Vão hienas entre Leões

|Daniel Conde|
O dia 15 de Maio de 2018 vai ficar gravado na História, não só do Sporting, como do futebol português. Cinquenta “adeptos”, supostamente ligados à claque Juventude Leonina, entraram sem oposição pela Academia de Alcochete adentro, agredindo jogadores e equipa técnica, e deixando um rasto de destruição.

À pura estupefacção perante o incidente, seguiu-se-me uma imensa tristeza; se se diz com piada e alguma razão que o coração do sportinguista está habituado a sofrer, nada, absolutamente nada preparou o coração de qualquer adepto do Sporting para a infinita mágoa sobre os acontecimentos desse dia.

Talvez seja cedo para nos apercebermos, e, arriscando-me a pura futurologia, mas virou-se uma página definitiva na História do clube e do desporto em Portugal. A um incidente com contornos de terrorismo como este, nada poderá permanecer como antes. A começar pela direcção do Sporting, e passando pela forma como o desporto é escrutinado política e judicialmente, numa época de inimagináveis atropelos legais, esgrimidos histericamente em público como quem abana cachecóis do seu clube em dia de jogo no estádio.

À invasão com a maior das facilidades de um complexo desportivo de um clube com dimensões internacionais, agressão a atletas e staff cuja segurança cabe ao clube garantir, e à destruição de equipamentos e instalações, o responsável máximo do Sporting responde que foi um acontecimento “chato”, e que o “crime faz parte do dia a dia”. Já seria inimaginável ouvir isto de um adepto, sócio, ou dirigente intermédio do clube, mesmo que ébrios à mesa do café. Ouvilo do presidente quando ainda reinava o estado de sítio é avassaladoramente grotesco. E dito enquanto transformava um acto de terror contra membros do clube a que preside, numa fonte de aproveitamento por terceiros e numa cabala contra a sua própria pessoa.

Quando Bruno de Carvalho pegou no leme do Sporting, recorde-se, a equipa de futebol sénior saía de um resultado vexatório no campeonado, e o clube de negócios ruinosos que ameaçavam a sua própria sobrevivência, havendo mesmo responsáveis suspeitos da prática de crimes. E Bruno de Carvalho equilibrou as contas, voltou a encher Alvalade com adeptos, e trouxe para o reduto leonino mais uma Taça de Portugal. E acabou aí a lua de mel com os adeptos: qual herói apaixonado pela própria lenda, incompatibilizou-se com um excelente treinador como foi Marco Silva, impôs-se no banco dos jogadores aonde não pertence, entrou numa demanda quixotesca pela verdade desportiva, usou e abusou das redes sociais como vazadouro de dixotes e má educação, cuspiu/fumou para cima de um dirigente de outro clube, enxovalhou publicamente os jogadores após um mau resultado, ameaçou a torto e a direito com suspensões. E este comportamento incendiário de tiranete trouxe-nos a este 15 de Maio, não o justificando, mas ajudando em larga medida a compreendê-lo.

A dias da final da Taça de Portugal, há a ameaça real da saída a custo zero de jogadores do clube, mediante rescisão por justa causa, sabe-se lá em que estado mental e mesmo físico o plantel poderá apresentar-se no Jamor – e no Mundial, os investidores e patrocinadores do clube estarão certamente de calculadora nas mãos, e o nome deste clube centenário que tem fornecido ao mundo do futebol apenas nomes como Figo, Simão Sabrosa, Quaresma, Moutinho, Ronaldo, Rui Patrício, entre muitos outros, jogado na lama além fronteiras.

E, cereja no topo do bolo, afinal também o nosso Sporting se vê a braços com uma investigação criminal, sobre um suposto esquema de corrupção para viciação de resultados, nas modalidades de andebol e futebol, descendo ao mais baixo grau de vilania, e sujeitando o clube a sanções pesadíssimas. Sr. Bruno de Carvalho, tenha um último acto de decência para com o Sporting: demita-se, já.

Aos vândalos e aos dirigentes que enxovalharam o nome do Sporting, do futebol e do andebol português, e atentaram contra ou prevaricaram de forma abjecta em nome deste clube, faço votos à Justiça para uma decisão exemplar.

Faço minhas as palavras de alguns adeptos: somos 3,5 Milhões de Leões, não 50 + 3 hienas.

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