Equipa da FCTUC desenvolve ferramenta para integrar a Realidade Virtual na programação de robôs industriais

A inclusão da realidade virtual na robótica, especialmente na robótica industrial, pode ser vantajosa? Pode, e muito, revela um estudo inédito realizado na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em resposta a um desafio lançado pela DOLL Engineering, empresa alemã que desenvolve sistemas robóticos para a indústria.

Norberto Pires
Com recurso a dispositivos de realidade mista (como a usada no Microsoft HoloLens – óculos que juntam objetos de realidade virtual (hologramas) e de realidade aumentada), um grupo de investigadores do Laboratório de Robótica Industrial da FCTUC desenvolveu uma ferramenta robótica que tem tudo para «revolucionar a robótica industrial, designadamente a programação de robôs, porque estamos perante um novo conceito de interação Homem-máquina. Qualquer técnico vai poder programar um robô sem saber nada sobre ele», afirma Norberto Pires, coordenador do projeto.

Basicamente, partindo do potencial do equipamento HoloLens da Microsoft, que projeta hologramas (imagens tridimensionais) no ambiente real onde é utilizado, «o sistema desenvolvido permite que o utilizador extraia informação visual da peça real, por exemplo, do projeto em 3D dessa peça realizado numa ferramenta CAD, e a explore e manipule – visualmente em ambiente real – de acordo com a aplicação pretendida, através de simples gestos com as mãos. De seguida, transmite essa informação ao robô, que por sua vez a assimila e gera o código necessário para a realização das operações definidas, as quais podem incluir a produção da própria peça (por impressão 3D, por exemplo)», explicita o cientista da FCTUC.

Assim, esta nova ferramenta torna a programação de um robô «acessível a qualquer pessoa, uma vez que o programador deixa de ter de saber o código específico de cada máquina, como é que se programa um determinado robô, isto é, os seus detalhes, a linguagem específica usada, as características do robô, etc., ou seja, tudo isso pode ser escondido do programador, o qual se concentra somente nos aspetos operacionais», acentua Norberto Pires.

A equipa acredita que o sistema desenvolvido, em colaboração com a DOLL Engineering, terá «um vasto campo de aplicação num futuro próximo, mudando radicalmente a forma de programar robôs industriais. E, consequentemente, irá reduzir significativamente o tempo de projeção e de fabrico dos produtos, diminuindo os custos associados.»

A «integração da tecnologia de realidade virtual nos sistemas robóticos industriais atuais é, sem dúvida, um ponto de viragem na redução da complexidade para os utilizadores finais. A atual tecnologia de robôs ainda requer especialização avançada na programação», conclui Norberto Pires.

Este estudo foi publicado recentemente na revista internacional “Industrial Robot” da editora Emerald.

«É necessário promover a interdisciplinaridade para Portugal chegar à vanguarda científica»

Entrevista a Ricardo Duque Gabriel , doutorando em economia na Universidade de Bonn, na Alemanha. «Existem cada vez mais profissionais com um grande impacto na comunidade científica internacional a leccionarem em Portugal. Além disso, existem ainda professores portugueses além-fronteiras que todos os dias ajudam a melhorar a reputação de Portugal lá fora.»

Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?

Ricardo Duque Gabriel
De momento, encontro-me num programa de doutoramento em Economia na Universidade de Bonn. Todos os dias, após chegar ao escritório, tento compreender um pouco melhor as interacções entre as diferentes políticas económicas e as implicações que elas trazem para a desigualdade entre países e dentro do mesmo país (regiões). Para o fazer, testo modelos e hipóteses teóricas através do uso de ferramentas econométricas que analisam dados reais sobre as economias desenvolvidas.

Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?

Um exemplo de questão que gostaria de responder ao longo dos próximos anos é se existe evidência real de que as acções do Banco Central Europeu (chamadas de política monetária) têm diferente influência nas acções dos governos (política fiscal) de diferentes países. Esta questão tem sido debatida politicamente: todos os dias ouvimos os partidos portugueses "anti-euro" a dizerem que as políticas seguidas pelo BCE favorecem determinados países como a Alemanha em detrimento dos países da periferia, como Portugal e Espanha. No entanto, será que os dados económicos que observamos corroboram esta ideia?

Para mim, isto é do mais entusiasmante na investigação económica. Por um lado, ela consegue retirar importantes lições do passado de forma a aconselhar, ou idealmente guiar as decisões de quem as toma no futuro. Por outro lado, além de acrescentar transparência ao debate político, ela consegue acrescentar transparência também ao debate social, mas para este último ponto acontecer precisamos de "ouvir" mais os economistas.

Por que motivos decidiu fazer períodos de investigação no estrangeiro e o que encontrou de inesperado nessa realidade académica?

Durante a licenciatura em Economia na Nova School of Business and Economics, UNL, tive a oportunidade de estudar durante um semestre na University of Southern California em Los Angeles. Esta experiência fez-me crescer muito, conhecer novas realidades e perceber que tenho ainda muito por descobrir e aprender. Após terminar a licenciatura, além de a propina ser mais reduzida, senti que precisava de mais uma experiência lá fora e tive a oportunidade de frequentar o mestrado em Economia na Universidade de Tilburg, Países Baixos.

A etapa seguinte apareceu naturalmente - ingressar num doutoramento. Apesar de ter considerado Portugal para o fazer, o pouco apoio financeiro para alunos de doutoramento e a não tão forte reputação internacional destes programas actualmente desmotivou-me. Ingressei então na Universidade de Bonn, Alemanha. Em Bonn, encontrei um sistema de ensino mais tradicional e concentrado nas componentes mais técnicas como a Matemática e a Programação. Além disso, encontrei inesperadamente a facilidade em obter financiamento para investigação, o que contrasta com Portugal.

Actualmente, só no departamento de Macroeconomia da Universidade de Bonn existem dois grupos de trabalho financiados com bolsas da European Research Council: o RTG 2281 liderado pelo Professor Christian Bayer com um financiamento de 1.926.000 euros, e o projecto SAFEHOUSE liderado pelo Professor Moritz Schularick com um financiamento de 1.540.000 euros.

Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?

Em Economia faço uma apreciação positiva no geral. Antes de pensarmos no panorama científico temos de olhar para a educação - a impressão que tenho é que em Portugal os alunos estão bem preparados analiticamente, desenvolvendo sempre algum espírito crítico, pois é importante sabermos questionar o mundo à nossa volta. Obviamente que esta observação é muito influenciada pelos meus estudos na Nova SBE, no entanto, acredito que os alunos portugueses são cada vez mais reconhecidos pelas suas capacidades. Para este aspecto ser possível, precisamos de (e temos!) professores e investigadores com muita qualidade. Felizmente, existem cada vez mais profissionais com um grande impacto na comunidade científica internacional a leccionarem em Portugal. Além disso, existem ainda professores portugueses além-fronteiras que todos os dias ajudam a melhorar a reputação de Portugal lá fora (como um dos meus role models: o Professor Ricardo Reis).

Existem, no entanto, algumas dificuldades que têm de ser ultrapassadas para conseguirmos explorar todo o potencial que Portugal tem. Actualmente, o apoio financeiro dado aos nossos investigadores aparenta ser deficitário: por um lado pobre e por outro burocrático. Mais fundos deveriam ser mobilizados (em vez de cativados) e muitos processos de obtenção dos mesmos poderiam ser desburocratizados. Além de fundos, também penso que é necessária a promoção da interdisciplinaridade para Portugal conseguir chegar à vanguarda do panorama científico internacional. Em jeito de confissão, gostaria de voltar um dia e tentar ajudar Portugal a melhorar este paradigma, seja através do ensino ou mesmo através do desenho de políticas que apoiem o desenvolvimento da educação e da investigação.

Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?

Para já, penso ser uma excelente iniciativa com potencial para ser uma plataforma de interacção interdisciplinar entre as mais diversas áreas de investigação. A Economia, por exemplo, beneficia diariamente com os avanços nas áreas da Matemática, Saúde, Engenharia, e não só. Porque não utilizar esta plataforma para promover mais activamente esta mesma troca de ideias? Fica a sugestão.

GPS/Fundação Francisco Manuel dos Santos
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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