Matilde de Portugal

|Daniel Conde|
Acabou de se escrever uma página na História do nosso país. Uma página que nos enche de orgulho, na nossa condição humana, e na de Portugueses. 

A meio da semana passada conheci o caso da Matilde, uma bebé de 2 meses a quem foi diagnosticada uma doença terrível – a atrofia muscular espinhal, do tipo 1 – uma doença motivada pela falta de um gene responsável pelo desenvolvimento muscular, e com uma avassaladora taxa de mortalidade até aos 2 anos de idade de 95%.

Dois anos e meio é a idade actual da minha filha. E o olhar de doçura e inocência da pequenina fez-me lembrar o da minha Leonor. Não contribuir imediatamente para a conta solidária da Matilde nem sequer seria uma hipótese, e 10 minutos depois de ler a notícia no jornal já tinha enviado uma pequena soma para ela. Foi isto no dia 27 de Junho, e o valor reunido no final desse dia nesta conta era de quase 400 mil euros – uma conta criada no dia 19 de Junho.

Se quase meio milhão de euros reunidos por dezenas de milhares de pessoas em apenas 1 semana para salvar a vida de uma bebé parece inspirador, o que dizer de se ter atingido hoje, 2 de Julho, os dois Milhões de euros necessários – menos de 2 semanas desde a abertura da conta solidária da Matilde – para a compra do medicamento que lhe poderá salvar a vida?

Não sei se toda a gente se apercebeu disto, mas estamos perante um fenómeno raro e absolutamente extraordinário. A Humanidade no seu melhor aconteceu aqui, em Portugal, tantas vezes erradamente apodado de “um país pequeno”. Não foi um fenómeno exclusivo dos portugueses, pois testemunhos houve de cidadãos estrangeiros a enviarem com igual carinho e desprendimento os seus contributos. Claro que a solidariedade também não é um gesto exclusivo dos portugueses. Mas este caso é português e passou-se em Portugal. E isso sim ninguém nos tira, e devia-nos encher a todos de um imenso orgulho.

Na página do Facebook da Matilde – uma bebé verdadeiramente especial! – muitos apelos houve a futebolistas e clubes de futebol, grandes empresários e até à classe política, como se se tratasse de uma obrigação moral estes grupos em específico contribuírem com somas avultadas.

Sim, um décimo do salário ou dos proveitos anuais de um Cristiano Ronaldo ou de uma EDP, ou de todo o sorvedouro de impostos que tem sido canalizado para uma banca liderada por aventureiros, teriam catapultado a conta da Matilde para valores estratosféricos em apenas um dia. Mas nem o Ronaldo nem a EDP – nem qualquer pessoa ou empresa com altos rendimentos – têm obrigação de o fazer, só porque ganham bem, ou porque são figuras públicas. E, como ficou mais que provado, bastou um olhar inocente de uma bebé com a vida presa por um fio, para mobilizar uma fracção da nossa população total a juntar uma soma que parecia, senão impossível, altamente improvável de se juntar em tão pouco tempo.

É caso para dizer que nem sei bem se não somos um povo coração de manteiga, ou uns verdadeiros heróis. Claro que, infelizmente, há outras “Matildes”, com esta ou outras doenças terríveis, e que não tiveram ou terão a “sorte” de uma onda de apoio destas. Mas este caso inspirará outros, e ficará na nossa memória colectiva por muitos anos; na minha ficará de certeza.

Esta menina é um símbolo do nosso país: parabéns e boa sorte, princesa Matilde de Portugal!

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