Novos extremos

|Hélio Bernardo Lopes|
Como há dias referi, nós vivemos numa sociedade de extremos. Dei, então, os exemplos da agressão a Ruben Cavaco e do homicídio de Rosalina Ribeiro, o primeiro fortemente badalado e recebendo exigências de celeridade, o segundo completamente esquecido. A verdade é que estes casos surgem-nos a cada dia que chega. Hoje, exponho aqui dois casos deste tipo, surgidos nos dias mais recentes.

O primeiro é o que se refere ao juiz Carlos Alexandre, sobre cujas declarações se fez um eco verdadeiramente notável e singular. Estando de um lado um juiz probo e que segue em frente com os casos que tem em mãos, e do outro os que envolvem concidadãos com funções nunca até hoje tocadas, o juiz passou logo a ser o mau da fita. Um homem a abater. Noticiário após noticiário, foi-se desenvolvendo uma campanha que deverá ser única – ou perto disso – no mundo.

Em contrapartida, surgiu a notícia de que José António Saraiva iria publicar, com lançamento já para este mês, um livro com a exposição de alegados aspetos ligados à vida íntima de concidadãos nossos. E também que tal obra iria ser apresentada por Pedro Passos Coelho.

É verdade que teve lugar um ligeiro barulhinho, mas incomensuravelmente menor que o que teve lugar ao redor das entrevistas do juiz Carlos Alexandre. E mostrou a fantástica desfaçatez de Pedro Passos Coelho, porque alegando que a obra não é sua e que desconhecia o seu teor, tinha dado a sua palavra, pelo que não queria agora dar o dito por não dito.

Como já é usual, sendo de gente da Direita, logo o barulho se foi, ao mesmo tempo que o surgido ao redor do juiz se mantém, embora a um nível que parece decrescer. Num certo sentido, até se compreende esta realidade, porque no caso do juiz a ação das autoridades judiciárias pode chegar a qualquer momento, ao passo que com o livro de José António Saraiva uma outra obra do tipo pode vir a atingir outros concidadãos nossos... Portanto, o melhor ainda é estar caladinho e assobiar para o lado...

Mas o grande espanto de tudo isto está em Pedro Passos Coelho. E se ele soubesse agora que o livro fazia referências, por exemplo, a seu pai, ou a um tio, ou à sua primeira mulher? Ou a Francisco Sá Carneiro ou Francisco Balsemão? Ou a Aníbal Cavaco Silva? Iria continuar a determinar-se a apresentá-lo, só por ter já dado a sua palavra? Bom, se assim fosse, teríamos de considerá-lo um idiota, ou logo pensar como, por brincadeira, o fez Luís Pedro Nunes em O EIXO DO MAL da madrugada do passado domingo.

Por fim, a conclusão: o leitor tem aqui dois casos, um de alguém probo e competente, outro de um político que se presta a uma tarefa deste tipo. Bom, caro leitor, mesmo que desinteressado da vida pública, se acaso vier a ler este meu texto, certamente aquiescerá em que lhe compete comparar e tirar as mais que evidentes conclusões: o que poderá estar por detrás destes dois tipos de reação da nossa grande comunicação social? E sabe que mais? O passado já não se pode apagar, podendo mesmo surgir com mentiras e cabalíssimas invenções. Ou seja: temos a democracia.

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