“Padrão dos Descobrimentos” e outras descobertas

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Perante a possibilidade teórica de ser derrubado o “Padrão dos Descobrimentos”, o que foi apresentado como símbolo da estocada final numa ditadura ainda disseminada pelos espíritos portugueses, outras descobertas importam.


Sejamos, como sugere a minha amiga Alexandra A., coerentes e radicais: o Parlamento português está sediado no Palácio de São Bento. Ora, qual é a proveniência deste palácio? É pura e simplesmente a do primeiro mosteiro beneditino edificado em Lisboa. E não são as Ordens Religiosas, a par com a nobreza, símbolo de um Antigo Regime que a ascensão do Terceiro Estado erradicou simbólica e realmente? Deita-se abaixo ou reverte para a Ordem dos Beneditinos actual? E onde se iriam sentar e debater tão solenemente os deputados e as deputadas? Construía-se um Palácio de Cristal à Peter Sloterdijk? Ou talvez pudessem pedir de empréstimo, tanto o barril de Diógenes, como a barca de Caronte. Seguindo esta linha de raciocínio, na verdade, pouco restaria de pé no nosso país: desde câmaras municipais e juntas de freguesia, passando por bibliotecas, quartéis militares, ou hospitais.


A burguesia, como se sabe, não tem ascendentes: apenas descendentes. Mas os antigos membros da nobreza não desapareceram todos após as Revoluções Liberais. O que lhes aconteceu? Transformaram-se, também, nos descendentes da burguesia que, como se sabe, e repito, não tem ascendentes: apenas descendentes. Todavia, como Friedrich Nietzsche diz, e bem, “uma vez que somos o resultado de antigas gerações, somos também o resultado dos seus enganos, paixões ou erros, ou mesmo crimes; não é possível libertarmo-nos por completo desta cadeia.” Portanto, a burguesia também tem Pais, que não se circunscrevem a Jean-Jacques Rousseau, que por sua vez foram filhos, e teriam ainda avós, e assim por diante. Todavia, o gesto fundador e primordial da burguesia enquanto referente é de facto lançar-se numa câmara do tempo como que esvaziada, numa cápsula algo hermeticamente fechada, que opera num ar sem estar saturado daquilo a que se chama “tradição”, que é uma palavra sem ares de progressismo, sempre a puxar para os lados, sempre a distrair do futuro.


No entanto, a par desta iconoclastia repare-se como se dissemina insidiosamente a comercialização da marca “museu”: temos os museus do pão – quando o verdadeiro que comemos se torna cada vez mais fermentoso; temos os museus da água – quando este essencial líquido se vai configurando como bem escasso a nível planetário; temos os museus de índole local e regional – quando existem mecanismos que cada vez mais se instalam enquanto marca de indiferenciação territorial e humana, etc., etc. E temos a retórica associada a cada um destes museus: a sua grande marca diferenciadora. Pergunto: diferenciadora de quê, se existe, efectivamente, um instintivo esconjuro da história enquanto amálgama de heranças como ar deste nosso tempo?


Veja-se ainda que se vem alterando o paradigma museológico: de contemplativo para interactivo. Se aqui enxertarmos as directrizes, nomeadamente europeias, de linguagem simples e textos curtos para toda a literatura que permanece disponível nos espaços museológicos, que também considero responsáveis por aquilo a que chamo as experiências de algodão doce, ou seja, aquelas experiências que supostamente se destinam a salvaguardar a identidade do visitante e que vão ao dito encontro dos públicos, e que, portanto, não arriscam, questiono: com quem se interage? Corremos o risco de criarmos museus à ideia e semelhança de Narciso, enquanto alguém propõe demolições insanas cujo gesto iconoclasta poderia ser colmatado, por exemplo, através de centros de interpretação estratégicos.


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