Calem as bocas, as que querem cantar, com beijos

|Tânia Rei|
Palavras ditas, assim, a seco, nunca terão o mesmo efeito das palavras que são ditas sobre uma banda sonora.

A música tem o dom de intensificar qualquer palavra, qualquer conversa, qualquer beijo ou abraço, mesmo que ela toque apenas dentro da nossa cabeça.

Um dia, no meio de um jantar, e com uma música romântica de fundo, que acompanhava o videoclip na televisão, disseram-me que era perfeitamente plausível, ali, um pedido de casamento naquelas circunstâncias. A música acabou, a magia desfez-se, e nunca ninguém me pediu em casamento, felizmente.

A culpa foi da música. Qual drama cinematográfico. A música, que fizemos nascer para nos melhorar, para aprimorar momentos.

Nunca hei-de entender quem não gosta de música, em especial os que não gostam de boa música. Mas, em boa verdade, é melhor gostar de música rasca do que não gostar de nenhuma. Porque cantar, ainda que mal e aos gritos no carro, como se estivéssemos a ser esfaqueados por um assassino invisível, sentado no bando do passageiro, é revigorante.

Escrevo hoje sobre música, porque chegou o Outono, e lembrei-me de uma balada de que gosto, ainda que seja uma espécie de guilty pleasure. Tem tantos anos como eu, a Wicked Game, do Chris Isaak. E é perfeita para quase tudo.

Principalmente para recomeços. Ou melhor, para novos começos, sem o “re”, que dá a ideia penosa de “mais do mesmo”.

“Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida”, escreveu o incomensurável Pablo Neruda.

Se nada nos salva de gostar de alguém, pelo menos que a música ajude a calar nos sininhos dentro das nossas cabeças, digo eu. Que se calem as bocas que querem cantar aos gritos, no carro, na rua, em casa… E que se calem com um beijo, o beijo, aquele que desejamos, aquele que nos faz ouvir música em qualquer lugar, sem que sintamos que está na hora de consultar um psiquiatra.

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