Mais uma vez, de cócoras

|Hélio Bernardo Lopes|
Dentro do que seria de esperar, lá venceu o sim no refendo turco sobre a revisão constitucional proposta por Erdogan e seu partido. E tudo isto apesar das mil e uma interferências de Estados da famigerada União Europeia, impedindo que membros do Governo turco estivessem presentes em sessões de esclarecimento junto das comunidades turcas naquele espaço, coisa correntíssima com eleições portuguesas. No mínimo.

Não deixa de ser interessante como os nossos deputados à Assembleia da República e os nossos eurodeputados designavam o Estado Novo como uma ditadura, e Salazar como um terrível ditador, mas conseguem engolir o que se vem passando na Turquia quase como um copo de sumo espesso do McDonalds!

Também não deixa de ser estranho que Erdogan, depois do que se passou com membros do seu Governo em países europeus, ainda tenha consentido na entrada na Turquia de europeus daqueles países! E é ainda mais estranho ouvir agora Duarte Marques, do PSD, dizer que não estiveram em toda a parte e que o que viram foi por fora, embora nada de incorreto tenham observado. Portanto, foram lá fazer o quê?!

Quando escrevo este texto, decorre a manhã de segunda-feira, antes, portanto, da conferência de apreciação global deste resultado recente do referendo. Ou seja, os políticos europeus lá vão engolir mais um hipopótamo vivo, manifestando, como é do politicamente correto, a sua esperança de que venha a ter lugar, na Turquia, um consenso nacional (sonhado como a caminho da democracia)!!

Esta atitude europeia, já desde o dito golpe de Estado turco, mostra bem a hipocrisia que hoje reina na terrível e interesseira União Europeia que se criou. E percebe-se hoje bem que o sonho de Erdogan – morreu ou ainda subsiste? – de entrar para a União Europeia tinha como principal objetivo introduzir neste espaço uma quota de cerca de oitenta milhões de islamitas... Seria uma entrada de leão do Islão na União Europeia, espaço naturalmente fraco e politicamente dividido por meros interesses financeiros. A tal União Soviética, mas sem KGB, como tão bem a caraterizou Porfírio Silva, do PS.

Vem agora aí um novo referendo, desta vez envolvendo a pena de morte, naturalmente em consonância com os valores religiosos hoje impostos na Turquia, seja de um modo mais direto ou mais indireto. E, perante tudo isto, a OTAN, sobretudo os seus tutores norte-americanos, nem pestanejam. No velho tempo, Salazar e Franco era maus, com De Gaulle a ficar-se por um assim-assim ao nível dos ditos intelectuais do tempo, agora grandes defensores do neoliberalismo, da Europa e da globalização. Hoje, Erdogan aceita-se, pestanejando, alternadamente, os dois olhos.

Por tudo isto, Clara Ferreira Alves foi há dias bem clara n’O EIXO DO MAL, salientando, com voz bem alta, que já não é da Esquerda. E como havia de sê-lo, se esta está moribunda por quase todo o lado, com os ditos partidos da social-democracia e do socialismo-democrático a passarem-se, com as armas e as bagagens, para a área ideológica do neoliberalismo, esquecendo as pessoas e os seus direitos materiais fundamentais?! Até humanos!

Objetivamente, estes nossos ditos intelectuais, que tanto contestaram o regime constitucional da II República e Salazar – ganhou o concurso sobre O MAIOR PORTUGUÊS DE SEMPRE – foram os grandes coveiros da democracia no mundo, deitando os valores que brandiam em tempos para o caixote do lixo, para hoje guindarem Donald Trump de besta a bestial. Estes ditos intelectuais foram, porventura, o maior azar que atingiu os povos europeus desde o fim do comunismo. Autêntica ganta ganga política.

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