Comer leitão e satélites

|Tânia Rei|
Este fim-de-semana estive fora, em trabalho. Dois dias longos que valeram a pena, mas, como em tudo o que envolve empreendimento humano, o cansaço do corpo acaba por dar de si.

Já com um horário entradote, descobrimos que o local que nos iria hospedar na noite que passámos fora tem uma placa luminosa vermelha (metade dela, outra metade está apagada) que diz “Satélite dos Leitões”. Parva, penso agora, já não tão cansada, por não ter perguntado o porquê deste nome.

Um satélite, seja natural, dos corpos celestes, ou artificial, não faz sentido apetrechado de um porco. Nem um porco daria grande utilidade a um satélite. E agora imaginei leitões a trabalharem em estações de meteorologia. Ou então uma Lua a orbitar em volta das orelhas de um suíno.

Perguntei se íamos comer leitão ao jantar. Responde a minha colega, assertivamente, que comer satélites seria impossível. É verdade. Também é verdade que não tínhamos leitão na ementa. Publicidade enganosa, no nosso caso.

Por outro lado, o que não falta é o que engolimos, no sentido figurado da coisa, e que não conseguimos digerir. Fica ali dentro do bucho, inchado, a ocupar um espaço passível de albergar um satélite.

Ficamos com as antenas do satélite a arranhar na garganta, quando o que queremos mesmo é espetar o dedo no ar e dizer umas quantas coisas, só para marcar uma posição.

Dizer o que se quer tem como consequência ouvir o que não se quer. Este é um dos ditados populares que não contesto. Cuspir alfinetes tem como retorno receber pregos. Atirar facas vai fazer com que nos lancem espadas. Uma bomba? Preparem-se! Do outro lado podem estar armas nucleares ou biológicas.

Então, optamos por permanecer calados, com uma figura alarve, fruto de tudo o que queríamos dizer, tudo o que queríamos perguntar, de todos os dedinhos que queríamos espetar em certos e determinados narizes irritantes. “Olha lá, meu menino (…)”, começaríamos, se pudéssemos. Pararíamos quando percebêssemos o potencial de música pimba deste arranque promissor. Porém, teria o mesmo efeito que uma pastilha Rennie.

Dizemo-nos sinceros, destemidos. Apregoamos que, morrêssemos nós agora, e não teríamos deixado nada por dizer, porque somos daquele grupo (que não existe) que abre a boca e liberta o que lhe passa no cérebro. Isso não é sinceridade, é ingenuidade e verborreia, e não transmite o que de facto pensamos. Apenas se trata de debitar ideias desconexas e de difícil assimilação. É perigoso. Além do mais, ninguém precisa, nem quer, saber tudo o que pensamos.

Agora, façam é o favor de não andarem tão empertigados com tudo aquilo que guardam num tupperware mental. Pelo que me toca, tenho esperança que, em breve, alguém invente um remédio contra a azia de quem tem tanto para dizer e perguntar (#estamosjuntos).

“Satélite” tem mais significados, pois claro. Um deles designa quem depende de outro. A ser satélite, que seja das nossas vontades. Vontades para combater a azia de quem tem tanta palavra acumulada que parece que papou um satélite do tamanho do Sputnik, sem que lhe tenha sabido a leitão.

Já nem sei se é assédio, se é só burrice

|Tânia Rei|
Então, há mesmo (de verdade!) gente que acha que meter conversa nas redes sociais, numa de fishing, é fixe? Que “não tem nada de mal”? Que “é algo banal”?

Há?

Obviamente, daqui para a frente vão ler uma versão feminina do universo da internet. Deduzo que tudo do que vos vou falar agora aconteça aos homens, mas não tenho opinião sobre isso.

Há fenómenos estranhos, e crescentes, que honestamente eu não entendo. Segundo tenho visto, há já mulheres a escreverem nas redes sociais, estilo aquelas mensagens que colamos na caixa do correio que dizem “publicidade aqui não”, no caso sobre o facto de o sexo oposto ter que aprender a manter-se num nível… normal (até porque a estratégia de marketing e comunicação destes tipos é nula), e parar de as assediar. Assediar não é de homem. E o maior problema é que o simples facto de se existir parecer ser o mote ideal para este tipo de assédio electrónico.

Sejamos realistas – não é por escreverem o que quer que seja que quem é idiota vai deixar de o ser. Ninguém vai ler a vossa publicação e pensar “caramba, olha que parvo que eu sou, a pensar que as miúdas gostam é de ser abordadas à bruta, mesmo sem me conhecerem!”. Não, não vai acontecer. No máximo, vão enviar-vos uma mensagem a dizer que concordam, palavra por palavra, com aquilo que vocês disseram, e depois convidam-vos para tomar um café.

Isto é transversal: uma ligação numa rede social, um motivo para tentar iniciar conversas tão sem nexo como “Oi linda”, “Olá, tudo bem?”, “Não és a não-sei-quantas que faz não-sei-o-quê?”. Não tenho esperança que colocar isto por escrito mude o que quer que seja, mas, a sério (tom exasperado) conseguem perceber o quão ridículo isto é? Estão a imaginar a cara da miúda do outro lado? Ela vai comprimir os lábios, semicerrar os olhos (sim, uma cara de reprovação e tédio), e vão fazer o que estas mensagens merecem. Vão ler e nunca vão responder (mesmo que venham 20 mil vezes com a mesma ladainha. Vamos reforçar a imagem mental disto. Estão a ter um vislumbre agora? É ridículo, e humilhante, até, uma janelinha de conversação com um monólogo.

“Devemos ser mais criativos?”, perguntam agora os homens. Cruzes! Não! Um homem que é idiota ao ponto de achar que o torna macho e sexy invadir a privacidade de uma mulher assim, porque ela nem se vai importar (é o que passa na mente de um idiota), é idiota ao ponto de ter ideias mais idiotas ainda. E então passam para um patamar supremo. Uma vez (e isto é verdade) enviaram-me uma fotografia de um pénis. Sem nenhum “olá”, nem “oi” costumeiro. Lá que foi diferente, foi. Não. Obviamente não ficámos amigos.

Também adoro o “gosto muito do teu trabalho” (penso eu que a referirem-se às minhas crónicas. Por isso hoje vou perder leitores). Só que depois nem o conhecem, e lá no fundo devem achar que escrevo para atrair um bando de tarados da brigada do “oi”, quando em boa verdade a única coisa que faço é usar do meu cérebro, ao contrário dele, que se limita a navegar na internet, e escrever “oi” em chats, indiscriminadamente.

A terminar este texto, convido os homens a fazerem um exercício rápido. Fechem os olhos, e imaginem as situações descritas. É esta a vossa ideia do que é ser um homem? Abordar mulheres que não conhecem de lado nenhum com o intuito de tentarem a sorte com elas?

Se vocês, homens, chegaram até aqui na leitura, responderam “sim” às questões aqui em cima e continuam a achar-se os maiores e super-engatatões, desculpem, realmente no vosso caso não é assédio, de facto. É burrice. E, lembrem-se: não estão a ser melhores do que aqueles a quem apontam o dedo sobre esta matéria.

Nem sempre sei responder

|Tânia Rei|
Este fim-de-semana, numa conversa de amigos, daquelas que me costumam dar material para escrever, fizeram-me uma pergunta que me apanhou em falso. “Então, Tânia, e o que é o amor?”. Caramba, pá! Por esta não estava nada à espera, juro que não. Logo eu, que estou sempre com o amor na ponta na língua (sem qualquer conotação maldosa). 

A minha sorte é que a pessoa que me meteu em tamanha embrulhada tinha mais coisas para me dizer, e acabei por não ter que responder da forma imediata que temi.

Por coincidência, ou talvez não, há alguns dias partilhei nas redes sociais um texto que rezava assim: “Nunca ninguém vai conseguir definir o que é o amor.

O amor é tanta coisa na verdade, que seria, até, grosseiro e redutor criar-lhe uma definição só.

No entanto, estou em crer que amar alguém pode ser explicado com um casal de idosos, a passear de braço dado, enquanto ela resmunga, naquele tom propositadamente inaudível que as mulheres usam quando querem reclamar com os seus homens, e ele, com um ar de paciência infinita, perguntar num tom velado pelo carinho "Quê, filha?", ao passo que tenta concentrar-se para conseguir perceber a razão do amuo.” E isto, que agora voltei a reproduzir, é um retracto fiel da vida real, que me leva a perceber não o porquê de tanta gente ficar sozinha, mas o motivo pelo qual devemos, sim, ser exigentes com quem amamos e com quem nos ama.

“Eu não sei o que é o amor. Já soube, mas já sei sentir isso, assim”, diziam-me, na tal conversa. Claramente em jogo está uma decepção. Um amor que não foi bem-sucedido deixa marcas inevitáveis, e que, para pior, desferidas no ponto exacto, doem demasiado tempo, como aquele joelho teimoso que avisa quando vai chover.

Lá no fundo, sabemos “quando vai chover”, antevemos decepções até antes do outro sonhar que nos vai magoar. É um instinto que temos, mas que ignoramos. Porque somos exigentes? Nah, somente porque queremos sentir aquele quentinho no coração.

Mas não chega, temos que saber que podemos, e devemos, querer mais. O melhor e mais repimpado amor. Eu sou exigente, cada vez mais. Reclamo atenção, faço beicinho se não me dão o que idealizo em triplo, e viro costas e faço o que, no mundo das gajas, se pode chamar o “desfile da diva”, que é quando resolvemos que a situação, seja qual for, está num nível “toooo much”, e que temos que fechar aquela porta, mas com algum estilo, sem histerismos e lágrimas (Quem nunca? E depois, muitas vezes, até nos arrependemos no minuto seguinte. Enfim, citando uma amiga, “é uma vida a sofrer”.).

Acreditam que quem amou a sério uma vez não pode amar nunca mais? Que fica “seco”? Ou ficamos apenas mais olho-vivo para o futuro (aka exigentes, que já não serve qualquer badameco)? E o que é o amor, afinal? É querer o bem de alguém? É desejar sexualmente? É querer ser um pinguim-imperador, e ficar a chocar ovos com o mesmo parceiro para toda a eternidade?

Não sei, nem quero saber, em boa verdade. Mas, que gostava que alguém não desentrelaçasse o braço do meu, mesmo eu estando tão venenosa como uma víbora, e que me dissesse “Quê, filha”, cheio de ternura, lá isso gostava. Haja amor, haja esperança, haja alguém neste caminho que nos faça acreditar.

“Ai, se o arrependimento matasse…”

|Tânia Rei|
… Eu cá continuava vivinha da silva, até porque estar morta consome tempo, que me faz falta para coisas realmente importantes. Estaria a ser hipócrita se dissesse que acertei sempre naquilo que fiz, que tomei sempre as melhores decisões ou que sempre fui a melhor pessoa possível. Não é nada disso.

Às vezes erramos por inocência, outra por maldade. E, lá no fundo, não há aí nada de recriminável. Certa vez escrevi-vos eu que toda a atitude tem uma consequência. Por isso, certo ou errado, fizemos uma escolha, que trará um resultado. Aguentem-se à bronca. E, mesmo que adivinhássemos o futuro, iriamos continuar a escolher e a fazer o errado somente porque temos a brilhante cisma de que somos seres etéreos, capazes de manipular tudo à nossa vontade. Até é verdade, na medida em que usamos o nosso livre arbítrio. Não podemos é pedinchar ao cosmos que se compadeça das nossas vontades.

A tentativa-erro, além de significar que continuamos vivos, e a andar para algum lado, é ainda a prova inequívoca de que estamos a transformar. E quem nos conhece depois de cairmos vinte vezes, conhece quem já aprendeu a apertar bem os atacadores dos sapatos, e quem aprendeu o que dói o chão a raspar nos joelhos. Alguém que errou, ou com quem erraram, passa a usar uma capa dura, mas, no reverso, sabe o valor de não tombar ninguém na caminhada.

O arrependimento, na acepção da palavra, é algo a evitar. A autoflagelação da alma, que nos estagna e que nos arrasta para o passado. E o passado está feito, não vai mudar. Em boa verdade, no passado só há terra queimada. O fogo passou, e consumiu tudo. As fontes inflamáveis, que clamam para arder, chamam-se presente e futuro.

Errar e reconhecê-lo é subir um degrau em direcção à evolução. Até ao dia em que seremos, genuinamente, melhores. Em que iremos equivocar-nos menos, iremos magoar menos, gritar menos e aproveitar mais o tempo e as pessoas.

O tempo também é um conceito recorrente neste texto. E não é à toa. Quem tem tempo é rico. Tenhamos nós tempo para errar, e tempo para fazer o certo, e teremos uma vida cheia. Não nos apressem os relógios, deixem-nos no nosso vagar. Até que tudo seja perfeito.

ll you need is love and love is all you need. It’s easy

|Tânia Rei|
A primeira vez que ouvi Beatles era miúda. A primeira vez que ouvi com consciência do que estava a ouvir, entenda-se. Estava com os meus pais, não me lembro que idade tinha, mas tinha a suficiente para nunca mais me esquecer de me terem dito que eram quatro e que eram de Inglaterra, ainda que nessa altura, provavelmente, nem soubesse onde ficava a Inglaterra nem me importasse muito com isso.

Naturalmente foi a “Love is all you need” a primeira música que decorei como sendo deles. Não entendia patavina de inglês, mas é senso comum que isso não interessa nada quando se trata de música que fala de amor. Sente-se. Mesmo que a letra fale de repolhos a cozer ao lume.

“There’s nothing you can do that can’t be done.
Nothing you can sing that can’t be sung.
Nothing you can say, but you can learn
How to play the game
It’s easy.”

Se nos tirarem o ar, a comida, os agasalhos do corpo (e desde que tudo isto seja metafórico), o amor consegue alimentar-nos e sobreviveremos. Se nos retirarem tudo num contexto real, podemos sobreviver por amor. Porque o amor não está explicado, e tem propriedades físicas, químicas e quânticas que permanecem um mistério.

Todos precisamos de amor, todo queremos o amor. Todos queremos todos os tipos de amor. Todos procuramos o amor, ainda que muitas vezes nem saibamos que o estamos a procurar. Por isso, todos o que dizem não querer o amor, mentem. E bastem-se de mentiras!

“Nothing you can make that can't be made.
No one you can save that can't be saved.
Nothing you can do, but you can learn
How to be you in time
It's easy.”

Os movimentos dos anti-amor, do bando de limões secos, que meteram o resto da Humanidade no saco do “são todos iguais e não há nenhum que eu queira, porque estou muito bem assim” já tiram a paciência a um santo. Estão a espalhar-se como um vírus dos filmes de zombies, e não quero ser contaminada. Os veículos são as redes sociais, onde, pelas minhas contas 100% são pessoas bem resolvidas e 95% odeiam o amor e amar, exceptuando os 10 dias do mês em que conhecem alguém novo e se entusiasmam. Os outros 5% destes últimos 95% correspondem aos casais felizes, que têm momentos bonitos para partilhar.

Caros solteiros por opção (dos outros, muitas vezes, como é o meu caso): deixem-se de mariquices, de dizerem que não procuram alguém que vos trate bem, que vos mime e que vos ame. Não digam que a culpa é do álcool, do signo ou do modo de vida actual. Se há coisa que é intemporal e que sabe sempre bem é um belo romance, uma paixão arrebatadora, um beijo roubado e uma mão na mão.

A vocês, que dão tanta enfâse ao facto de estarem sozinhos, a ponto de ter que o relembrar aos transeuntes uma vez por semana, pelo menos, o que só demonstra que estão mortinhos por encontrar alguém, só tenho a dizer:

All you need is love, all you need is love,
All you need is love, love. Love is all you need.
Love, love, love, love, love, love, love, love, love.
All you need is love, all you need is love,
All you need is love, love. Love is all you need.

Depois da enxertia, ficamos hídrios

|Tânia Rei|
Estão a ver aqueles filmes em que as pessoas são substituídas por robots ou então sofrem “afinações”? Em que são mais perfeitas e fazem tudo bem, além de terem montes de utilidades práticas, que os humanos normalinhos não possuem? É só para vos avisar que isto está a acontecer. 

Ocorrem-me Os Substitutos, a Ilha, Mulheres Perfeitas, e há um de que eu gosto muito, que é com o puto do Sexto Sentido, mas que não me está a vir agora o nome.

Pois bem, lamento deixar este triste aviso à navegação – esqueçam as pessoas com defeitos. Isso é old school.

As pessoas deixaram de ter defeitos muito por culpa da Conversão. A Conversão é uma máquina invisível que vive na cabeça dos seres humanos deste século, onde entram pela retina pessoas banais e cravam-se no cérebro super-heróis. Convertem-se os defeitos em virtudes que nos torna em “únicos, insubstituíveis e fabulosos”, entre outros adjectivos nesta linha. Não os costumo usar, por isso, perdoem-me a falta de minúcia.

Então não é que agora não há teimosos? Nem chatos? Nem feios? Não se é teimoso, é-se “perseverante”. Não se é chato, é-se “insistente”. Não se é feio, é-se “peculiar”. Podem dizer que são prismas diferentes de ver coisas que permanecem iguais, mas, para mim, que continuo presa no passado, isto são tudo é palavras com significados diferentes, podendo ser, no máximo, eufemismos.

Já não há pessoas sem carácter. São “simplistas” agora. Gente má rês foi à dita máquina, apertaram-se uns parafusos, e pronto.

“Ah, mas toda a gente tem um lado B.” Acredito piamente, mas também não acho que suprir defeitos a torto e a direito seja ser politicamente correcto. Estou em crer que em muitos dos casos estamos só a ser condescendentes. Soubesse a Humanidade que a solução, afinal, está na forma como se diz…

Quem se lixa nesta história, são, como sempre, os bonzinhos. De que vale ter montes de qualidades, ter atitude, ter acção, num mundo onde tudo é passível de ALSF (para quem não teve adolescência, isto significa Amor Louco Sem Fim, e escrevia-se nas portas das casas-de-banho da escola, associado a um nome, que mudava de mês a mês) quase de forma instantânea? Mesmo uma noz seca, com um pouco de pó de arroz, transforma-se numa diva.

Hoje li uma frase, em português do Brasil, que dizia assim: “Você tem o direito de ser esquisito”. E talvez eu seja só uma gaja esquisitinha, daquelas mete-nojo, que implica com tudo.

Espera lá… “gaja” e “esquisita” são palavras feias… Não, vou ser antes uma “jovem” com uma “mente invulgar”. Não sou de modas, mas, podendo ser um hídrico, e fazer uma operação plástica aos pordentros, não sou menos do que ninguém!

Procrastinemos

|Tânia Rei|
Por estes dias fui à cabeleireira, tarefa essa que toda a mulher sabe que deve fazer de forma desocupada. Ir com pressa para o meio de tesouras, tintas e loções não existe.

Contudo, estava lá uma senhora como nunca tinha visto, coberta de inquietude. Dez minutos de espera, mesmo rodeada de revistas de lifestyle e cortes da moda, pareciam agulhas a perfurar o sofá onde estava sentada.

Também não está na minha essência esperar. É como escreveu Saramago “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”. Em boa verdade, parece-me que procrastinar é que é a tendência. Tenho mais certeza quanto a isto do que em relação aos cortes de cabelo.

Qual bolas de sabão, a pairar, ao sabor do vento, pessoas e decisões baloiçam no mundo da procrastinação, em torno de uma cabeça sem tempo disponível. Esperam melhores dias e melhores momentos, numa espécie de prateleira imaginária, onde arrumamos ideias confusas e disformes.

Se já fizeram bolas de sabão, sabem bem qual é o destino delas. Algumas voam alto, e desaparecem. Outras (a maioria) acabam por esbarrar numa parede e ploft! Rebenta, espalhando gotículas de água por todo o lado. Da sua existência, resta um chão molhado, que em breve seca. E é como se nunca tivessem existido.

Deixam-se pessoas e vidas em suspenso. Adia-se e espera-se, sem parecer haver a plena noção de que, num mundo paralelo, que corre fora da nossa cabeça desorganizada, acontecem coisas, em ritmos alucinantes, às vezes. E o que faz sentido hoje, amanhã pode ser diferente. E o tal tempo quem que “há-de ser” pode nunca chegar. Pode nunca ser o dito momento, e enquanto isso mantém-se cheia a prateleira dos suspensos, que vamos revisitando de tempos a tempos, ainda que não saibamos muito bem o que queremos encontrar lá. Depois? Voltamos a colocar tudo no sítio, ainda que seja o sítio errado, diferente daquele onde estava, só para poder ficar a ganhar mais pó. Suspenso.

Sou por quem agarra o presente com veemência. Quem não tem muito tempo para esperar, porque tem pressa de viver. A seu tempo, sem pressa, mas sem muito vagares que pouco acrescentam.

Procrastinemos, pois, se assim o entendermos, mas sabendo que tudo na vida é efémero. Até a própria vida.

Mestres da ilusão

|Tânia Rei|
Há uns dias ouvi na rádio um programa com o Luís de Matos. Parece que tem um livro, onde conta histórias sobre magia. Vêm lá muitos truques, e muitas curiosidades. 

Por exemplo, durante a II Guerra Mundial, um destes ardis ajudou os Aliados, ao iludir o inimigo quanto à localização de uma cidade. Os alemães acabaram por bombardear um local ermo, que acreditavam estar cheio de pessoas, só que não estava.

Estou a reproduzir esta estória de memória, assim, sem grandes pormenores, mas acho que não lhe tira mérito absolutamente nenhum. É incrível.

Quando penso em mágicos, pinto sempre uma figura com uma capa preta, de forro azul-escuro, tudo acetinado, muito brilhante. Uma varinha, não ao estilo Harry Potter, mas daquelas pretas, que parecem uma caneta de feltro, com as pontas brancas (e na escola brincávamos assim. Púnhamos duas tampinhas nas extremidades, uma roubada a outra caneta, e apontávamos à cara dos colegas, com um tom ameaçador). Tem que ter uma cartola, para sacar coelhos, cartas e flores de plástico. E, claro, tem que vestir um fato, estilo empregado de mesa, com laçarote e tudo.

Nunca acreditei, mesmo quando era miúda, que aquilo fosse verdade. É claro que tinha que haver ali um engano qualquer, uma traição ao olho. É ilusão, não magia, afinal de contas.

É que são coisas bem diferentes. A magia não tem um tom pejorativo. É algo pipilante. A ilusão, tem. Porque fica ali colado o conceito de enganar, de passar a perna. E quem gosta de se sentir enganado? Ninguém. Nunca levei nenhuma facada, mas acho que a sensação é mesmo essa, sentir aço a cortar não a nossa carne, mas a nossa integridade. A carne sara, mesmo com marca. Quanto ao resto, não posso garantir.

Nos espectáculos, o ilusionista engana-nos por nossa vontade. Estamos predispostos a que nos mintam, e ali ficamos, deliciados por estarmos a ser ludibriados, enquanto argolas de metal se entrelaçam, enquanto serpentinas saem a jorro de gargantas, pombas voam, claramente atordoadas, e amigos nossos ficam sem relógios e com cordas firmes amarradas aos pulsos.

O problema é quando damos com Houdinis da vida real. Não têm capas, chapéus largos, nem sapatos engraxados. Não têm varinhas mágicas. Mas têm como hobby chamar alguém da assistência forçada, que por ali passa, incauto. Depois, como nos desenhos animados, olham para as entranhas da pessoa, emitem ondas vermelhas através dos globos oculares, e fingem ser o que não são. Como em qualquer truque, ficamos sem saber o que está a acontecer. Ó, Deus meu, é magia! Da verdadeira!

Depois, alguém estala os dedos, e a performance termina. Era apenas uma ilusão.

Ficamos sozinhos, no centro de uma pista de circo, sem sabermos muito bem o que fomos para ali fazer nem para onde ir. Não há uma bela assistente, com um vestido de noite justo, a apontar a saída! Que disparate, mas… É magia. Foi magia. Era o Houdini, caramba!

Não era nada o Houdini. Era só um charlatão, a vender a banha da cobra. E, diz o povo, a mentira tem perna curta, e ninguém pode fingir ser o Grande Houdini quando, na verdade, não tem mais do que um truquezeco de cartas para nos mostrar, sem ases na manga para puxar.

Miúdas giras, lingeries e anjos

|Tânia Rei|
Tenho-me lembrado frequentemente de um episódio constrangedor onde entra a minha fraca figura, um espelho e uma miúda grega, de espantosos olhos verdes.

Certa vez, fui eu comprar maquilhagem. E era lá que trabalhava a fabulosa moça grega. Sem mentir, uma das mulheres mais bonitas que vi em toda a minha vida, e que, ainda por cima, se sabia maquilhar muito bem (e daí, quem sabe, o porquê de trabalhar, pois, numa loja de produtos cosméticos), o que a tornava ainda mais perfeita.

Ora, como normal será, e porque era a única cliente na loja no momento, fui abordada por uma voz sensualona, com sotaque: “Precisa de ajuda?”. E a partir do momento em que eu disse que sim, e em que aceitei sentar-me num banquinho em frente a um espelho de aumentar com muita luz artificial em volta, percebi que, talvez, ver aquelas pestanas impecavelmente separadas e curvadas, um sorriso perfeito e umas maçãs do rosto que parecem fazer ginásio, de tão rijas, ali, ao pé da minha cara, não me fosse assim tão necessário para comprar a porcaria de uma base e um lápis delineador. E dito isto, é humilhante sujeitar uma gaja normal a estes espelhinhos com luz (que também os há nos provadores de roupa), que fazem de cada imperfeição da pele uma cratera lunar, mais ainda quando lhe põem uma rapariga lindíssima para fazer contraste.

Tenho-me lembrado disto por causa das notícias que têm brotado como cogumelos sobre o desfile anual da Victoria’s Secret. Então não é que já escolheram as 54 modelos que vão usar as lingeries mais cobiçadas de todo o mundo? E o Fantasy Bra, que, tivesse-o eu, e vendia-o às peças no mercado negro. Há, neste momento, homens e mulheres a suspirar. Pela roupa e pelo conteúdo.

Ao contrário do que possa parecer, gosto de lingerie e das miúdas que a usam. Sei o nome de duas ou três, das mais conhecidas. Mais do resto gosto é de ver o que têm vestido, claro está. E se a miúda da loja de maquilhagem não é modelo, devia ser. Voto nisso, mesmo roída de inveja. br>
Às vezes, principalmente quando oiço conversas em balneários femininos, e tendo plena noção de que, estando acompanhada, o meu discurso iria soar de forma muito semelhante, nem percebo o entusiasmo todo com as mulheres. Não somos assim tão interessantes, vistas daquele ângulo. Ou então, as modelos fogem a esse crivo porque na boca só levam sorrisos, nada de palavreado, e uma pessoa nem sabe como é o falar delas. É que até isso continua a ser Secret, sem hipótese de plágio, num caminho para ser mais Victoria.

A verdade é que, com ou sem cintura de vespa, com ou sem busto, com ou sem um cabelo brilhante e sedoso, uma mulher confiante fica tão ou mais bonita do que qualquer modelo esculpida pelo Criador. E toda a mulher confiante pode usar uma lingerie sexy. E toda a mulher pode juntar a essa lingerie um par de asas e pensamentos pecaminosos.

Lá no fundo, o comum ser humano também pode ser anjo. Porventura sem passarela e flashes endiabrados. E, já que tanto se fala da igualdade de género, que já um homem é nomeado para prémios criados para distinguir mulheres, quando é que começam a pôr pares de asas a um autocarro cheio de rapazolas jeitosos, só para sabermos que cuecas estão na moda? É que “anjo” não tem sexo, dá para todos.

Dosímetro

Honestamente, não me lembro de ter tido uma paixão correspondida. Se tive, venham agora, neste momento, mil cupidos enraivecidos dar-me flechadas. 

 Sou capaz, vagamente, de ter gostado de pessoas que gostaram de mim, ao mesmo tempo, em sintonia. Mas, como o dosímetro que mede o gostar não tem taras confiáveis, ficamos sempre no que nos parece. Se calhar às vezes gostei eu mais, outras vezes foram os outros a sentir algo que eu não sentia. Noutras ocasiões, lá no fundo, ninguém gostava de ninguém, naquilo a que eu chamo uma bebedeira de amor, na qual o que custa mesmo é a ressaca.

Ontem, no supermercado, depois daqueles bips que anunciam a voz de uma senhora operadora: “Filipa Sarmento à caixa central… ó ó…”, interrupção. Retoma: “Filipa Nascimento à caixa central”. Porra! Apelido errado! Não há, contudo, consenso sobre se desta foi de vez. Então, vem o terceiro chamado: “Filipa à caixa central”. Repare-se que o importante da questão é que a Filipa compareça. Mais de resto, quem raio fosse a Filipa a aparecer, era lucro. A Filipa, uma espécie ao acaso, era necessária. “E o que tem a ver a Filipa com esta história?”, perguntam-me.

Tudo. A Filipa é a solução para todos os amores falhados. É que parece que estamos mais preocupados em que haja alguém, do que se esse alguém é realmente válido. Por isso que andamos apinhados de relações que não sabemos muito bem o que são, se vão ser. É que, dizemos, nem queremos que sejam relações. Vão sendo, sejam o que for. Vamos tendo. O tramado é que tudo que inclua o verbo “ser” e “ter”, configura uma série de questões morais, pelo menos, que convém respeitar.

Nem há, às vezes, tempo de avaliar a pessoa. Vê-se na diagonal, e chuta-se para canto. Neste Mundo, é assim. Não nos valem preciosismos. Só convém lembrar que, se escolhemos entrar na vida de alguém, é importante dizer-lhe se estivermos de saída. Estilo uma sala de pânico, em que temos que informar o compartimento, ao tocar em determinados botões, de que já não queremos mais estar ali. É só uma ajuda, quando se trata de acertar dosagens de gostar.

Não há preciosismo no dosímetro do gostar. É tudo a olho. “Ah, mas é assim que deve ser”. É, pois, se não caírem na tentação de deixar cair açúcar demais, ou se não se esquecerem na receita no forno (as relações amorosas podem ser sempre comparadas com comida. Resulta!). O problema maior, além das dosagens mal medidas, é não deixar a “massa” levedar: demora, mas faz toda a diferença.br>

Quer ter sucesso no amor? Tome banho

|Tânia Rei|
O título é capaz de causar inveja a muitas revistas femininas, e urticária a outro tanto público, tão vasto quanto o das revistas femininas. Aliás, nunca vi algo assim tão explícito: está a precisar de alguém? Farta de tentar tudo, até macumba? Nada resulta? Então, poupe umas quantas galinhas pretas e… tome banho.

E, sim, este texto é só para senhoras. Antes de irmos mais adiante, deixo já um aviso ao sexo masculino que anda por aí apaixonado, que, afinal, pode estar a ser vítima de um vil engodo.

É que esta semana fiz uma descoberta, numa ida ao supermercado, que oscila entre o assustador e o fascinante. Então não é que alguém despendeu tempo e recursos para criar um gel de duche capaz de captar a atenção dos narizes dos homens? E chama-se algo como Sexy 9 (toparam?). Ora, e parece que 9 em cada 10 homens apreciam o aroma do dito produto, que numa tradução manhosa anuncia “pele sexy e atractivo”.

Obviamente, movida pela curiosidade que assiste ao ser humano, levantei a tampa para inalar a tal fragância capaz de arrebatar corações másculos. A única conclusão a que cheguei é que, definitivamente, sou heterossexual. Fico ainda preocupada por descobrir que, segundo a embalagem do gel de duche do engate, 9 em cada 10 homens sentem-se atraídos por um cheiro que parece uma mistura de Printil (do verde) com um spray ambientador floral.

Lembra-me toda esta situação os anúncios publicitários, para homens, em que usar uma determinada marca de desodorizante, atraía uma quantidade irreal de miúdas jeitosas, vestidas de forma reveladora. Será isto uma retaliação, à boa maneira feminina, mais discreta e super-poderosa? Serão feromonas dentro de um frasco, ou estamos perante mezinhices estilo poção do amor? Custa-me a crer na veracidade disto, porque se fosse mesmo a sério, já o stock do produto de higiene pessoal tinha esgotado, havia tráfico associado, e dificilmente ouvíamos a frase batida: “Ah, os homens são todos iguais! Eu prefiro estar sozinha! Pode ser que, um dia, encontre alguém que me faça mudar de ideias. Por agora, nah, estou bem assim.” É que, convenhamos, se a estatística divulgada pelo produto for verdade, pode trazer mais inconvenientes do que prós. Por norma, a mulher é focada. E se antes o problema poderia ser a falta de opção, tê-la em demasia pode não ser tão espectacular como inicialmente se previa.

Não são raras as notícias vindas do mundo oriental em que maridos indignados pediram o divórcio porque descobriram que as esposas fizeram operações plásticas, ou porque as viram pela primeira vez sem maquilhagem. E neste caso, sem o aroma floral que deixa cabeças à roda, a mulher também deixará de ter sex appeal para o parceiro?

Bem, que grande chatice.

Ainda assim, pode sempre dizer-se uma meia-verdade, que é preferível à mentira. “Mulher, que aroma é este, que me deixa louco?” (tom viril e descontrolado). E ela, com um sorriso enviesado, responderá simplesmente: “Sabes, tomei banho hoje.”.

Tradição – palavra em desuso/remodelação. Risquem o que não interessa, e façam o vosso próprio título

|Tânia Rei|
Está tudo de pernas para o ar. Ouçam o que vos digo. É a verdade. Custa, eu sei. Mas, é a verdade, e há que dizê-la.

A tradição? Esqueçam isso. Nada é intocável. Ainda ontem me deparei com a história do Capuchinho Vermelho toda esfarrapada. Entravam sapos à procura de princesas, o Caçador tinha uma loja com uma TV LED na parede, que passava documentários estilo BBC, a Capuchinho era muito espertinha para uma miúda de 8 anos e o Lobo Mau era roxo…

Então pensei: “Bem, se os contos infantis já foram estraçalhados pelos novos tempos, já nada mais há a perder. Acabou. Tradição – 0 x Inovação – 1.”

“Que olhos grandes que tens avó!”. Alto, pára tudo! Esta dica eu conheço. E segue o diálogo mais coisa menos coisa como contou Charles Perrault. “E esse nariz enorme, avó?”. “É para melhor cheirar o teu perfume”. “Da maneira que eu exagero, nem precisavas”. A resposta não era a que eu esperava. Fez-me rir. E isso é um ponto favorável.

Segue o filme, aproxima-se o clímax. Na casa da avó há telefone. É fixo, ao menos isso! Não há telemóveis por lá, ou assim parece. A Capuchinho liga ao Caçador. Estamos na rota, amigos!

“Não vai haver ajuda, minha menina!” – o Lobo Mau está decidido. “Olha ali atrás, os Três Porquinhos!”, garota espera, como eu vos preveni, que assim se consegue safar.

Tudo acaba em bem, como se quer, e sem cortes na barriga do Lobo Mau, que até tem direito, pelo contrário, a ajuda para curar uma indigestão, causada por alimentos “com o prazo de validade vencido”.

Este Lobo Mau roxo, que usa calças de ganga, diz, a páginas tantas, algo que me deixa a pensar: “Os Lobos também têm sentimentos.” “Os Lobos também têm sentimentos” abre um caminho sem precedentes, onde, no final das contas, os destinados a ser maus sentem como se fossem bons. Ou menos maus. Sentem, enfim, é o que há a reter. E sentir sentimentos é algo que torna, como por pós de perlimpimpim, os maus em menos maus, quase bons, ou bons de verdade.

Esqueçam a tradição. Já não há maus. Já não há bons. Tudo porque os, à partida, vilões, sentirem sentimentos, e serem efectivamente capazes de tal feito, desequilibrou a balança, não só dos contos infantis, como da vida em geral.

Sentir sentimentos não está, contudo, ao alcance de todos. Ou não os expressam. E quando se sentem sentimentos, queremos mais é expressá-los, não é? Quem não sente sentimentos pode não ser mau, pode não ser bom. Certamente, é, sem gaguejos, menos humano.

Nesta nova versão, onde a tradição se foi, há lugar para não-humanos? Existem tais criaturas, construídas em betão e vestidas de indiferença? A tradição garante que sim, e tinha factos suficientes para o provar. Tinha bruxas más, madrastas más, feiticeiros maus, irmãs invejosas (e más, pois). Tinha muitos, muitos que eram absolutamente p’lo mal, e que nunca se emendaram. Agora que a tradição se foi, as convicções afrouxaram. Não sei de nada. Já não sei de nada, até porque o Lobo Mau, como vos contei, era roxo. Roxo!

A tradição foi furada, corrompida. O que faz com que, doravante, estejamos entregues aos novos tempos. E a novas descobertas.

Então, mas ainda é preciso?

|Tânia Rei|
Não sei se, de facto, começo a ter idade para entrar na secção das encalhadas, ou se é só implicância.

Espero eu (dos refegos do meu coração) que seja normal que as moças, aparentemente, em idade casadoira, como eu, sejam constantemente bombardeadas com a pergunta, que vem, invariavelmente, das avós e das tias provenientes da Idade da Pedra, e que é a seguinte: “Então, e quando é que nos dás as amêndoas?” (aos mais novos, que estão habituados a lembranças de casamento todas XPTO, e com utilidade prática, até, recordo que, lá na Idade da Pedra, se davam amêndoas aos convidados).

Mas… mas… raios!

O que há de errado em não estar casada? É uma falta social grave? E, com quem me casaria eu? Esse retalho da estória não é relevante?

Sociedade estranha, em que temos juntar trapinhos logo mal possamos. Algo como “Olha! Apanhei um!”. Um Mundo de pernas para o ar este, em que há quem tenha que lutar pelo direito de não casar, enquanto outras tantas quase andam ao tabefe para que alguém lhes coloque um anel no dedo, de preferência bonito e grosso, só para que as “invejosas” possam vê-lo bem, ao longe.

Faz parte de ser mulher, isto de olhar para as nuances, ao passo que esquecemos o essencial. Por exemplo, em 2016 é uma vitória e uma algazarra (sabe-se lá porquê) que hajam sites feitos para mulheres, com posts a imitar cartas (que, penso eu, são algo como textos de opinião super carregados de emoções, que nos fazem chorar quando as hormonas andam aos pinchos) para todos os fins (“carta aos meus ex-namorados”, “carta aos namorados das minhas BFF”, “carta ao meu futuro marido”, claro está) e dicas de moda, mas muitas continuam a achar normal que um homem não se desenrascar numa casa sozinho, que diga que nunca vai mudar fraldas, e que ainda questione o tamanho da saia dela.

O feminismo invadiu a década, certamente – e ainda bem, claro – só que da forma errada. Somos diferentes, pois somos, temos corpos reais, temos período e, espantem-se, temos pêlos! Temos sites só para nós, temos revistas só para nós, temos carros considerados só para nós. Os homens também já têm maquilhagem só para eles, por isso nisso perdemos terreno. Ainda assim, temos uma catrefada de coisas só para nós, gajas emancipadas, que nem sabem a sorte que têm de o serem, e que não querem saber do que está por conquistar, porque serve o facto de temos um ramalhete de coisas só para nós, que reluzem, mas que não são ouro. E o que queremos mais? Igualdade de direitos? O fim das barbáries praticadas pelo Mundo contra as mulheres? Aparentemente, ainda é um feito enorme que haja um endereço na internet para falar de dores menstruais. E isso faz (?) toda a diferença Não entendo. Se calhar é por estas e por outras que nos servem maridos, para termos uma vida cheia.

Sou mais feminista do que isto. Falta mexer em muitas porcelanas. Não quero um homem que me proteja dos males do Universo, porque no Mundo em que idealizo, estamos, finalmente, em pé de igualdade, e todos os machos foram educados para respeitar as fêmeas. Então, não quero precisar de protecção, e quero poder fazer o que bem entender, sem que me atirem “és mulher”, como se fosse um handicap. Não quero um homem que me ponha debaixo do braço. Quero um homem que me dê a mão, e que caminhe ao meu lado.

Quando o encontrar, provavelmente nem assim vou dar amêndoas a quem quer que seja, porque casar é caro, e, já não tivesse eu que me preocupar com o facto de ser mulher, ainda tenho que me lembrar que a crise económica não passou, e que, como contribuintes, não temos género. Por isso, ninguém se vai oferecer para pagar os meus impostos por mim, em sinal de cortesia.

(Ainda) quero mudar o Mundo

|Tânia Rei|
Daqui a (menos de) uma semana, completarei 27 anos, e acredito que posso mudar o Mundo.

Pela primeira vez, em mais de 3 anos como colunista, escrevo sem ironia, sem sarcasmo, sem pitada de graçola velada. Tenho (quase) 27, e (ainda) acredito que posso mudar o Mundo.

Desde que me lembro, desde que consigo assimilar adágios populares, que ouço que “perguntar não ofende”.

Ah, que grande mentira! Perguntar ofende, perguntar é incómodo. Perguntar, sim, só o que é correcto e convém. Poderia dizer que foi isso, o querer quebrar o tabu, que me levou a ser jornalista, mas estaria a mentir. Caí no jornalismo sem querer, e, como nos melhores romances, acabei por me apaixonar perdida e irremediavelmente.

A verdade, sem que esta seja absoluta (nunca o é) e sem precisar de grandes perguntas de antemão, é que a sociedade está podre. Ou, sendo menos exagerada, até porque tenho (quase) 27 anos, e (ainda) acredito que posso mudar o Mundo, é que algo na sociedade está bafiento.

Os mesmos que batiam no peito, que comentavam no café e diziam ser “Charlie” são os mesmos que não têm grandes problemas na hora de pedir favores que calam. Os mesmos que não acham cartoons ofensivos, acabrunham-se com perguntas, ou com as respostas que não querem dar. Não disparam armas, mas não têm problemas com mordaças mais ou menos reais, quando se trata de servir o bem-comum, que, em boa verdade, serve é meia dúzia de pessoas. Pergunto-me o que aconteceria se estas pessoas fossem visadas pela ponta inofensiva de um lápis. Um lápis e uma folha, iguais aos usados numa mesa de escola, e com a liberdade de que goza uma criança (talvez já nem elas a gozem). Iriam respeitar a dita liberdade de expressão, ou mover céus e terra, para que os demais não pudessem ver através dos olhos de outros? Bom, adivinhem… Não é difícil. E, ressalve-se que ver com os olhos de outros não é necessariamente mudar ideologias e posturas. É antes dar o livre arbítrio de pensarmos pelas nossas cabeças, um direito que nos é roubado tão descaradamente, que passamos a achar que é normal não o termos.

Quanto mais escavamos na sociedade, quantas mais perguntas (sem respostas) fazemos, mais percebemos que algo está mal, e que toda a gente parece acomoda com isso, com a linha recta que nos traçam na frente no nariz. Ver com os olhos de outros não é permitido, até porque o ideal é que não se veja nada. No escuro, tudo parece imaculado.

“Há duas forças de unem os Homens: medo e interesse”, disse Napoleão Bonaparte. Continua actual, assustadoramente actual. Por favor, não façam com que eu deixe de acreditar na rectidão, na verdade, na liberdade em que nasci, na qual e com a qual fui criada. Não façam com que precise de ter medo de querer fazer perguntas, e de querer pensar, sempre, pela minha própria cabeça. Imploro-vos. É que, sabem, eu tenho (quase) 27 anos, e (ainda) acredito que posso mudar o Mundo.

Calem as bocas, as que querem cantar, com beijos

|Tânia Rei|
Palavras ditas, assim, a seco, nunca terão o mesmo efeito das palavras que são ditas sobre uma banda sonora.

A música tem o dom de intensificar qualquer palavra, qualquer conversa, qualquer beijo ou abraço, mesmo que ela toque apenas dentro da nossa cabeça.

Um dia, no meio de um jantar, e com uma música romântica de fundo, que acompanhava o videoclip na televisão, disseram-me que era perfeitamente plausível, ali, um pedido de casamento naquelas circunstâncias. A música acabou, a magia desfez-se, e nunca ninguém me pediu em casamento, felizmente.

A culpa foi da música. Qual drama cinematográfico. A música, que fizemos nascer para nos melhorar, para aprimorar momentos.

Nunca hei-de entender quem não gosta de música, em especial os que não gostam de boa música. Mas, em boa verdade, é melhor gostar de música rasca do que não gostar de nenhuma. Porque cantar, ainda que mal e aos gritos no carro, como se estivéssemos a ser esfaqueados por um assassino invisível, sentado no bando do passageiro, é revigorante.

Escrevo hoje sobre música, porque chegou o Outono, e lembrei-me de uma balada de que gosto, ainda que seja uma espécie de guilty pleasure. Tem tantos anos como eu, a Wicked Game, do Chris Isaak. E é perfeita para quase tudo.

Principalmente para recomeços. Ou melhor, para novos começos, sem o “re”, que dá a ideia penosa de “mais do mesmo”.

“Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida”, escreveu o incomensurável Pablo Neruda.

Se nada nos salva de gostar de alguém, pelo menos que a música ajude a calar nos sininhos dentro das nossas cabeças, digo eu. Que se calem as bocas que querem cantar aos gritos, no carro, na rua, em casa… E que se calem com um beijo, o beijo, aquele que desejamos, aquele que nos faz ouvir música em qualquer lugar, sem que sintamos que está na hora de consultar um psiquiatra.

Oportunistas, não, com sentido de oportunidade, sempre

|Tânia Rei|
“Não, não, não!”
Mil vezes “não”, gritado, estripado, malfadado, mas, sobretudo, sem sentido. Às vezes, é preciso reconhecer que perdemos, que “não dá mais” (tantas supostas citações apenas em quatro linhas de texto, ãh?). Ou, mais simples ainda, usar de algum bom senso e amor-próprio, e virar costas.

É que, solenemente, se há coisa que mescla a irritação extrema com a pena desmesurada é a falta de sentido de oportunidade. E se há coisas que todos deveríamos não quer causar em alguém são, justamente, irritação e pena.

Vou contar-lhos uma estória, uma que poderia ter acontecido a qualquer um de nós, ou que talvez nunca tenha acontecido, somente porque ninguém admitiria que passou por algo assim.

Bom, então, nesta estória há uma rapariga minimamente interessante. Vira as suas atenções para um rapaz. Ela, oportunista de sentimentos, de olho grande à procura de uma vítima que lhe massaje o ego, tenta mandar nele, mudá-lo. Acha, até, a pobre coitada, que ele daria a volta ao mundo descalço por ela. Ele, esperto, começa a perceber que, se calhar aquele “interessante” com que a catalogou no início é fraquinho, é daquelas pessoas que, no final das contas, nos obriga a gargalhar forçadamente, porque não tem tanta graça assim. Ele tem sentido de oportunidade, e vai embora.

Ela, atarantada com as sucessivas negas, continua a insistir, agindo ainda exactamente com o mesmo jeito, as mesmas palavras, que antes até eram estimulantes, mas que agora são um anticlímax para a vida em geral. Tivesse ela sentido de oportunidade, poupar-se-ia a tanta coisa. Nos filmes é sempre assim, nas comédias românticas. Há sempre um bibelô que não percebe que está a mais. Não sei se há assim tanta gente que nunca viu comédias românticas, para que não atinja que está a fazer figura de urso.

O amor, o entrosamento, a química – não vale a pena pedinchar, insistir, rastejar. Não vai nascer ao décimo convite para jantar, ou à milésima insinuação.

Às vezes, simplesmente, tudo se dissipa, e seguem-se caminhos separados.

“Não era mais fácil dizer directamente?”, podem perguntar. Se calhar, era. Mas, se verbalizássemos tudo, estaríamos a desperdiçar uma série de faculdades que é necessário treinar.

O Amor é bonito

|Tânia Rei|
Todas as estórias de Amor que conheço são bonitas.

Não há uma única estória de Amor que não tenha sido bonita, ainda que ao de leve. Se não foi bonita, se foi doentia, se fez sofrer, então, não era Amor.

Porque o Amor foi criado para ser bonito. Tem que ser bonito, porque foi assim que foi definido. É o que vem escrito nas informações de “como usar”, que deve ser bonito.

Dentre essas histórias que conheço, do Amor que é bonito, lembrei-me de uma que envolve um casal que já se conheceu no chamado “meio tempo”. Depois de duas vidas em comum, com outras duas pessoas, quis o destino que calhassem juntos eles os dois, feitas as devidas contas de subtrair.

Posteriormente, creio, foi sempre a somar. Ela foi para a Alemanha, onde tinha vida. Ele foi atrás, mesmo sem saber muito bem o que ia para lá fazer, sem dominar a língua, tão-pouco. Mas tinha uma certeza – o Amor é bonito, aquele Amor era bonito, e não era a feiura da dificuldade que o iria apagar. Digam-me, isto não é, simplesmente, bonito?

O Amor é bonito porque nos faz acreditar, nos torna fortes e nos tira os medos. O Amor puro e desinteressado é bonito.

Não quero acreditar num Amor que não seja bonito. Proíbam já, neste momento, que qualquer um devasse o nome do Amor, ao dizer que ele não é bonito. É que o Amor é um inocente, que precisa de ser defendido dos vis pecados carniceiros dos reles humanos, daqueles que não sabem amar. Daqueles que, pobres coitados, não perceberam ainda que o Amor é bonito.

Vou continuar a acreditar que o Amor é bonito, que foi feito para ser bonito, que só pode ser bonito.

E se um dia a feiura da dificuldade turvar a minha visão, qual serpente do Paraíso, vou fechar os olhos e pensar no Amor – naquele que é bonito.

Acção-reacção

|Tânia Rei|
Um dos males de ir envelhecendo é perceber que nenhuma acção pode ficar isenta de uma reacção. Não é bem um “efeito borboleta”, nem karma, nem azar.

É, simplesmente, uma consequência do que escolhemos em momentos determinados. E não há a hipótese do banho-maria, do “nem carne nem peixe”. É assim. Trigo limpo, farinha Amparo.

Quando há crimes bárbaros, com sangue a espichar por todo o lado, há sempre uma alminha que diz, com toda a naturalidade: “são maus momentos. Momentos do diabo.”

Maus momentos, tecidos pelo mal encarnado, que têm o poder de mudar para sempre muitas vidas.

Não costumo matar pessoas, pelo menos no sentido real da palavra. Posso, eventualmente, assumir as culpas por alguns homicídios latos, de corpos que permanecem, garanto, em actividade. Por isso, nunca mudei vidas de forma tão drástica. Mas, certamente, terei mudado a minha vida imensas vezes. Nem sempre por querer, ou determinar.

Tenho em crer, aliás, que nenhum de nós muda o curso de vida porque quer. Há quem diga, por aí à boca cheia, que toma decisões racionais, ponderadas.

É mentira. Pura mentira.

Ninguém toma atitude que seja sem que haja uma pauta emocional. Somos unos: cérebro e coração. E o malvado do segundo protagonista fala alto para caramba.

Ou, quiçá, pense assim porque sou mulher. As mulheres são muito mais do factor sentimental, não são? Ainda no outro dia me disseram “para vender alguma coisa numa decisão em casal, basta que a mulher diga que goste, que é bonito. Está vendido.”. Ou seja, que se lixe o lado lógico da coisa, o que importa é que fale ao coração.

Ainda assim, voltando ao tema central, certo é que toda a atitude gera uma consequência. E isso às vezes é mau, pois, assumo sem o dramatismo que incuti linhas acima. Mas o raio da culpa é da idade. Porque quando temos idade para ter juízo, já ninguém vai desvalorizar uma mão arisca ou uma palavra mal dada. Não somos miúdos do pré-escolar, que estão a aprender onde estão os limites. Quando temos certa e determinada idade, devíamos saber que esta vida é rodeada de cercas electrificadas, e que, quem não quer levar um valente choque, não estica demasiado o sim-senhor.

No final das contas, mesmo quando devíamos estar mais maduros, e saber que agir sem pensar pode ter consequências irrevogáveis, pensamos sempre, sempre, sempre assim: “que se lixe! Não quero saber!”.

E…lá vamos nós.

Às vezes faz doer, às vezes dói, às vezes porra nenhuma.

Um acto. Uma consequência. Temos que aprender a lidar com isso, mesmo quando os “momentos do diabo” não colmataram num derradeiro crime. O que não quer dizer que não nos recriminemos.

Certa vez, encontrei um gato meigo na rua. Amarelo e branco, com os olhos verdes. Andava por ali na rua, a miar, despertando em mim a vontade de o levar para casa. No meio de alguns olhares desentendidos e muitas tentativas de fuga, levei o bichano comigo, debaixo de um braço. Dei-lhe uma lata de atum, limpei-lhe o óleo do pêlo com uma toalhita húmida, e deixei-o andar por ali.

Sou alérgica a gatos, por isso fiquei cheia de conjuntivite; o gato queria era estar na rua, até porque tinha casa, e não sabia usar a caixinha da areia; acabei por devolvê-lo ao local onde o encontrei.

Moral da história: Nem sempre tomar uma atitude é a melhor opção, tendo em conta os possíveis desfechos; nada, por melhor ou mais bem-intencionado que nos possa parecer, passa incólume ao crivo. Na dúvida, fique quieto: pode não ser bom, mas, pelo menos, não vai haver retaliação.

Ciúmes, eu? Não! Mas que sejam muito felizes, juntinhos

|Tânia Rei|
Tenho uma velha máxima, tão velha quanto a minha maturidade permite, e que versa assim: quando se tem ciúmes, está na hora de virar costas, e fechar a tasca.

Ora, porque digo eu que quando sentimos ciúmes de alguém – ciúme, aquela picada no coração, qual efeito montanha-russa, e que provoca instintos assassinos; não aquele sentimento descabido de possessão – é sinal que estamos apanhadinhos. E estar apanhadinho nunca é bom. Até porque, em boa verdade, já ninguém quer andar por aí apanhadinho. Não é da moda, nem há tempo para gostar assim.

Por isso, podemos ir estando com uma pessoa, e mentir a nós mesmos, aos amigos, e, por favor, ao objecto da nossa paixão, a quem vamos, copiosamente, negar qualquer tipo de sentimento que ultrapasse o mero físico.

Temos saudades de estar juntos? Pois temos. Mas, não dizemos. Ficamos nervosos e ansiosos antes dos encontros marcados? Claramente, só que, em boa verdade, quem precisa de saber? Andamos bem-humorados e radiantes? Vê-se à légua, e a culpa…é do tempo, que está a melhorar.

Vamos fingir que gostamos de conchinhas, mimos e olhares melosos. Fingir, sim, porque é como que se não gostássemos. Ninguém do grupo dos “maus”, dos durões, dos “só sexo” gosta dessas coisas amorosas, e somente estúpidas.

Falamos da jeitosa da vizinha do andar de baixo, com quem nos cruzámos uma ocasião à entrada do prédio. Falamos do ex-namorado que teima em dar notícias e lembrar que “fomos tão felizes”. Falamos, e reprimimos o orgulho tonto por agora sermos nós ali, num lugar que, temos a certeza, é cobiçado por metade do universo.

E chega o dia, o malfadado dia, em que sentimos que o outro cede, que sorri demasiado, que, afinal, não quer só a nossa companhia. E fingimos novamente. Fazemos de conta que não nos afecta, que não queremos dar bofetadas na cara alheia, que, “de qualquer das formas, ainda que isto não foi mais avante”, e, o mais do que lógico, “eu sempre soube que isto não era para ser nada sério”.

Sentimos ciúmes, Amuamos como crianças, sentadas à beira de uma caixa de areia num parque infantil. Tiraram-nos o escorrega, deixámos cair o chupa-chupa em cheio na dita areia, que depressa se agarrou, ao ponto de o tornar inconsumível.

E continuamos enciumados. E sozinhos, porque não vamos admitir que tudo não passa de uma crise de dor de cotovelo. Seguimos caminhos opostos, somente porque nunca teremos a coragem de assumir o quanto gostamos. Que gostamos, imagine-se, ao ponto de sentirmos ciúmes.

Como engatar (ou, pelo menos não parecer um atrasado mental)

|Tânia Rei|
Estamos no século XXI, a era que, quero crer, foi sonhada para ser de igualdade entre géneros, de diferenças que se esbatem nas semelhanças cerebrais, da genialidade do entendimento entre pessoas.

Mas, alguém falhou, redondamente, essa emenda.

Ora, assim sendo, sinto uma necessidade atroz de explicar, particularmente aos homens, aquilo que fazem que irrita solenemente uma mulher, e que certamente, vai fazer a caça levantar voo. E, claro está, um pássaro só por muita coincidência voltará a pousar com o mesmo vagar no mesmo galho. Exkrever portuguex – parecendo que não, é essencial para a comunicação. E para parecer que se terminou o 1º ciclo com sucesso.

Abordagens como “olá linda” – é uma estirpe que não consigo qualificar. A não ser que se trate de um nome próprio, e tenham dificuldade em escrever nomes próprios com maiúscula, não digam isso, assim, à papo-seco. É uma entrada a pés juntos. Com direito a cartão. Já para não dizer que é típico de quem ficou preso em 2005, em plena geração Yorn, quando começámos a ter SMS grátis, e dizíamos coisas parvas, sem pensar.

“Então, que fazes?”, ou a variante “então o que fazes da vida?” – se não conhecem a pessoa em questão, pode não ser propriamente a maneira mais fácil de quebrar o gelo. Haja tacto. E haja expectativa de não obter resposta.

Frases rudes e de teor sexual – pelos motivos óbvios. A não ser que tenham vestida uma gabardina sem nada por baixo. Fotos de genitais – pelos mesmos motivos óbvios.

“Ah, o teu namorado…” – poupem-nos, e perguntem directamente.

“Vi-te no Facebook, e mandei-te um pedido de amizade, porque te achei gira” – a mim, e a mais 20 miúdas. Sem credibilidade. Já agora, façam o que fizerem, NÃO tentem dar corda a mulheres que possam, por eventualidade, falar entre si. Se há coisa que as mulheres fazem, é falar. Sobre tudo! E por isso, vai arranjar corda, sim, mas para um enforcamento à patrão.

Marcação cerrada – ligo já para a GNR, ou…

Demasiado contacto físico – toques na mão, toques na perna, toques na cara, no cabelo… Parecem só tarados. Não é sexy. Falar somente sobre si mesmo – Narciso, és tu?

Pessoas que tentam embeber as “presas” – alguém inteligente, aceita um copo à borla, e vem embora.

Convidar para jantar ou para um café, porque acham que é um passaporte para o “coração” - Não, não é. Ou têm conversa, ou nada feito. Em suma, o importante é ser normal, não cheirar a Old Spice, e ir de peito à bala. Sem muitos truques, nem manias.

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