O que é preciso

|Tânia Rei|
As manhãs cheiram a torradas.
Às vezes, cheiram a tostas mistas, onde claramente predomina o queijo, que escorre gulosamente pelas bordas lambuzadas de manteiga.

As manhãs cheiram a café com leite, com pouco açúcar, para não desfazer a amargura na boca totalmente. Porque o amargo, assim como o doce e o salgado, são precisos, nem mais que não seja para testarmos as nossas papilas gustativas – como sabemos que funcionam, se não as usarmos?

As manhãs têm pouca gente na rua. Logo pela fresquinha, só anda na calçada quem precisa mesmo. As manhãs, além do sabor a torradas e a leite com café, trazem um trago de frescura. Um bafo, nem quente nem frio, assim no modo ideal, que entra pelas narinas e que se aloja na boca. Fica ali, durante parte daquela manhã, a ruminar, a roçar-se nos dentes, na língua, na garganta… E vai descendo, devagarinho, até que se aloja no coração.

O que é preciso mesmo? É que continuem a existir as manhãs. Muitas manhãs. Porque às manhãs sucedem-se as horas de almoço, as tarde, os finais de tarde, as noites e os serões.

Segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos. Somados, aumentados, multiplicados, repuxados, almejados. Tenhamos nós manhãs suficientes. Saibamos nós aproveitar as manhãs.

Se as manhãs foram sinónimo de renovações na vida, de novos recomeços, de novas oportunidades, não acordemos depois do meio-dia. Porque só quem vê manhãs, novas manhãs, manhãs renovadas, pode ver coisas novas e fazer as melhores escolhas.

As manhãs têm este dom: ver as coisas começar, do início. Não andamos ali perdidos, sem saber o que aconteceu, ninguém toma decisões antes por nós.

As manhãs cheiram a torradas. As torradas têm um toque de amor, nos meios dourados e humedecidos de manteiga. O amor sabe bem de manhã, e combina com a vida. As manhãs fazem uma cadeia de pensamento mais ou menos circular, qual fio feito com flores de Primavera onde dedos febris vão enfiando felicidade.

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