(Des)organizar a (bio)diversidade da ciência no Museu

Em atividade desde 2006, sediado no primeiro laboratório que foi construído para o ensino e a investigação da e sobre química em Portugal, o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra tem tentado inventariar e preservar as coleções atualmente mais antigas inerentes à física, astronomia, química, história natural e ciências médicas. 

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De momento conta com uma exposição permanente “Segredos da Luz e de Matéria”, e com três temporárias: L’ afrique des Routes; Memórias Feridas, Corpos Revelados; Mapas do Cosmos.

No que diz respeito à organização de objetos (ex. aves, mamíferos, répteis e insetos) ainda se verifica a organização típica por localização geográfica, levando-nos a questionar se não seria possível uma catalogação que fuja à anterior fixação. Este exercício, desorganizar para (re)organizar corresponde a um desafio de singular responsabilidade científica e que é, por vezes, impossível.

Através do contacto com a equipa responsável pela exposição temporária a inaugurar a 20 de abril “Ao Encontro de África: A Identidade de Moçambique através da sua Biodiversidade” percebi algumas das provocações, críticas e dificuldades que enfrentam ao organizar exposições para mostra pública. Por um lado, a organização de coleções por catálogos que, por si só, são antigos; por outro lado, a tentativa de inovar a perspetiva organizacional, nomeadamente, pela taxonómica, mas que não será compatível com todos os métodos e critérios de conservação.

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Sobre a exposição “Ao Encontro de África: A Identidade de Moçambique através da sua Biodiversidade” podia também dizer-se, certamente, que a apropriação dos objetos indígenas, por exemplo, se transmite muitas das vezes numa exposição colonial que é reafirmada em cada demonstração de conhecimento sobre os próprios objetos, instrumentos, etc.; podia perguntar-se pelo significado antropológico da exposição; ou até mesmo porque é que a história da ciência faz dos saberes locais um motor pela biodiversidade.

Contudo, e creio poder dizê-lo de um modo lato, estou certa que todos e todas nós entendemos a importância de reconhecer/identificar a biodiversidade no contexto das sociedades contemporâneas, bem como a dificuldade de passar este conhecimento – comunicar em ciência – para o grande público e não apenas para as comunidades científicas. O melhor é mesmo ir e ver a dificuldade de (Des)organizar a (bio)diversidade da ciência no Museu!

Lia Raquel Neves
Lia Raquel Neves formou-se em Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, integrando, de seguida, o Mestrado em Saúde Pública, na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, elaborando a tese: «A Saúde como Autêntico Problema de Saúde Pública». 

Nos últimos quatro anos trabalhou no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (Grupo de História e Sociologia da Ciência), investigando questões que entrecruzam a filosofia da ciência com a evolução histórica e científica do conceito de saúde, bem como questões de ética prática e bioética. Posteriormente, trabalhou no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, tendo integrado o projeto "Intimidade e Deficiência: cidadania sexual e reprodutiva de mulheres com deficiência em Portugal", tendo feito parte do Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito (DECIDe); e, mais recentemente, entrou na reta final do projeto Genetics Clinic of the Future (financiado pela Comissão Europeia no âmbito do Horizonte 2020) sediado no grupo de Ciência e Políticas do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa.

No que diz respeito à sua atividade científica, atualmente, é membro associado do Centro de Direito Biomédico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e os seus interesses de investigação estão voltados para a bioética, meta-ética, genética, medicina translacional e cidadania íntima.

Lia Raquel Neves (Cientista Social)
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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