“Ai, se o arrependimento matasse…”

|Tânia Rei|
… Eu cá continuava vivinha da silva, até porque estar morta consome tempo, que me faz falta para coisas realmente importantes. Estaria a ser hipócrita se dissesse que acertei sempre naquilo que fiz, que tomei sempre as melhores decisões ou que sempre fui a melhor pessoa possível. Não é nada disso.

Às vezes erramos por inocência, outra por maldade. E, lá no fundo, não há aí nada de recriminável. Certa vez escrevi-vos eu que toda a atitude tem uma consequência. Por isso, certo ou errado, fizemos uma escolha, que trará um resultado. Aguentem-se à bronca. E, mesmo que adivinhássemos o futuro, iriamos continuar a escolher e a fazer o errado somente porque temos a brilhante cisma de que somos seres etéreos, capazes de manipular tudo à nossa vontade. Até é verdade, na medida em que usamos o nosso livre arbítrio. Não podemos é pedinchar ao cosmos que se compadeça das nossas vontades.

A tentativa-erro, além de significar que continuamos vivos, e a andar para algum lado, é ainda a prova inequívoca de que estamos a transformar. E quem nos conhece depois de cairmos vinte vezes, conhece quem já aprendeu a apertar bem os atacadores dos sapatos, e quem aprendeu o que dói o chão a raspar nos joelhos. Alguém que errou, ou com quem erraram, passa a usar uma capa dura, mas, no reverso, sabe o valor de não tombar ninguém na caminhada.

O arrependimento, na acepção da palavra, é algo a evitar. A autoflagelação da alma, que nos estagna e que nos arrasta para o passado. E o passado está feito, não vai mudar. Em boa verdade, no passado só há terra queimada. O fogo passou, e consumiu tudo. As fontes inflamáveis, que clamam para arder, chamam-se presente e futuro.

Errar e reconhecê-lo é subir um degrau em direcção à evolução. Até ao dia em que seremos, genuinamente, melhores. Em que iremos equivocar-nos menos, iremos magoar menos, gritar menos e aproveitar mais o tempo e as pessoas.

O tempo também é um conceito recorrente neste texto. E não é à toa. Quem tem tempo é rico. Tenhamos nós tempo para errar, e tempo para fazer o certo, e teremos uma vida cheia. Não nos apressem os relógios, deixem-nos no nosso vagar. Até que tudo seja perfeito.

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