O nosso dever quando crescemos

|Tânia Rei|
A minha afilhada tem, neste dia em que vos escrevo, 3 anos, 1 mês e 5 dias. Ela já sabe que não quer crescer.

Quer ficar pequenina, como é agora. Não sei se ela sabe todos os benefícios associados, ou se é só porque já percebeu que os grandes não têm direito a colo quando estão cansados de caminhar, ou quando não vêem bem alguma coisa, precisamente por não terem altura que chegue.

Se pudéssemos escolher, agora, todos diríamos que queríamos ficar sempre pequeninos. Davam-nos de comer, vestiam-nos, lavavam-nos. Preocupavam-se connosco. Podíamos brincar, fazer asneiras e dormir às horas a que quiséssemos (dentro do aceitável para os adultos).

O mal, contudo, não reside em crescer. O que não aprendemos com a idade e o tamanho (pelo menos do corpo) é que nos devemos continuar a tratar como se fôssemos todos pequeninos. Como que se todos no pudéssemos magoar ou precisássemos que nos dessem a mão para atravessar a estrada. Uma estrada que fica maior, com a idade. Tão grande, que às vezes nem conseguimos ver o outro lado do passeio, quanto mais o fim.

O mal de crescer é deixar de acreditar que temos o dever de tratar bem os outros. Em resumo, é isto – crescemos em altura e em vez de olharmos para a frente e para os lados, olhamos para o umbigo.

Ir envelhecendo, além de nos fazer perceber que não podemos comer terra, devia tornar-nos mais maduros. Mas não. Crescemos a olhar para o chão, onde só vemos os nossos pés, os nossos passos, as nossas mechas de cabelo a fazer sombra aos olhos, e a tapar tudo em redor. Ocultamos da nossa mente que temos o dever de ser bons.

Crescemos mal. Assim é que é. Crescemos e deixamos de acreditar que devemos ser bons. Crescemos e optamos caminhos e tomamos decisões. Sem pensar se estamos a afectar quem nos rodeia, quem escolhemos colocar na nossa vida. Ou tirar dela, às vezes sem as avisar, o que é uma chatice.

Crescemos, e esquecemo-nos que devemos fechar as portas por onde passamos. Ou deixá-las escancaradas. Portas entreabertas são tão perigosas como ratoeiras. E pode acontecer que, quando tentarmos fazer o percurso inverso, as portas tenham trancas de ferro, a vedar a entrada, mesmo que não as encontremos fechadas.

Fazemos isto porque crescemos mal. E, de facto, crescer não traz nada de bom.

A minha afilhada é que a sabe toda. E só tem 3 anos, 1 mês e 5 dias.

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN