Este PFN e a forma como será discutido – qualquer um pode, e deve, enviar os seus contributos através do seu site oficial [icon name="external-link-alt" style="solid" class="" unprefixed_class=""] – já são por si só inéditos, e vêm no seguimento de dois anos incríveis para o sector ferroviário: reabertura de oficinas, recuperação de dezenas de carruagens e locomotivas abandonadas, reabertura para breve da Linha da Beira Baixa, electrificação da Linha do Minho… A lista vai longa, neste período marcado por uma reversão de décadas de laxismo e destruição da ferrovia portuguesa desde o 25 de Abril.
Na sua intervenção, Pedro Nuno Santos relembrou o objectivo de conectar todas as capitais de distrito de comboio; relembrou, friso, pois esta meta já foi anunciada na proposta de Orçamento de Estado para 2021, no final do ano passado.
Vila Real é uma das três capitais de distrito sem ferrovia – sendo as outras Bragança e Viseu – e o autarca vilarealense não deixou de prestar declarações sobre a hipótese do regresso dos comboios à cidade. Que é a reparação justa por 30 anos de abandono da Linha do Corgo, e que a via deve estar a par dos padrões de excelência da rede rodoviária actual. Palavras justas, se não estivessem revestidas de uma profunda hipocrisia, que a nível pessoal me deixaram perplexo e indignado.
Desde 2012 que elaborei um estudo de viabilidade da reabertura da Linha do Corgo entre a Régua e Vila Real. Um estudo que demonstra a gritante desfasagem da realidade do que a extinta REFER apontou como custo de reabertura, e que aponta para a viabilidade económica e financeira do projecto, ao alargar as suas fontes de proveitos, e pela forma como a Economia local e o próprio Estado beneficiariam, com a criação de emprego e aumento de receitas comerciais e impostos. Estudo o qual já discuti na imprensa e rádios locais, e que se encontra publicado e explicado em detalhe no meu canal na rede social YouTube [icon name="youtube" style="brands" class="" unprefixed_class=""].
Em inúmeras ocasiões solicitei uma reunião com este autarca para apresentar este estudo, até porque, quando o abordei através do Movimento Cívico pela Linha do Corgo, grupo que fundei em 2010, o ainda candidato ao seu primeiro mandato na Câmara de Vila Real dizia-se a favor da reabertura deste troço ferroviário. E, contudo, em quase 8 anos de mandato, nunca fui recebido pelo mesmo, conseguindo apenas duas reuniões absolutamente inócuas com outros tantos vereadores, um dos quais me explicou de forma paternalista que o autarca não defende a reabertura da Linha do Corgo, porque o Governo também não o fazia, o que seria assim um, e cito, “suicídio político”. Entretanto, o canal ferroviário na cidade vai sendo transformado numa ecopista, num desperdício de dinheiros públicos sem critério e contra producente.
Dizer que tudo isto é desconcertante é pouco. Se o comboio pode voltar a Vila Real, no sentido de haver fundos para isso e ser uma meta essencial para alcançar objectivos como a descarbonização da Economia, promoção da coesão territorial, e devolução aos trasmontanos do direito à mobilidade sustentável e inestimável do caminho-de-ferro? Pode; aliás, deve. Uma Linha do Corgo reaberta e modernizada tornará por exemplo ainda mais rentável a Linha do Douro, a qual corre também o sério risco de assistir a uma reabertura histórica até Barca d’Alva.
Com a construção prevista de uma linha de Alta Velocidade entre Lisboa e o Porto, encurtando a viagem entre ambas para pouco mais de uma hora, Vila Real, mesmo levando meia hora de viagem até à Régua por comboio (tempo que qualquer outro transporte terrestre leva actualmente), ficará a 3h30 da capital – de autocarro são 5h.
É duro ser-se cidadão, ser-se munícipe, e ser-se olimpicamente ignorado pelo Poder local, que ao sabor da oportunidade ora é a favor, ora é contra, ora é totalmente indiferente. Venha de lá o serviço ferroviário por favor, senhores e senhoras mais esclarecidos que isto.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]