O tempo e a paciência

|Tânia Rei|
O que mais controla a nossa vida, a limita e a oprime, é o tempo. Curioso que seja uma convenção humana a causar tanto embaraço. Os humanos têm passado toda a existência a tentar contrariar o tempo. Seja a reverte-lo, a atrasá-lo ou a aniquilá-lo, com seres que vivem para sempre, poções mágicas ou águas milagrosas, que apagam rugas e tiram anos de cima.

Tudo para quê? Para que possamos ter mais tempo terreno, para fazermos mais do mesmo, só que sem a preocupação das horas, dias e anos. Ora, eu assumo-me como uma pessoa impaciente. Talvez defeito de profissão, gosto de imediatismo, dizer ao mesmo tempo que se faz. Por isso para mim a vida eterna não ia resultar. Não me imagino com uma paciência tão santa, tão serena, tão madura, que me permitisse deliciar-me com o dom da espera.

O tempo, o nosso tempo, o que temos certo e contado, é o que de mais valioso podemos dar a alguém. O tempo e a disponibilidade. É a maneira mais subtil e verdadeira de mostrar quem é importante para nós. Empregar tempo numa pessoa, com aquela pessoa e não uma outra, deve ser encarado como um privilégio por quem o recebe, um agrado sem preço. Um agrado mútuo, também, porque do outro lado está-se a despender exactamente o mesmo tempo. Reparem, estamos ambos pagar a peso de ouro. Pagamos aquele momento com tempo. E esse, quando vai, não volta mais.

Há uma anedota, daquelas de estereótipos, em que duas pessoas estão de um lado de uma estrada, uma estreitinha, estilo caminho rural. Na outra berma, da passagem delgada, está uma nota de quinhentos euros. “Se o vento muda, ficamos ricos”, diz um para o outro. E continuam pacatamente, à espera que a brisa vire, e altere algumas linhas da nossa vida.

Pela primeira vez, não estou do lado de ninguém. Nem dos, como eu, apressados, nem como quem consegue esperar para saber se o amanhã traz, ou não, algo de assinalável.

Prefiro agora associar o tempo a pessoas: há pessoas por quem vale a pena esperar, porque valem o nosso tempo; há pessoas que são, somente, uma perda de tempo; há pessoas que só de pensar em usar algum do nosso tempo com elas já é uma perda de tempo; há pessoas que se perdem no tempo; e pessoas que nos fazem perder a noção do tempo.

O tempo foi a pior invenção humana de todos os tempos. E a paciência a pior invenção celeste. E não se misturam. Ter tempo e não ter paciência, não ter tempo e ter paciência, ter tempo e ter paciência, não ter tempo nem paciência. Quatro combinações, quais sabores de bolas de gelado, prontas para atiçar os nossos sentidos.

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