes estratégias comummente usadas em notícias falsas. Note que, ainda que cada uma possa parecer inócua em isolamento, uma campanha de desinformação bem-sucedida tende a usá-las em conjunto. Consegue identificar uma ou mais destas estratégias de desinformação no feed de notícias das suas redes sociais?

Falsificação da fonte: Actualmente, na internet e redes sociais, é particularmente fácil e barato adoptar um perfil ou criar uma página “de notícias” que simule superficialmente um perito ou uma instituição profissional e legítima, ao mimetizar a sua aparência, pela adopção de logótipos e/ou nomes aparentados. As pessoas, ao partilharem informação online, raramente prestam a devida atenção à fonte, bastando a alguém que apenas mimetize superficialmente alguém legítimo ou de confiança para que possa disseminar e propagar desinformação.

Emoção: Emoções como o medo, raiva e empatia são intrinsecamente motivantes e compelem as pessoas a agir – seja partilhando material que activou esses estados emocionais, seja a reagir (sob a forma de comentários) a esse material. Obviamente, nem todo o conteúdo emocional das redes sociais é necessariamente falso. Contudo, e sabendo que as pessoas tendem a suprimir uma reflexão analítica quando emocionalmente activadas, é relativamente fácil incutir medo, raiva ou empatia na desinformação – consequentemente, as pessoas irão reflectir menos sob a veracidade da informação e agir com base na forma como essa as faz sentir, especialmente se as emoções implicarem alguma urgência.

Polarização e falsa amplificação: Agentes de desinformação, seja impelidos por uma qualquer agenda específica, ou tão-somente para com o objectivo em si mesmo de disseminar informações falsas, nem sempre precisam sequer de criar conteúdo original. A sociedade contemporânea e as redes sociais são ricas em clivagens entre grupos sociais e perspectivas sobre inúmeros assuntos. Frequentemente, estas cisões e oposições são relativamente subtis e manejáveis no dia-a-dia. Contudo, é também relativamente fácil explorar essas para polarizar opiniões ao extremo e manufacturar conflitos. Uma boa metáfora é o caso de uma tábua de madeira que, quando sujeita a pressão, quebra no seu ponto mais fraco. É comum que conteúdo de desinformação explore essas linhas de ruptura amplificando-as e, frequentemente, forjando opiniões e notícias que suportem ambos os lados. Uma estratégia típica consiste no uso de bots – programas informáticos autónomos que “partilham” informação nas redes sociais simulando utilizadores legítimos. Um pequeno exército de bots pode ser suficiente para que um assunto ganhe tracção nas redes sociais e pareça bem mais relevante e prevalente do que realmente é.

Conspiração: Teorias da conspiração são sedutoras – fornecem uma perspectiva sob o mundo que dota os seus seguidores de uma sensação de compreensão e domínio sob o mesmo. A ideia de que sabemos ou nos apercebemos de algo que a maioria das pessoas ignora pode ser inebriante e fazer alguém sentir-se superior e/ou mais capaz. A internet e as redes sociais fornecem uma base de interacções e partilha de informação que facilmente alimenta teorias conspiratórias. Quando orquestradas de forma a se oporem ou lançarem dúvidas sobre uma “narrativa oficial” podem ser propositadamente usadas como veículo de desinformação.

Descredibilização: Inevitavelmente, qualquer peça de desinformação que ganhe destaque e relevo na sociedade e redes sociais virá a ser alvo de refutação, seja por esforços colectivos de verificação de factos, seja por cidadãos individuais. Quando tal ocorre, a estratégia típica consiste na tentativa de descredibilizar ou questionar a legitimidade desses. Note-se que, para manutenção e amplificação de desinformação, não é necessário (e até é contraprodutivo) responder às vozes críticas ou aos respectivos argumentos – basta deflectir a atenção para a credibilidade dessas, modificando assim o foco e preservando a desinformação que se pretende disseminar. A descredibilização não precisa sequer de ser fidedigna – a lógica consiste antes em fomentar uma ideia de “onde há fumo, há fogo”.

Trolling: Este termo anglófono descreve a técnica apelidada em Português de “Pesca Corrico”, em que uma amostra de isco é arrastada por um barco em movimento lento para atrair peixes. Veio a ser adaptado e amplamente utilizado na internet e redes sociais para designar comentários que deliberadamente provocatórios ou controversos, com o intuito de espoletar respostas emocionais e ludibriar as pessoas a encetarem uma discussão. Frequente em virtualmente qualquer rede social, o trolling pode ser facilmente explorado por campanhas de desinformação para minar a credibilidade de vozes opostas, mudar o foco da discussão como distracção ou para atrair seguidores e comentários para um dado tópico que pretende amplificar.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Estudo conclui que a pandemia teve impacto negativo na saúde mental dos jovens

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-push-notification style="t2-s1" title="Subscribe for updates" show_title="0" icon="" heading_color="" heading_style="default" title_link="" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css="" custom-css-class="" custom-id=""][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][vc_column width="3/4"][vc_column_text css=".vc_custom_1614422399026{margin-left: 26px !important;}"]A pandemia de Covid-19 teve um significativo impacto negativo na saúde mental dos jovens portugueses, especialmente nos níveis de depressão e de ansiedade, conclui um estudo longitudinal realizado por uma equipa da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), liderada por Ana Paula Matos.


Os resultados preliminares do estudo, que conta com a colaboração de investigadores da Universidade Emory, nos Estados Unidos da América, e da Universidade da Islândia, mostram que 14% dos adolescentes, com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos e uma média de idades de 14 anos, apresentam sintomatologia depressiva elevada (acima do percentil 90) durante a pandemia de Covid-19, uma percentagem superior à encontrada num estudo conduzido pela mesma equipa de investigadores durante a crise financeira portuguesa de 2009-2014, que era de 8%.


A equipa verificou também um aumento de emoções negativas, «como tristeza, medo e raiva, e de sintomas de ansiedade e uma descida da felicidade», sublinha Ana Paula Matos, esclarecendo que as raparigas «estiveram sempre em desvantagem, apresentando níveis de medo, tristeza e raiva significativamente mais elevados do que os rapazes».


Neste estudo longitudinal, os investigadores começaram por comparar os níveis de emocionalidade negativa e positiva vivenciados pelos jovens, antes e depois da pandemia de Covid-19, numa amostra constituída por 206 adolescentes a frequentar o 9º ano de escolaridade (51% raparigas). Verificou-se um aumento significativo da tristeza, do medo e da raiva e uma descida da felicidade.


Posteriormente, na segunda vaga da pandemia em Portugal, em novembro/dezembro, em que se verificou um aumento de casos na população mais jovem, parte da amostra (122 adolescentes) foi reavaliada, «tendo-se verificado nova subida dos níveis de medo, assim como um aumento significativo de sintomas de ansiedade, comparando os dois momentos da pandemia (1ª vaga e 2ª vaga). As raparigas apresentaram níveis significativamente mais elevados do que os rapazes, de medo, tristeza e raiva, quer antes do surto pandémico de Covid-19, quer nas duas vagas da pandemia», indica a docente da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação e investigadora do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC).


A equipa analisou ainda os fatores de proteção e de risco para o desenvolvimento da depressão, concluindo que «competências de autocompaixão e de mindfulness (atenção plena), uma visão mais positiva de si próprio/a e a realização de mais atividades de lazer são fatores de proteção, isto é, fatores que previnem a depressão. Pelo contrário, a sintomatologia de ansiedade constitui um fator de risco e um preditor de depressão», relata Ana Paula Matos.


Este estudo sobre o efeito da pandemia na saúde mental dos jovens integra-se no projeto SMS (“Sucesso, Mente e Saúde”), financiado pelo programa Portugal Inovação Social e pelo Município da Figueira da Foz, que tem como grande objetivo a promoção da saúde mental e o combate ao estigma social e ao insucesso escolar associados à doença mental.


Os resultados obtidos neste estudo, conclui Ana Paula Matos, «salientam a necessidade de se dotarem os jovens de mecanismos de proteção para a depressão, promovendo competências de autocompaixão e mindfulness e uma perceção mais positiva de si próprio/a. Estes são alguns dos objetivos do projeto SMS cujos resultados preliminares indicam uma redução de sintomatologia depressiva e tristeza, bem como um aumento de mecanismos de autorregulação emocional».[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

O tempo passa mais devagar quando vemos pessoas em movimento

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-user-listing-4 columns="1" title="" icon="" hide_title="1" heading_color="" heading_style="default" title_link="" filter_roles="0" roles="" count="1" search="" order="DESC" order_by="user_registered" offset="" include="19" exclude="" paginate="none" pagination-show-label="0" pagination-slides-count="3" slider-animation-speed="750" slider-autoplay="1" slider-speed="3000" slider-control-dots="off" slider-control-next-prev="style-1" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" custom-css-class="" custom-id="" override-listing-settings="0" listing-settings="" bs-text-color-scheme="" css=""][/vc_column][vc_column width="3/4"][vc_column_text css=".vc_custom_1607793473133{margin-left: 26px !important;}"]Uma recente investigação liderada por uma cientista da Universidade de Coimbra publicada na revista Experimental Brain Research concluiu que o ser humano tem a perceção de que o tempo passa mais devagar quando se observam movimentos biológicos quando comparado com movimentos artificiais.

O estudo decorreu na Universidade Federal do ABC (São Paulo, Brasil) e contou com a colaboração de 32 participantes. A equipa procurou saber como o ser humano avalia a duração de tempo decorrido ao visualizar um vídeo que mimetiza o movimento de um corpo humano a correr (movimento biológico) e um outro de uma forma geométrica movimentando-se como um pêndulo (movimento artificial). Apesar dos estímulos terem a mesma duração, os participantes consideraram que o movimento biológico dura mais tempo do que o artificial em velocidades plausíveis.

“Uma vez que o movimento humano é mais complexo, a forma como percebemos e processamos esse estímulo visual é diferente e, provavelmente, mais complexa do que a forma como percebemos estímulos visuais de objetos artificiais. Por esta razão, os participantes julgam que a duração do estímulo de movimento humano é maior do que a duração do estímulo artificial”, explica Giuliana Giorjiani, agora investigadora no Proaction Lab responsável pelo estudo.

Os investigadores também fizeram variar a velocidade dos vídeos, aumentando e diminuindo o número de fotogramas (ou frames) por segundo a fim de encontrar a velocidade tornava o movimento biológico mais natural. De seguida, verificaram o que acontecia no cérebro, nomeadamente numa região chamada Sulco Temporal Superior (STS), que se sabe responder ao movimento e à forma humana. Para isso recorreram a uma técnica chamada Espectroscopia funcional de luz próxima ao infravermelho que, à semelhança dos oxímetros que são colocados na ponta dos dedos dos pacientes num hospital, medem a presença de oxigénio no sangue.

“Ao medirmos a quantidade de hemoglobina no sangue com e sem oxigénio, conseguimos verificar que existia uma maior atividade no STS quando os participantes visualizaram movimento biológico em relação ao artificial”, clarifica a investigadora.

O cérebro humano é ainda um grande mistério para os investigadores. “Sabemos que o nosso cérebro tem vários vieses, tais como a perceção de tempo. Saber como estes processos funcionam poderão ajudar a sociedade a utilizá-los a nosso favor”, conclui.

Uma demonstração dos estímulos está disponível aqui [icon name="youtube" class="" unprefixed_class=""]

Giorjiani, G.M., Biazoli, C.E. & Caetano, M.S. Differences in perceived durations between plausible biological and non-biological stimuli. Exp Brain Res (2020) [icon name="file-pdf-o" class="" unprefixed_class=""].

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160 anos de Psicofísica. A Ciência e a Medida das Sensações

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-user-listing-4 columns="1" title="" icon="" hide_title="1" heading_color="" heading_style="default" title_link="" filter_roles="0" roles="" count="1" search="" order="DESC" order_by="user_registered" offset="" include="18" exclude="" paginate="none" pagination-show-label="0" pagination-slides-count="3" slider-animation-speed="750" slider-autoplay="1" slider-speed="3000" slider-control-dots="off" slider-control-next-prev="style-1" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" custom-css-class="" custom-id="" override-listing-settings="0" listing-settings="" bs-text-color-scheme="" css=""][/vc_column][vc_column width="3/4"][vc_column_text css=".vc_custom_1606296556974{margin-left: 26px !important;}"]Há pouco mais de século e meio, na manhã do dia 22 de Outubro de 1860, Gustav Fechner, físico alemão, e tal como contado pelo próprio, teria uma ideia inovadora que viria a inaugurar a Psicofísica e, por conseguinte, a lançar as bases das Ciências Psicológicas. Psicofísica é, usualmente, definida como a subárea da Psicologia que se dedica ao estudo e esclarecimento das relações matemáticas entre a intensidade de estímulos físicos (grandezas objectivas) e a magnitude das sensações correspondentes (grandezas subjectivas). Para Fechner, que multiplicava a sua carreira entre escritos satíricos (sob o pseudónimo de Dr. Mises) e um interesse assumido pela Filosofia, postular uma função matemática que capturasse a relação entre intensidades físicas e sensoriais seria um passo decisivo para a resolução do problema mente-corpo.


Para tal, a principal questão a resolver prender-se-ia com a medida de sensações subjectivas, não observáveis. Enquanto que para a mensuração de grandezas objectivas existiam já procedimentos bem estabelecidos e unidades de medida adequadas, o mesmo não poderia ser dito acerca de sensações, de natureza subjectiva e não directamente observável. Para a resolução desta questão, Fechner basear-se-ia nos trabalhos de um colega seu da Universidade de Leipzig – Ernst Weber. Este último havia conduzido uma série de estudos acerca da sensação e percepção de peso, nos quais participantes humanos levantavam à vez objectos com pesos ligeiramente distintos entre si e eram indagados acerca de qual lhes parecia mais pesado ou mais leve. Weber notou que o incremento mínimo necessário para que um qualquer peso fosse discernivelmente mais pesado seria sempre uma fracção constante do peso inicial. Por exemplo, a um peso de 1Kg deveriam ser acrescentadas, no mínimo, 70g para que esse parecesse ligeiramente mais pesado (ou seja, um peso de 1Kg e um peso de 1.06Kg são perceptivamente idênticos, já que a diferença é inferior a 70g). Contudo, a um peso de 5Kg o incremento mínimo que seja apenas discernível já é de 350g; um peso de 10Kg deverá ser aumentado em 700g para que pareça mais pesado, e assim sucessivamente. Em todos estes casos, o incremento em gramas vai aumentando, mas mantém-se como uma fracção constante do peso inicial: 0.07. Dito de outra forma, na sensação de peso, um qualquer objecto deverá ser 7% mais pesado para que a diferença seja discernível.


Central nos dados de Weber é o conceito de limiar diferencial e, acima de tudo, a noção de “diferença apenas perceptível” ou DAP. Retornando à ideia de Fechner, o que este hipotetizou foi tão somente que as DAP poderiam ser tomadas como unidades de medida de sensações subjectivas – como cada DAP constitui o ponto em que há uma sensação distinta, então bastaria contar, para qualquer magnitude física, o número de DAPs contidos nesse valor. De notar que a fracção de 0.07 aplica-se à sensação de peso, sendo que outras modalidades sensoriais poderiam ser descritas com outros valores (a fracção de Weber é, a rigor, tomada como uma medida de sensibilidade – modalidades sensoriais com fracções menores são mais sensíveis a variações de intensidade). Por exemplo, somos particularmente bons a discriminar visualmente diferenças de áreas entre figuras geométricas (fracção de Weber de 0.06), diferenças no comprimento de linhas (fracção de 0.03), diferenças de saturação de vermelho (fracção de 0.02) ou diferenças na intensidade de brilho (fracção de 0.08). Por contraste, são precisos maiores incrementos na intensidade física de um estímulo para que possamos discriminar diferenças entre sabores salgados (fracção de 0.14), doces (fracção de 0.17) ou aromas (fracção de 0.24).


Independentemente do valor da fracção de Weber para uma qualquer modalidade sensorial, o uso dos DAPs como unidade de medida resulta invariavelmente na mesma conclusão: a relação entre intensidades físicas de um qualquer estímulo ao qual sejamos sensíveis e a magnitude sensorial é uma função logarítmica, negativamente acelerada – conclusão que veio a ficar conhecida sob o nome de Lei de Fechner. De notar que, mais de um século antes, Daniel Bernoulli, matemático e físico suíço, havia já proposto uma relação similar entre o valor objectivo de bens monetários e a utilidade subjectiva a esses associado.


Para Fechner, a relação logarítmica entre grandezas objectivas e intensidades subjectivas constituiria a base a partir da qual os fenómenos psicológicos poderiam ser entendidos, e explicaria vários aspectos sobre a nossa relação com virtualmente qualquer estímulo: uma vela acesa pouco impacto tem na luminosidade de uma sala com um candeeiro ligado, mas o seu brilho é claramente perceptível se acesa no escuro; ganhar €100 quando se tem a conta a zero tem muito mais impacto do que o mesmo ganho quando se é milionário; uma aparelhagem a tocar música é muito mais perceptivelmente audível no silencio da madrugada que a meio do dia; etc. Um exemplo de como a Lei de Fechner é, hoje em dia, implementada em dispositivos móveis, é dado pela variação automática do brilho de alguns ecrãs consoante a luminosidade ambiente, por forma a reduzir o consumo energético. Um outro exemplo é dado pela escala de decibéis, propositadamente uma relação logarítmica da pressão sonora para veicular a sonoridade perceptível de uma dada fonte de ruído.


Como já referido, os trabalhos de Fechner, e em particular a sua obra “Elementos de Psicofísica”, viriam a constituir parte dos alicerces das Ciências Psicológicas, não somente pela lei homónima, mas por ter estabelecido vários métodos para a medida de limiares sensoriais (e, logo, de DAPs). Ainda que, posteriormente, a Lei de Fechner tenha sido questionada e revista, os métodos desenvolvidos por este para a mensuração de magnitudes subjectivas não só se mantiveram como importantes ferramentas nas mais diversas áreas das Ciências Psicológicas, como se viram aplicados a outras ciências, como o sejam a Ortóptica (e.g., a tabela de Snellen, com letras impressas em diferentes tamanhos que devem ser identificadas pelo paciente) e a Audiologia (e.g., para obtenção de um audiograma).[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Estudo desvanda mecanismos centrais no desenvolvimento de traços borderline na adolescência

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-push-notification style="t2-s1" title="Subscribe for updates" show_title="0" icon="" heading_color="" heading_style="default" title_link="" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css=".vc_custom_1605640388312{margin-bottom: 30px !important;}" custom-css-class="" custom-id=""][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][vc_column width="3/4"][vc_column_text css=".vc_custom_1605640375659{margin-left: 26px !important;}"]Uma equipa da Universidade de Coimbra (UC) está a desenvolver um estudo, o primeiro em Portugal focado na adolescência, que visa a deteção precoce da perturbação borderline da personalidade (PBP), bem como a identificação de fatores de risco e protetores que permitam construir programas de intervenção eficazes para combater a patologia.

A perturbação borderline da personalidade é uma perturbação grave associada a elevada tendência suicida. Estima-se que 2 a 6% da população mundial padeça desta perturbação marcada por uma intensa instabilidade emocional, impulsividade e autodano. Sendo uma perturbação desenvolvimental, não surge subitamente, pelo que se vai desenvolvendo ao longo do tempo. Por isso, a deteção precoce é essencial para prevenir o agravamento da patologia.

Este estudo pretende precisamente «detetar e sinalizar o mais precocemente possível esta perturbação, por forma a evitar que se agrave. Na adolescência, conseguimos logo detetar traços disfuncionais desta patologia, que, com o avançar da idade, acabam por se cristalizar e intensificar, com consequências graves», explica Diogo Carreiras, investigador principal do estudo, destacando que esta é a grande novidade do projeto, já que, «em vez de estudar esta perturbação severa numa ótica remediativa, ou seja, a pessoa já tem a perturbação, o nosso foco é atuar antes, para prevenir e impedir a perturbação».

Os primeiros resultados deste estudo, que envolveu 1007 adolescentes (420 rapazes e 587 raparigas) de sete estabelecimentos de ensino básico e secundário do Centro e Norte de Portugal, com uma média de idades de 15.3 anos, e pais, sugerem que, em média, as raparigas adolescentes apresentam traços borderline mais elevados do que os rapazes.

Foram também explorados fatores protetores e fatores de risco no desenvolvimento e na evolução dos traços borderline. «Estudámos duas variáveis opostas: uma de risco, a autoaversão, caracterizada por uma relação de grande criticismo, aversão e de ataque ao “eu”; e uma variável protetora, a autocompaixão (relação de autocuidado), que se traduz na capacidade de sermos sensíveis ao nosso próprio sofrimento, reconhecendo-o, e de agir de forma genuína e comprometida no sentido de o aliviar», clarifica o investigador do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC).

Verificou-se que, independentemente do sexo, estas duas variáveis assumem um papel importante na evolução da sintomatologia borderline na adolescência, mostrando assim que são variáveis essenciais a considerar na compreensão dos traços borderline nesta faixa etária.

Devido à falta de investigação dos traços borderline na adolescência em Portugal, a equipa desenvolveu instrumentos de avaliação e sinalização destes traços, nomeadamente dois questionários de autorresposta, um para adolescentes e outro para os pais, e uma entrevista clínica para psicólogos, psiquiatras e pedopsiquiatras poderem administrar a adolescentes, com uma linguagem adaptada que traduz causas e mecanismos dos traços borderline.

Outra das conclusões do estudo, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), indica que há diferenças entre raparigas e rapazes no que respeita a comportamentos autolesivos não suicidários. As raparigas tendem a usar mais métodos de cortes superficiais de determinadas áreas do corpo (por exemplo, braços, pulsos), enquanto os comportamentos autolesivos dos rapazes tendem a relacionar-se mais com bater neles próprios (por exemplo, darem murros). Ao nível da impulsividade, não se encontram diferenças globais entre os sexos, porém os rapazes parecem ter maior dificuldade em controlar comportamentos relacionados com o consumo de álcool e drogas.

Segundo Diogo Carreiras, os resultados desta investigação podem ser fundamentais para desenvolver programas dirigidos a esta população de risco, «permitindo encontrar orientações para o desenho de intervenções psicoterapêuticas no âmbito da prevenção e de estudos empíricos futuros. Os dados desta investigação salientam variáveis essenciais para compreender os traços borderline em adolescentes, bem como as diferenças nesses mecanismos psicológicos entre raparigas e rapazes, tendo significativas implicações para a prática clínica e prevenção».

Iniciado em 2018, este estudo insere-se num projeto mais amplo de investigação longitudinal, intitulado “Traços Borderline na Adolescência: Estudo prospetivo do desenvolvimento da Perturbação Borderline da Personalidade”, e faz parte da tese de doutoramento do investigador, orientado pelas docentes Paula Castilho e Marina Cunha.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

UC lidera consórcio internacional para estudo pioneiro sobre a resiliência psicológica durante a pandemia COVID-19

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-push-notification style="t2-s1" title="Subscribe for updates" show_title="0" icon="" heading_color="" heading_style="default" title_link="" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css=".vc_custom_1588002144384{margin-bottom: 30px !important;}" custom-css-class="" custom-id=""]

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[/vc_column][vc_column width="3/4"][vc_column_text css=".vc_custom_1588002119282{margin-left: 16px !important;}"]A Universidade de Coimbra (UC) lidera um consórcio internacional que vai estudar a compaixão, conexão social e resiliência perante o trauma durante a pandemia COVID-19.

Coordenado por Marcela Matos, do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), este estudo [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""], pioneiro pelo foco da análise e pela abrangência multicultural da equipa de investigadores e da população-alvo, envolve investigadores de 18 países de todo o mundo - Portugal, Espanha, Itália, França, Reino Unido, Dinamarca, Eslováquia, Estados Unidos da América, Canadá, Austrália, Japão, Argentina, Chile, Colômbia, Perú, Uruguai, México e Brasil -, provenientes de instituições académicas, empresas e organizações sem fins lucrativos, como a The Compassionate Mind Foundation (Reino Unido).

Considerando que a crise associada à COVID-19 tem efeitos nefastos tanto na saúde física quanto na saúde mental das pessoas em todo o mundo, o objetivo, explica Marcela Matos, «é examinar o impacto psicológico desta pandemia e compreender que fatores podem ser protetores contra as suas consequências negativas ao nível da saúde mental».

«Pretende explorar, ao longo do tempo e em diferentes países/culturas, os efeitos da pandemia COVID-19 na nossa sensação de segurança e ligação aos outros, sintomas psicopatológicos (como a ansiedade, depressão e trauma), procurando determinar de que modo as pessoas lidam com esta situação e se a mesma pode ser fonte de crescimento pessoal pós-traumático. Um dos aspetos mais inovadores consiste na investigação do possível efeito protetor da compaixão e da autocompaixão», explicita a coordenadora do consórcio.

A compaixão «tem sido definida como a sensibilidade ao sofrimento no próprio e nos outros, capaz de gerar esforços concretos para aliviar ou prevenir esse mesmo sofrimento. Este projeto investigará, de modo transcultural, se a compaixão desempenha um papel protetor relevante na atenuação dos efeitos nocivos da pandemia na saúde mental dos indivíduos», acentua.

Este estudo tem como população-alvo indivíduos da população geral (com idades compreendidas entre os 18 e os 80 anos), profissionais de saúde e pessoas em cargos de chefia em empresas e instituições. A participação envolve o preenchimento anónimo e confidencial de um questionário online.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Estudo analisou sintomas de depressão, ansiedade e stress em crianças portuguesas em idade escolar

[vc_row][vc_column width="1/4"][bs-push-notification style="t2-s1" title="Subscribe for updates" show_title="0" icon="" heading_color="" heading_style="default" title_link="" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css=".vc_custom_1585063844593{margin-bottom: 30px !important;}" custom-css-class="" custom-id=""][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][vc_column width="3/4"][vc_column_text css=".vc_custom_1585063810230{margin-left: 15px !important;}"]Um estudo [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""] sobre sintomas de depressão, ansiedade e stress em crianças portuguesas, publicado na revista científica BMC Psychiatry, sugere que os meninos têm maior probabilidade de apresentar sinais depressivos e de stress do que as meninas, entre outros fatores que parecem influenciar a frequência destes sintomas.

Realizado por uma equipa multidisciplinar da Universidade de Coimbra (UC), Universidade de Lisboa (UL) e Universidade Fernando Pessoa, Porto, e do Instituto Politécnico de Viseu (IPV), este estudo teve como objetivo explorar os fatores associados a sintomas de ansiedade, depressão e stress nas crianças portuguesas em idade escolar, dos 7,5 aos 11,5 anos, uma vez que existem poucos dados sobre a magnitude e causas dos problemas de saúde mental mais comuns em idades tão jovens.

Participaram no estudo 1022 crianças - 481 meninos e 541 meninas – de escolas públicas e privadas das cidades de Coimbra, Lisboa e Porto e os respetivos pais. Ao analisarem os autorrelatos das crianças, os investigadores concluíram que os rapazes reportam mais frequentemente sintomas de stress e sintomas depressivos do que as raparigas.

[caption id="attachment_3928" align="alignleft" width="1200"] Diogo Costa[/caption]

As diferenças entre meninos e meninas na expressão destes sintomas podem ser influenciadas pelo contexto cultural. «Poderão residir numa maior tendência das meninas para responder de forma socialmente mais desejável ou expectável», afirma Diogo Costa, primeiro autor do artigo.

Os investigadores concluíram também que as crianças de Lisboa reportam mais frequentemente sintomas do que as de Coimbra e Porto. «As crianças de Lisboa, por comparação com as de Coimbra e Porto, poderão estar expostas a características do ambiente urbano mais prejudiciais que se refletem na frequência destes sintomas. Por exemplo, poderão ter de percorrer maiores distâncias no percurso entre casa e escola, e passar mais tempo no trânsito», justifica o investigador do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), centro que liderou o estudo.

Esta investigação sugere ainda que os fatores parentais, em particular os sintomas depressivos, de ansiedade e de stress da mãe, interferem de forma negativa na saúde mental das crianças. Segundo Diogo Costa, «a influência (negativa) do estado emocional das mães nas emoções das crianças é bastante conhecida, sobretudo para os sintomas depressivos, e pode fazer sentir-se desde cedo. São necessários, contudo, estudos longitudinais (que acompanhem as crianças e mães ao longo do tempo) para melhor avaliar outros fatores intervenientes nesta relação, como por exemplo a vinculação entre pais e crianças».

Considerando que os sintomas de depressão, ansiedade e stress experienciados durante a infância podem ter um impacto negativo no desenvolvimento, a coordenadora do estudo, Cristina Padez, defende que «são imprescindíveis estudos longitudinais para conhecermos o impacto destes sintomas no aparecimento da obesidade infantil, um problema com uma grande expressão na generalidade dos países desenvolvidos e em que Portugal também tem taxas muito elevadas».

Este estudo, que faz parte de um projeto de investigação mais alargado, intitulado “Desigualdades na obesidade infantil: o impacto da crise socioeconómica em Portugal de 2009 a 2015”, foi cofinanciado pelo COMPETE 2020, Portugal 2020 - Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI), União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

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