Eu e a minha desilusão num mundo de gente mastigada

|Tânia Rei|
Não sei, não faço a mínima ideia, sobre o que esperar da Vida. Não sei, nem quero saber, mais vos digo, o que a Vida espera de mim.

Em boa verdade, acho que nem eu nem ela estamos interessadas em alimentar egos. E deve ser o único ponto em que estamos em acordo.

Olho para a esquerda, para a direita. Em volta. Nunca para cima ou para baixo, porque acredito na igualdade. Um mundo em que todos estão ao meu lado, e quem está atrás, então, bom, só me está a desacelerar o passo.

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Olho, com atenção, com a que me é possível, no meio das luzes ofuscantes que a Vida teima em aceder, e apontar directamente à vista. Olho, mas nunca encontro o que procuro.

Pessoas genuínas. Que tenham sempre a mesma cara, vistas de qualquer ângulo. Pessoas fraternas. Pessoas que a Vida ainda não mastigou. Onde estão as pessoas que, de facto, se interessam com as outras? Que as querem conhecer? Que estão sempre ali. Pessoas que olham para as outras pessoas, e vêem… pessoas.

A Vida abriu uma fábrica de pessoas, formatadas para ser uma pirâmide: elas próprias à cabeça, e uma base que vai alargando conforme o grau de importância que julgam que cada um pode vir a ter, independentemente da veracidade prática desse julgamento, onde não há direito a defesa, e muito menos a recursos para outras instâncias.

Este mundo não é para anjinhos, para os bonzinhos, nem muito menos para os disponíveis. Porque a Vida não quer. Introduziu um modelo que se aceita como o correcto.

E nesse mundo safam-se os espertos, lixam-se os restantes, coleccionados como degraus de escadas, que não vão levar a lugar algum. Que acabam em portas pesadas, fechadas. Ou a espaços amplos onde, finalmente, possam olhar, para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo, para trás ou para a frente, sem que vejam mais alguém. Ficaram sozinhos, sem conteúdos. Sem virtudes, sem diferenças, sem discussões, sem enganos e aventuras.

Porque aí já a Vida os mastigou. E cuspiu para a borda do prato. Porque à Vida não lhe faltarão os dentes para mastigar desilusões para os resilientes.

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