"Solidão" poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]"Solidão"

Solidão Ão ão
Ladro a esta companheira
e faço-o por antecipação
mesmo sabendo que cairei na ratoeira
para a qual ela de supetão me empurrará

O ardil é a escrita, não digo poesia,
digo escrita, em geral descrita
como fatalidade, como resignação

A escrita são palavras,
umas chochas outras gradas,
manifestações verbais que entretêm o solitário
é exercício que anestesia
e ameniza a ocasião escura e fria

Não haverá compenetração
sem retiro ou mesmo clausura,
apenas apócrifa e erma vastidão

Ladro à solidão merencória e pesarosa
mas procuro o momento, a sós, inspirador
À outra digo: Não!

E com ela embarco e retomo a busca
incessante, esgotante, castradora
esperando mais um naufrágio…

Mas enquanto e não
ladro também ao vento
ão ão ão
pode ser que ouça lamento
de canita à deriva como eu

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601402.us.archive.org/14/items/podcast-poemario-14/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2314.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Solidão``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]“Solidão”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Do prólogo de Norberto Veiga

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"A Ordem", poema de Jesús Lizano

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]A ordem

Isto é a Ordem!
Tudo
sumido numa ordem,
tudo dependente das ordens,
dos mecanismos, dos uniformes,
das fronteiras, dos princípios,
dos códigos, dos fins.
Isto é a Ordem!

Símbolos, mensagens, leis,
ordenamentos, conceitos,
praga de conceitos,
desde que nascemos
até que morremos,
todos
escravos dos conceitos.

Mas, nascemos? Morremos?
É possível tal coisa
no meio de tanta Ordem?

E ordenadores, ordenadores:10
faltava este grande invento
para que tudo seja uma Ordem.

Uma Ordem!
Isto é uma Ordem!
Ordeno e mando!
Às suas ordens!

Uma Ordem é a nossa Razão,
essa sim é uma Ordem,
da qual nascem todas as ordens,
mãe dos nossos crimes,
sombra das nossas luzes,
poço dos nossos sonhos:
A palhaça do mundo!

Determinações, mandamentos:
como dez mandamentos?:
milhares e milhares de mandamentos!

Cálculos, classificações,
rituais, milhares de rituais.
Tudo medido,
tudo milimétrico.
Como poderemos ser
únicos e companheiros?
Ordem de Malta,
Ordem de São Bento,
ordens mendicantes,
ordens e contra-ordens.
A quadratura do círculo!
A quadratura da Beleza!
A quadratura do pensamento!

Pobre pensamento:
se o pensamento é uma criança…

Como sair da Ordem
estabelecida, imposta, justiceira
uma Ordem
de dominados e dominantes,
de vencedores e vencidos.
E a ordem dos factores!

Ordens, Academias,
isso sim, Reais,
mentalizadoras.
O Mundo
é uma Ordem fantástica,
enlouquecida,
faz e desfaz,
faz e desfaz.
Atenha-se às ordens!
Uma Ordem! É uma Ordem!

(Espero que saibais
o que quero dizer
quando digo Ordem…)

Não, não: o que nós
necessitamos são desordenadores,
mudar a Ordem,
a implacável Ordem,
este viver matemático e geométrico,
mimético, envenenador.
É a Ordem!

Que se pode esperar
se nascer é uma ordem,
morrer é uma ordem.
Tanta Ordem
e tanto sofrimento!

Por ordem alfabética!
Por ordem de aparecimento em cena!
Não, não:
eu quero desordenar-me,
necessito de desordenar-me, libertar-me
de tanto ordenamento
que faz de mim uma Ordem.

É a Ordem!
Cuidado com a Ordem!
Como sentir
se se é uma Ordem?
Como pensar
se se é uma Ordem?
Como sonhar
se se é uma Ordem?

Regras, medidas, alfaiates
enlouquecidos, medidores.
Isto é a Ordem!

Ordens de registo:
levo os bolsos
cheios de ordens de registo.
Forças da Ordem.
Claro: da Ordem!

Mal saio de uma Ordem
e já me persegue outra Ordem:
Ordem pública, pública,
Ordem íntima: um
a dar ordens
a si mesmo!

E vozes preventivas
e vozes executivas,
pobres vozes!

Passem, senhores, passem!
A numerar-se! A ordenar-se!
Proibido alterar a Ordem!
Isto
é uma Ordem!

Reflexos condicionados,
funções condicionadas,
pessoas rectas,
ideias fixas,
deuses, deuses
rectos e fixos,
imagens: que mistura
de imagens, de sombras,
de ordens.
Uma Ordem! Uma Ordem!

A norma, a regra:
tem a regra,
cumpre a ordem.
É a Ordem,
o grande teatro da Ordem!
A eterna submissão
do diverso à Ordem!

Liberdade!
dentro de uma Ordem!

A Ordem!
Isto é a Ordem!

Dizei-me: do homem e da mulher!
Que resta aqui do homem e da mulher?

Jesús Lizano[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601402.us.archive.org/32/items/podcast-poemario-22/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2322.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="`` A Ordem``, poema de Jesús Lizano" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado “Antiseñor Lizano” por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente “A coluna poética e o poço político” na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.

“…exemplo de luta em defesa da humanidade
e de todas aquelas causas justas às quais dedicou a vida… que a sua figura e a sua obra de luta social a favor dos desiguais seja seguida e recordada por muito tempo…”[/vc_column_text][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][bs-push-notification style="t2-s1" title="Subscribe for updates" show_title="0" icon="" heading_color="" heading_style="default" title_link="" bs-show-desktop="1" bs-show-tablet="1" bs-show-phone="1" bs-text-color-scheme="" css=".vc_custom_1591456394820{margin-top: 250px !important;margin-bottom: 250px !important;}" custom-css-class="" custom-id=""][better-ads type="banner" banner="3816" campaign="none" count="2" columns="1" orderby="rand" order="ASC" align="center" show-caption="1" lazy-load=""][/vc_column][/vc_row]

"À Tecedeira", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]À Tecedeira

Revela-me ó tecedeira
como urdes com versos de malha
nesse mágico e sóbrio apresto
o poema-manta que me agasalha

Eu só o fio do poema conheço

Esguia e veloz lançadeira
barcarola-canela de linhas
que roça fricciona insinua
em mão esbelta da tecedeira
qual surfista navegante

vem depois o pente e mistura
a textura do instante

Eu só entrelaçar versos sou capaz

Vai e vem           leva e traz
fios linhas cores ideias
lenços telas e tafetás
e muitas e muitas teias

Eu só tecer poemas sei

Enquanto tu ó tecedeira
após cardar fiar e dobar
teces mantilha-floreira
xaile-manta        amictório
com que me hás-de velar

Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601408.us.archive.org/10/items/podcast-poemario-30/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2330.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``À Tecedeira``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"]https://ia601408.us.archive.org/10/items/podcast-poemario-30/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2330.mp3[/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]“Rostos Transmontanos”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos”, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

No poema “À Tecedeira”, que, de imediato, reenvia a memória do leitor para a Odisseia, de Homero, e para o episódio da rainha Penélope, o autor apresenta o seu modus faciendi, isto é, a sua arte poética. O escritor, empregando metáforas que associam a poesia às artes do tear e do bordado, compara o texto/poema a um “poema- -manta”, realçando os significados de “tecer, entrelaçar os fios” que escoram a etimologia do vocábulo texto. O labor poético entrelaça vogais, consoantes, sons, palavras e ritmos para formar o texto, ou o “poema-manta”. Esta composição patenteia, ainda, a dificuldade
do trabalho poético, que é comparado ao labor doméstico, ou seja, à renda e ao tear, atividades que exigem muita atenção e concentração. Nota-se, ainda, uma gradação ascendente desse processo, prefigurada nos versos “eu só o fio do poema conheço” (v. 5), “eu só entrelaçar versos sou capaz” (v. 13) e, por fim, “eu só tecer poemas sei” (v. 18). Em suma, enquanto a Tecedeira/Penélope entrelaça.

[Do prólogo de Norberto Veiga][/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"Mamíferos", poema de Jesús Lizano

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Mamíferos

Eu vejo mamíferos.
Mamíferos com nomes estranhíssimos.
Esqueceram-se que são mamíferos
e creem-se bispos, canalizadores,
leiteiros, deputados. Deputados?
Eu vejo mamíferos.

Polícias, médicos, porteiros,
professores, alfaiates, cantautores.
Cantautores?
Eu vejo mamíferos…

Presidentes, criados, escriturários, mestres d’obra,
Mestres d’obra!
Como pode crer-se mestre d’obra um mamífero?
Membros, sim, membros, creem-se membros
do comité central, da ordem dos médicos…
académicos, reis, coronéis.
Eu vejo mamíferos.

Actrizes, putas, assistentes, secretárias,
directoras, lésbicas, puericultoras…
Na verdade, eu vejo mamíferos.
Ninguém vê mamíferos,
ninguém, ao que parece, se lembra que é mamífero.
Serei eu o último mamífero?
Democratas, comunistas, xadrezistas,
jornalistas, soldados, camponeses.
Eu vejo mamíferos.

Marqueses, executivos, sócios,
italianos, ingleses, catalães.
Catalães?
Eu vejo mamíferos.

Cristãos, muçulmanos, coptas,
inspectores, técnicos, beneditinos,
empresários, caixeiros, cosmonautas…
Eu vejo mamíferos.

Jesús Lizano[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601400.us.archive.org/32/items/poemarioparamamiferos/poemarioparamamiferos.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Mamíferos``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado “Antiseñor Lizano” por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente “A coluna poética e o poço político” na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.

“…exemplo de luta em defesa da humanidade
e de todas aquelas causas justas às quais dedicou a vida… que a sua figura e a sua obra de luta social a favor dos desiguais seja seguida e recordada por muito tempo…”[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"Rostos Transmontanos", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Rostos Transmontanos

São rostos que não deixam ninguém indiferente
são o rosto de uma região inteira.
Contêm toda a Geografia Transmontana,
revelada pelos sulcos neles impressos
durante a passagem do khrónos.
Tempo e telurismo, juntos.
Solo e clima agrestes.
Ladeiras, fragas e arroios.
Moroiços, socalcos, cepas, oliveiras e amendoeiras.
Janeiros geadeiros e canículas estivais.
As leiras.
Afinal daimosos porque dobrados pela vontade
inquebrantável de sobreviver no território
que lhes calhou para viverem.
São retratos, são gente,
gente que povoa um território que se despovoa.
São metáforas.
Mensagens de canseira, de solidão,
de sofrimento, de mágoa, de privações,
de sobrevivência, por vezes de resignação.
Mas também os há, de confiança, de grandeza,
de fé e até esplendor.
Todos dignos.
Este conjunto de telas é um registo in extremis
de um corpo extenuado, que definha
porque o seu sangue embarca todos os dias.
Já não é só o vinho que desce o Douro,
é também quem plantou as cepas.

Carlos d'Abreu
"Rostos transmontanos", entrevista a Paulo Patoleia [icon name="video-camera" class="" unprefixed_class=""] 

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601502.us.archive.org/35/items/podcast-poemario-23/Podcast%20Poem%C3%A1rio%2323.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Rostos Transmontanos``" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2489" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_column_text]“Rostos Transmontanos”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos", de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

“A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades’”.

Do prólogo de Norberto Veiga

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

"Mãe", poema de Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="2/3"][vc_column_text]Mãe

corro o risco de já não viver no teu centenário
por isso lembrar-me-ei especialmente de ti
aquando do nonagésimo aniversário

lá longe, em casa-de-branco do tupi-guarani
à vista dos remansos da guanabara, naquele
rio-de-janeiro que te acolheu em abril

em abril voltaste à casa de xisto que te pertencia
(por avoengos meus terem visto do outro lado mar)
lançando âncora de torna-viagem

num abril casaste e a partir voltaste para outro lugar
do mar. e daí para o sertão onde também em abril desse lugar
te arrancaram e comigo regressaste à terra montanhosa e fria

e noutro abril insististe em volver a pisar o caminho do mar
e mais uma vez em abril te arrancaram da terra ocre
que amaste e retrocedeste às sombrias quelhas piçarrentas

de negras paredes. foram muitas idas e retornos e às fadigas
soçobraste, resistindo apenas três abris mais, até que rua
além te levaram para o recinto onde jazes

e nele de ti me despedi no abril seguinte
em vésperas de rumar à praça do carioca mauá
prometendo-te ser capaz de subir os degraus
que se me deparassem para descer.

fui e em dois abris regressei também
sem saber se coisa alguma vencera
mas a minha peregrinação amainou, e agora sei apenas
que num ido abril à casa onde me pariste e comigo
viveste, voltei para recordar as já distantes canções de embalar

no doce e morno aconchego do teu regaço
(partiste em viagem sem retorno e eu órfão)
mas sei que a minha tristeza seria menos merencória

se ao menos pudesse estar na nossa casa
(a minha ante-câmara da morte)
em vez de só e desagasalhado.

nela hei-de verter todas as lágrimas
para quando em abril for ao teu encontro
repetir os sorrisos de menino

Carlos d´Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/3"][zoomsounds_player source="https://ia601406.us.archive.org/15/items/mae-licencadeaudio-podcast-poemario-20_202005/mae-licencadeaudio-Podcast%20Poem%C3%A1rio%2320.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="Mãe" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2489" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||" css=".vc_custom_1588462424593{margin-top: -15px !important;}"][vc_column_text css=".vc_custom_1588462037320{margin-top: 20px !important;}"]“Mãe”, integra o livro de poesia “[des(en)]cantos e (alguns) gritos“, de Carlos d’Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de ‘novos sentidos e possibilidades'”.

Do prólogo de Norberto Veiga[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

A liberdade, sim, a liberdade!

[vc_row][vc_column width="2/3"][vc_column_text]A liberdade, sim, a liberdade!

A liberdade, sim, a liberdade!
A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicções.
Ser dono de si mesmo sem influência de romances!
Existir sem Freud nem aeroplanos,
Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço!

A liberdade do vagar, do pensamento são, do amor às coisas naturais
A liberdade de amar a moral que é preciso dar à vida!
Como o luar quando as nuvens abrem
A grande liberdade cristã da minha infância que rezava
Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim...
A liberdade, a lucidez, o raciocínio coerente,
A noção jurídica da alma dos outros como humana,
A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez
Gozar os campos sem referência a coisa nenhuma
E beber água como se fosse todos os vinhos do mundo!

Passos todos passinhos de criança...
Sorriso da velha bondosa...
Apertar da mão do amigo [sério?]...
Que vida que tem sido a minha!
Quanto tempo de espera no apeadeiro!
Quanto viver pintado em impresso da vida!

Ah, tenho uma sede sã. Dêem-me a liberdade,
Dêem-ma no púcaro velho de ao pé do pote
Da casa do campo da minha velha infância...
Eu bebia e ele chiava,
Eu era fresco e ele era fresco,
E como eu não tinha nada que me ralasse, era livre.
Que é do púcaro e da inocência?
Que é de quem eu deveria ter sido?
E salvo este desejo de liberdade e de bem e de ar, que é de mim?

Álvaro de Campos

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/3"][zoomsounds_player source="https://ia601503.us.archive.org/1/items/aliberdade/aliberdade.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="A liberdade, sim, a liberdade!" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-bellow" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_wp_text]Poema de Fernando Pessoa, no pseudónimo de Álvaro de Campos, dito por Carlos d'Ábreu no dia 25 de Abril de 2020. Os créditos do arranjo instrumental Grandola Vila Morena pertencem a António Teixeira.

[/vc_wp_text][/vc_column][/vc_row]

"A que morreu às portas de Madrid", poema de Reinaldo Ferreira (filho)

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]"A que morreu às portas de Madrid"

A que morreu às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
Teve a sorte que quis,
Teve o fim que escolheu.
Nunca, passiva e aterrada, ela rezou.
E antes de flor, foi, como tantas, pomo.
Ninguém a virgindade lhe roubou
Depois dum saque — antes a deu
A quem lha desejou,
Na lama dum reduto,
Sem náusea, mas sem cio,
Sob a manta comum,
A pretexto do frio.
Não quis na retaguarda aligeirar,
Entre champagne, aos generais senis,
As horas de lazer.
Não quis, activa e boa, tricotar
Agasalhos pueris,
no sossego dum lar.
Não sonhou minorar,
Num heroísmo branco,
De bicho de hospital,
A aflição dos aflitos.

Uma noite, às portas de madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
À hora tal, atacou e morreu.
Teve a sorte que quis.
Teve o fim que escolheu.

Reinaldo Ferreira (filho)[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601500.us.archive.org/23/items/podcastpoemario-5/%23podcastpoemario5.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``A que morreu às portas de Madrid``" songname="Poemário de Carlos d’Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2489" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_wp_text]Reinaldo Ferreira (filho)

"Poeta português nascido em Barcelona, filho do famoso jornalista com o mesmo nome, que nos anos 20 se celebrizou por assinar as suas peças sob o pseudónimo «Repórter X». Teve uma vida breve e pouco bafejada pela sorte. Iniciou os estudos secundários em Espanha, tendo-os concluído já em Moçambique, onde se fixou. Colaborou em algumas publicações de Maputo (a então cidade de Lourenço Marques) e da Beira: Capricórnio, Itinerário, Paralelo 20, etc. A sua poesia só ficou conhecida aquando da publicação póstuma dos seus Poemas (1960). Uma segunda edição, de 1966, vinha acompanhada de um prefácio de José Régio, que, tal como Vitorino Nemésio, lhe teceu largos elogios. A sua poesia pode ser enquadrada na tendência presencista, encontrando-se também elementos que a ligam ao simbolismo e ao decadentismo. Se nos seus poemas imperam a ironia, o niilismo e o absurdo, existe por outro lado um forte pendor humanista, visível na crítica a certos mitos".

Fonte: Escritas.org [icon name="external-link" class="" unprefixed_class=""][/vc_wp_text][/vc_column][/vc_row]

"Poemo", poema de Carlos d'Abreu, dito por Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Poemo

Poemo, serei um poemo
Não o poemo do liçanote
O ácrata engenhoso
Que se julgava quixote
Mas o apátrido poeto
O poeto que se repete
Que se perde e extravia
Se descobre e se encontra
Tanto é peixe alado de boch
Como pássaro remador de parafício
É memória mas também olvido
Nesta sala vazia de agasalhos
Onde o poeta julga estar
Reina apenas a solidão
Talvez tudo não passe
– incluindo-me –
de um equívoco![/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601403.us.archive.org/22/items/poemo_202004/Poemo.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Poemo``, poema de Carlos d'Abreu" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2487" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_wp_text]"Poemo", integra o livro de poesia "[des(en)]cantos e (alguns) gritos", de Carlos d'Abreu, editado em 2017 sob a chancela da editora Lema d’Origem.

"A narratividade dos poemas, associada ao tom coloquial, constitui outro traço distintivo da poética do autor. Muitos dos carmes, em todos os andamentos, evocam as narrativas mágicas e imemoráveis que vão passando de geração em geração. Esta narratividade, coadjuvada pelo ritmo rápido e cadenciado da quadra, predetermina a atenção do leitor para a reflexão e a procura de 'novos sentidos e possibilidades'".

Do prólogo de Norberto Veiga[/vc_wp_text][/vc_column][/vc_row]

"Os Pobres", poema de Jesús Lizano dito por Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]"Os pobres"

Somos os pobres,
os famintos pobres,
os mutilados pobres,
os pestilentes pobres,
por todas as partes pobres,
os indesejáveis pobres,
os preguiçosos pobres,
os miseráveis pobres,
os estranhos, os irritantes
pobres,
pobres de nascimento,
pobres atirados às ruas,
os andrajosos pobres,
os enfermiços,
os marginalizados,
os exaltados pobres,
os pobres do porto,
os contagiosos pobres,
os cegos, os surdos,
os impotentes pobres,
os ridículos pobres,
carniceiros,
trapeiros,
inclassificáveis pobres,
pobres sobre pobres,
pobres vulgares,
pobres fantasmas,
pobres apátridas,
pobres de ninguém,
pobres de nada,
pobres bem pobres,
os delirantes pobres,
nos bancos dos parques,
indesejáveis,
indignos,
horripilantes pobres,
pobres com pobres,
condenados pobres,
malditos pobres,
tétricos, surrentos,
bófias,
pobres cobertos de pó,
esqueléticos pobres,
cada vez mais pobres.
Vivam os pobres!

Tradução de Carlos d'Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601508.us.archive.org/4/items/ospobres/ospobres.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Os Pobres``, poema de Jesús Lizano dito por Carlos d'Abreu" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2489" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][vc_wp_text]Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado “Antiseñor Lizano” por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente “A coluna poética e o poço político” na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.

“…exemplo de luta em defesa da humanidade
e de todas aquelas causas justas às quais dedicou a vida… que a sua figura e a sua obra de luta social a favor dos desiguais seja seguida e recordada por muito tempo…”[/vc_wp_text]

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[/vc_column][/vc_row]

Poema “Irmãos” de Celso Emilio Ferreiro, dito por Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Irmãos

Caminham junto a mim muitos homens.
Não os conheço. São-me estranhos.
Mas tu, que te encontras lá longe,
mais além dos desertos e dos lagos,
mais além das savanas e das ilhas,
como a um irmão te falo.
Se é tua a minha noite,
se choram os meus olhos o teu pranto,
se os nossos gritos são iguais,
como a um irmão te falo.
Ainda que as nossas palavras sejam diferentes,
e tu negro e eu branco,
se temos as feridas iguais,
como a um irmão te falo.
Por cima de todas as fronteiras,
por cima de muros e valados,
se os nossos sonhos são iguais,
como a um irmão te falo.
De comum temos a mesma pátria,
de comum a luta, ambos.
A minha mão te dou,
como a um irmão te falo.

Poema “Irmaus” de Celso Emilio Ferreiro.
Tradução de Carlos d’Abreu[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia801402.us.archive.org/31/items/irmao/irmao.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="``Irmão``, poema de Celso Emilio Ferreiro" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" enable_likes="on" enable_download_button="on" wrapper_image="2489" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-center" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||" css=".vc_custom_1585397686787{margin-top: -10px !important;}"][vc_wp_text]Celso Emilio Ferreiro (1912-1979)

Celso Emilio Ferreiro foi um escritor galego. Era de família remediada, camponesa e galeguista. Aos 22 anos, em 1934, fundou com José Velo Mosquera a Federação de Mocedades Galeguistas.
Quando estalou a guerra Celso Emílio foi obrigado a entrar no exército franquista. Esteve condenado a morte e, nas quatro noites que passou no cárcere até a família conseguir o indulto, escreveu o poema “Longa noite de pedra“, núcleo central do livro do mesmo título.[/vc_wp_text][/vc_column][/vc_row]

"Portwine", poema de Joaquim Namorado dito por Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_wp_text]"Portwine", poema de Joaquim Namorado

O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bars.

O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças,
primeiro se afundam em terra as suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.

Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris,
tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.
As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns,
comerciantes trocam por esterlinos
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.

Em Londres os lords e em Paris os snobs,
no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe,
à tristeza infinita de um destino.

O rio Douro é um rio de sangue,
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!,
Liberta-te, meu povo! – ou morre.[/vc_wp_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601504.us.archive.org/24/items/portwinefinal/portwinefinal.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" cover="2489" artistname="``Portwine``, poema de Joaquim Namorado dito por Carlos d'Abreu" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" wrapper_image="2489" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-bellow" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PDCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||" css=".vc_custom_1584805834128{margin-top: -15px !important;}"][vc_wp_text]Joaquim Namorado (1914-1986)

Joaquim Victorino Namorado nasceu em Alter do Chão, a 30 de Junho de 1914 e faleceu em Coimbra, a 29 de Dezembro de 1986. Antifascista militante e de elevada estatura intelectual, notabilizou-se como poeta e como militante anti-fascista.

Licenciado em Ciências Matemáticas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra viria, após o 25 de Abril de 1974, a ingressar no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia daquela universidade.

Foi um dos iniciadores e teóricos do movimento neo-realista em Portugal e colaborou nas revistas Seara Nova, Vértice, Sol Nascente, entre outras.[/vc_wp_text][/vc_column][/vc_row]

"O ofício do Poeta", poema de José Agustin Goytisolo

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]José Agustin Goytisolo
Poeta espanhol da geração dos anos 50, cujo trabalho se centrou na experiência individual e no seu compromisso social. Membro da chamada Escola de Barcelona, estudou nas universidades de Barcelona e Madrid, graduando-se em Direito. Irmão mais velho dos romancistas Luis Goytisolo e Juan Goytisolo , destacou-se especialmente como poeta, embora também tenha realizado importante trabalho como tradutor, além de escrever artigos sobre literatura e alguns contos. Seu trabalho foi extensivamente estudado por ensaístas e críticos literários.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia801504.us.archive.org/28/items/oficiodopoeta/oficiodopoeta.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" cover="2489" artistname="``O ofício do Poeta``, poema de José Agustin Goytisolo" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" wrapper_image="2489" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-bellow" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" css=".vc_custom_1583602619505{margin-top: -15px !important;}" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][/vc_column][/vc_row]

Poema “A Sentença” (para una nueva cultura del agua)

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]É este o primeiro poemário, publicado, de Carlos d’Abreu (abreu@usal.es), raiano do Douro Transmontano (1961), circunstância que o levou ao iberismo (sem estado espanhol), com vivências em Angola (onde teria nascido não fora o início da luta armada anti-colonialista desviar-lhe a rota, mas ainda assim aí voltou e se criou), Brasil e Espanha.

Muito cedo se aproximou da Poesia e nela se foi exercitando, publicando aqui e ali em jornais, revistas e uma ou outra antologia (sendo alguns desses poemas aqui incluídos) sobretudo com o pseudónimo de Álvaro Diz, a que acrescentou “de Mazores” a partir da lei da RATA (que extinguiu a freguesia a que mais pertence).

Libertário por timbre, Geógrafo (USAL), Arqueólogo (UP) e Historiador (UPT) por formação, investigador por vocação (onde os territórios e patrimónios da Ibéria, da Raia e do Durius sobressaem), associativista e cultivador por devoção, amante da Poesia dita e escrita (sem que esta alguma vez o tivesse asseverado). Nunca foi examinado como poeta, aguarda por isso o veredicto da potestade poético-tribunícia.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia601404.us.archive.org/4/items/sentencacarlosdabreunn/senten%C3%A7acarlosdabreuNN.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" cover="2489" artistname="Poema “A Sentença” (para una nueva cultura del agua)" songname="Poemário de Carlos d'Abreu" wrapper_image="2489" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-bellow" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" css=".vc_custom_1583602619505{margin-top: -15px !important;}" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||"][/vc_column][/vc_row]

Fuga da Estufa, poema de Jesús Lizano dito por Carlos d'Abreu

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]"Fuga da estufa", poema de Jesús Lizano dito por Carlos d’Abreu. Jesús Lizano foi um poeta e um pensador libertário espanhol, ligado ao movimento anarquista. Defendeu o Misticismo Libertário que concebia a evolução a partir do mundo selvagem, onde convergem todos os animais excepto a espécie humana, que agora está estagnada no mundo político real, a caminho do mundo real poético .

Estudou filosofia e leccionou, onde foi alcunhado "Antiseñor Lizano" por garantir a aprovação de todos os alunos. Publicou periodicamente "A coluna poética e o poço político" na revista libertária Polémica publicada em Barcelona. Escreveu em jornais.A Sua poesia era oral, o que o levou a participar em numerosos recitais participativos e apaixonados, dos quais existem alguns testemunhos em vídeo que ele editou.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia801404.us.archive.org/29/items/estufa/estufa.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="Fuga da Estufa" songname="Poema de Jesús Lizano dito por Carlos d’Abreu" wrapper_image="2489" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-bellow"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS DO PODCAST POEMÁRIO" size="sm" align="center" i_type="openiconic" i_icon_openiconic="vc-oi vc-oi-headphones" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fnoticiasdonordeste.pt%2Fpoemario%2F|||" css=".vc_custom_1583602478221{margin-top: -10px !important;}"][/vc_column][/vc_row]

Entrevista a André Gago

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Entrevista de André Gago ao Notícias do Nordeste aquando da sua passagem pelo Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros.

Nesta entrevista, o ator fala-nos sobre o teatro, mas também da sua vasta coleção de máscaras que deu orígem a uma exposição itenerante.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia902905.us.archive.org/6/items/EntrevistaaAndr__Gago/entrevistaadregago.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" cover="2489" artistname="Entrevista" songname="André Gago" wrapper_image="1551" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-bellow" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS ÁUDIO NA SECÇÃO PODCAST" color="black" size="sm" align="center" i_icon_fontawesome="fas fa-headphones-alt" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fdescobrir.net%2Fnn%2Fpodcast%2F|||"][/vc_column][/vc_row]

Carrazeda de Ansiães rebentou com o "pai da fartura"

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]Aoriginalidade e a manutenção dos traços tradicionais do Carnaval de Carrazeda de Ansiães mantêm-se ainda bem vivos entre a população da vila duriense e na terça-feira passada, durante a noite, teve lugar mais uma queima do "pai da fartura".

O rebentamento do "pai da fartura" caracteriza-se fundamentalmente pela sátira social, sendo esta alimentada por um conjunto de quadras que revêem os acontecimentos mais marcantes da actualidade, servindo assim para enterrar o entrudo e colocar fim a um período de excessos e de muita folia.

A iniciativa é da Associação de Zíngaros e da Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães que de ano para ano têm mantido a tradição viva e têm também atraído um cada vez maior número de pessoas até ao largo do pelourinho da localidade, onde é dada a setença ao "pai da fartura".

Este ano o centro histórico da vila foi invadido por largas dezenas de pessoas para assistir à leitura da sentença e conduzir o "pai da fartura" até ao recinto da feira onde foi cumprido o veredito final, o que, inevitavelmente, ditou o seu rebentamento.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia600202.us.archive.org/21/items/22223_201602/22223.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="Carrazeda de Ansiães" songname="Carrazeda de Ansiães rebentou com o ``pai da fartura``" wrapper_image="1553" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-bellow" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS ÁUDIO NA SECÇÃO PODCAST" color="black" size="sm" align="center" i_icon_fontawesome="fas fa-headphones-alt" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fdescobrir.net%2Fnn%2Fpodcast%2F|||"][/vc_column][/vc_row]

Entrevista a Sérgio Godinho: "A criação tem que ser solitária"

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_wp_text]Sérgio Godinho, o trovador, o poeta, o compositor, o actor, o escritor, o ilustrador... o artista que representa um dos maiores marcos da música e da cultura portuguesa, com a afabilidade e a simpatia que lhe são tão peculiares, esteve à conversa com o Notícias do Nordeste.

O encontro foi em Torre de Moncorvo no ano 2008, onde o músico proporcionou um magnífico espectáculo num cine-teatro completamente esgotado.

Nesta entrevista, Sérgio Godinho fala-nos do seu novo álbum "Nove e Meia no Maria Matos", mas também expõe o seu pensamento sobre diferentes realidades. Além do regresso ao palco em muito curto prazo do actor Sérgio Godinho, poderemos esperar por um seu novo disco de originais em 2009.[/vc_wp_text][/vc_column][vc_column width="1/2"][zoomsounds_player source="https://ia801502.us.archive.org/28/items/sergioipodfinal_202001entresergiogodinho/sergioipodfinal.mp3" type="detect" config="sample--skin-wave-with-multisharer-button-and-embed" artistname="Entrevista" songname="Sérgio Godinho" enable_likes="on" enable_views="on" enable_download_button="on" wrapper_image="1106" wrapper_image_type="zoomsounds-wrapper-bg-bellow" play_target="footer"][/zoomsounds_player][vc_btn title="OUVIR MAIS ÁUDIO NA SECÇÃO PODCAST" color="black" size="sm" align="center" i_icon_fontawesome="fas fa-headphones-alt" add_icon="true" link="url:https%3A%2F%2Fdescobrir.net%2Fnn%2Fpodcast%2F|||"][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Noticias do Nordeste (NN) - O seu novo álbum chama-se "Nove e Meia no Maria Matos" e nele está assessorado por um grupo de músicos muito competentes. O que é este seu novo disco?

Sérgio Godinho (SG) - Este trabalho é a gravação ao vivo dos espectáculos feitos em Lisboa no Teatro Maria Matos, em Maio do ano passado. O "Assessorado"…, essa pergunta vem do facto da minha banda ter o nome de "Os Assessores". Foi um nome que apareceu por alturas de um outro disco, em que havia uma canção que se chamava "Bem-vindo Senhor Presidente". Falava-se nos assessores do presidente e começou-se a chamar por piada à banda "Os Assessores". De facto, este grupo de músicos já está comigo, chamemos-lhe assim, desde o princípio deste século.

NN - É uma provocação?

SG - (Risos) É piada, não é provocação sequer. Até porque isto é um colectivo, embora eu seja aqui o presidente (risos) não oficial deste colectivo. Mas eu não sou o presidente de coisa nenhuma, excepto o de ajudar a organizar a desordem criativa. Ajudar muitas vezes a pô-la em ordem, sobretudo o que é importante, é que este grupo de músicos são meus cúmplices desde há muito, como digo, desde o princípio deste século XXI. E, há uma cumplicidade evidente, uma troca musical que eu acho que é muito profícua. Uma troca de experiências. Eles trazem-me visões também da música, que provavelmente algumas delas completam muito aquilo que existe no âmbito da canção que é a criação. A criação à partida é solitária, embora no caso de uma parceria possa ser partilhada com outra pessoa. Mas a canção tem que ser sempre solitária. É necessária essa solidão no acto primeiro de compor, de criar. Mas depois é preciso trocar. Digamos que a canção, adquira um corpo definitivo com os instrumentos, com os arranjos, com a própria atitude perante a canção, se é mais rápida, se é mais lenta, se o ritmo é um pouco alterado. E, na sequência dos espectáculos que já tínhamos vindo a fazer a seguir ao disco "Ligação Directa", chegamos a Lisboa, ao Maria Matos, e achamos que era altura de registar isso tudo, e, dar a ouvir o nosso momento de forma, que me parece muito bom.

NN - O registo ao vivo é uma das particularidades do disco. Escolheu-o porquê?

SG - Eu gosto que as versões das canções, não sejam sempre as únicas e definitivas. Eu acho que o "ao vivo" permite ter uma outra escuta de canções. Umas em versões bastantes parecidas aos discos quando estão na sua versão original, mas outras muito transformadas. Há canções aqui, como o "Homem Fantasma" ou como o "Dias úteis" ou como "O Primeiro Gomo da Tangerina", que é como começa o disco, que são muito transformadas, que têm uma outra atitude. Aliás, nós estamos a andar a ler um corpo de base que é imutável, mas, que depois sofre transformações ao longo do tempo. E, eu acho isso muito interessante.

 

"É necessária essa solidão no acto primeiro de compor"

 

NN - A indústria discográfica está num processo de reestruturação que foi quase como que imposto por uma nova instrumentaria, por um novo instrumento, que é a Internet. A Internet possibilita hoje uma forma diferente da distribuição da música. Muitas vezes até com prejuízos para os autores. O que é que pensa deste novo mundo de distribuir a música?

SG - Eu acho que é inevitável. É uma coisa que está a acontecer. O que é preciso é regulamentá-la. O que aconteceu é que a Internet apareceu e a lei vai sempre um bocadinho atrás. Começou a achar-se que era um mundo em que tudo podia ser gratuito. O que é certo é que está envolvido o trabalho de muitos criadores de muitos agentes, não é só de criadores. Eu como autor, como cantor, os músicos…, estou a falar do meu caso só para lhe dar um exemplo. Os músicos, os técnicos, os técnicos de som que gravam os temas, os editores que editam… tem é que haver uma regulamentação de maneira que a música continue a existir como actividade profícua e criativa. Porque senão pode ser a morte da música. Mas eu acho que não. Acho que por outro lado a Internet dá possibilidades de divulgação que são novas e às quais nós temos que nos adaptar muito simplesmente.

NN - Sérgio Godinho é um gigante da música e da Cultura de Portugal. O seu nome além de ser grande é um nome que se mantém grande ao longo de décadas, e isto é importante. Mas mantém-se sempre fresco, com novidade… com a capacidade de surpreender, o que faz com que tenha admiradores que vão surgindo ao logo de diferentes gerações. Sente-se um autor inter-geracional? Isto é, quando está a compor as suas músicas está a pensar que essas músicas vão ser ouvidas pelo senhor de sessenta ou pelo jovem de dezoito?

SG - Não. Não penso nada disso! É facto que sou um bocado inter-geracional ou pelo menos transversal em relação a idades e até as minhas canções mais antigas às vezes transitam. Por exemplo, neste disco "Nove e Meia no Maria Matos" há canções que têm vinte anos e outras que têm dois. Há canções que transitam de época para época. Mas eu quando componho não tenho essa preocupação. E até nas roupagens das canções não há essa preocupação. Eu acho que essa ponte se faz naturalmente entre as pessoas que ouvem e aquilo que eu tenho para dar. Eu acho que se for uma coisa muito calculista e calculada, a não ser que possa haver uma canção que tenha um alvo específico, e isso pode ter acontecido numa ou noutra canção, mas não é um ponto de partida. A ponte estabelece-se naturalmente.

NN - O Sérgio Godinho tem-se rodeado de músicos jovens que vêm da pop ou do rock português. Aconteceu com os Despe e Siga, aconteceu com os Clã. Pode-se então concluir que existe uma preocupação da sua parte em refrescar com a irreverência da malta mais nova, da malta jovem as suas canções mais antigas?

SG - Mas o que é irónico é que esses dois casos que referiu, aconteceu exactamente ao contrário. Três destes músicos eram do núcleo duro dos "Despe e Siga", começaram a tocar comigo, ficaram muito entusiasmados e depois vieram ter comigo a dizer-me que: "nós vamos abandonar os "despe e Siga" e queríamos tocar contigo e fazer parte integrante deste projecto, e foi assim que aconteceu. No caso dos "Clã", foram os "Clã" que vieram ter comigo, para um projecto que foi feito na altura da EXPO chamado "Afinidades" e que deu origem aos espectáculos ao vivo e a posterior fixação em disco. Portanto, esses dois exemplos, até foram no sentido contrário. Embora como é evidente eu também goste muito destes músicos e sinto-me muito bem, não só musicalmente mas também pessoalmente. Somos amigos. E isso é muito curioso, não há diferença geracional quando estamos a trabalhar ou no dia-a-dia quando jantamos juntos, ou quando almoçamos juntos. Ainda hoje, viemos em mais do que um carro, mas fomos almoçar ao mesmo sítio. Gostamos de nos reencontrar e isso é bom.

NN -Este seu novo disco evoca os Amigos do Gaspar através do tema "É Tão Bom". Esta série televisiva marcou a malta toda que hoje está entre os vinte e tal e os trinta e tal anos de idade. Os "Amigos do Gaspar" foi uma incursão de Sérgio Godinho pela Música Infantil que ainda hoje continua estética e pedagogicamente interessante e muito actual. Pensa repetir essa experiência, da música e da produção dirigida à infância?

SG - Eu fiz várias coisas até. Nos "amigos de Gaspar", depois fiz um disco com as canções todas da série, as letras eram minhas, mas as músicas eram de outro participante da série o Jorge Constante Pereira. Fiz também uma peça infantil, muito representada ao longo dos anos chamada "eu, tu, ele, nós vós, eles". Tinha havido também uma outra série da mesma equipa dos "amigos de Gaspar". Fiz mais do que um livro para crianças. Fiz um livro que tem sido inclusivamente estudado que se chama "o pequeno livro dos medos", que também o ilustrei. É um livro que tem ido a muitas escolas e bibliotecas. Os alunos fazem trabalhos sobre o livro, sobre os medos, conceptualizando um bocado esse tema que é tão vasto. Fiz ainda outras coisas. Eu gosto de ter esse olhar sobre o universo infantil porque o compreendo naturalmente. Se calhar porque tive filhos de idades diferentes, Uma pessoa habitua-se a contar histórias. Mas eu acho que é um link natural o universo da infância. Deixe-me dizer só uma coisa, em princípio este ano, estamos ainda em negociações, para que saia em DVD "os amigos de Gaspar". As negociações com a RTP tem sido bastante morosas, mas vamos lá ver se chegamos a bom porto.

 

"Estou neste momento a ensaiar uma peça"

 

NN -Nós sabemos que Sérgio Godinho não é só um compositor, músico, um poeta, é também actor, dramaturgo e até realizador…enfim, esteve sempre muito perto das artes de representação. Há quem anuncie que vai voltar à sua faceta teatral. Quando teremos de volta o homem de teatro novamente em palco?

SG -Estou neste momento a ensaiar uma peça, que vai estrear em Abril, encenada pelo Jorge Silva Melo, pelos artistas unidos, uma peça dum dramaturgo português jovem, que é duma excelente qualidade o José Maria Vieira Mendes. Esta peça que vai ser encenada pelo Jorge Silva Melo, foi um convite dele. Eu tenho tido convites para o teatro que tenho recusado, seja por o projecto não me interessar tanto como isso, seja porque, e isso aconteceu várias vezes, porque o timing era realmente muito mau. Um dos convites por exemplo, foi quando eu ia para o estúdio para o "Ligação Directa", era impossível, era incompatível nessa altura. Mas desta vez, embora também me atrase, queria estar a compor neste momento, mas por outro lado, tenho muita necessidade de voltar ao teatro, pelo gozo, e digamos que para praticar outra vez o ser actor. Estar integrado num colectivo que está a funcionar muito bem. Estamos em ensaios activos, aliás eles estão a ensaiar hoje, eu não estou lá porque tenho este espectáculo aqui, e com todo o prazer. Aliás eu, gosto muito de vir aqui, mas isto é outra história e já falaremos disso. Em Abril lá estarei. A estreia é em Lisboa, não sei se vamos fazer outros espectáculos noutras cidades. A peça é chamada "onde vamos morar".

NN - Vou-lhe fazer uma pergunta provocatória: ainda pergunta ao seu "amigo Manuel como vai Trás-os-Montes"?

SG - O meu amigo Manuel já morreu. A esse amigo Manuel não pergunto. Esse Manuel que eu refiro na canção é o meu amigo Manuel Hermínio Monteiro que foi o editor da Assírio & Alvim, transmontano de gema de Parada do Pinhão. Um tipo excepcional, e a canção era mesmo dirigida a ele. Fala de um caderno que uma irmã tinha que realmente existia. Eu não pergunto, mas tenho umas saudades enormes do Hermínio, todos temos, e cantei essa canção num espectáculo que fizemos em homenagem ao Hermínio, depois da morte dele. Ele esteve dois anos muito doente, teve um cancro, foi uma coisa muito dura. Ele foi realmente extraordinário, mesmo durante essa altura. Eu tenho uma ligação com Trás-os-Montes, não só através do Hermínio, mas também através de outros amigos e do facto de eu conhecer Trás-os-Montes desde muito pequeno, porque eu sou do Porto e vínhamos muito em viagens por estas bandas nessa altura. Quer dizer, estas terras eram mais inacessíveis nessa altura. Eu gosto muito do Minho, Douro Trás-os-Montes, é realmente um território que me é muito familiar e que me dá muito prazer. As pessoas são realmente muito calorosas e recebem muito bem. Voltarei aqui, penso que no 25 de Abril a Bragança, portanto estamos sempre aí.

NN - Ainda bem que diz que o Manuel era o Hermínio de Parada de Pinhão o editor conhecidíssimo no nosso país e que nós muito admiramos enquanto transmontanos. Eu fiz-lhe a pergunta porque queria referir-me a esse álbum, salão de Festas em 1984. E eu interpreto sinceramente o tema como uma abordagem de uma certa interioridade. Veio hoje a Moncorvo e com certeza que tem uma percepção particular deste interior. Qual é a sua opinião, enquanto cidadão, relativamente a este pais cada vez mais cindido entre um litoral a abarrotar e um e interior cada vez mais deserto?

SG - Só pode ser uma perspectiva preocupante. Eu acho que é preciso que haja pólos de atracão na interioridade. É certo que se fez um caminho, num certo reforço. Hoje em dia há pólos universitários, em cidades do interior. Desde o sul em Évora e à Covilhã, e continuando por aí a cima. Falo deste casos, mas podia falar doutros. Não é verdade portanto que esteja tudo perdido. Eu conheço gente que foi para o interior, seja para leccionar, seja para aprender, seja para trabalhar. Mas é verdade que o fluxo cinde o país em dois. Este é já um problema que se arrasta há muito tempo, porque a emigração, e que infelizmente ainda não acabou, porque as condições estão duras em Portugal. A emigração foi a primeira desertificadora, sobretudo das regiões do interior. Este é portanto um problema que se arrasta há muito tempo, mas tem que haver coragem politica sobretudo, de apostar cada vez mais no interior. Se isto é feito a certos níveis, e os acessos como digo, vão permitindo digamos que essa penetração, mas por outro lado há muito por fazer, muito por fazer neste país e no interior nomeadamente.

NN - Acha que ainda há espaço e sobretudo motivos para a intervenção política e social dos artistas musicais?

SG - Esse ainda, nem sequer se põe. Claro que sempre haverá, não é? Eu acho que olhamos à nossa volta, apoiando, preocupando-nos com outras coisas, denunciando muitas situações. Falando das insuficiências que existem. É sempre uma vertente nas minhas canções, embora haja muitas vertentes. Há vertentes mais da observação da realidade, uma realidade a nível psicológico, a nível de relações amorosas, a nível das interrogações filosóficas muitas vezes, a nível da construção de tipos populares que muitas vezes trazem em si uma moral, uma história. Há jogos de palavras, há o lado mais lúdico, o lado mais de contar histórias, portanto tudo isso se intermeia, digamos.

NN - Para quando um disco de temas originais?

SG - Isto atrasou-me um bocado. Penso que este ano vai ser um bocado difícil, mas trabalharei este ano para que no próximo ano haja um disco de originais.

Video da entrevista:
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Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo recebeu José Luís Peixoto

[vc_row][vc_column width="1/2"][vc_column_text]José Luís Peixoto, um dos mais conceituados escritores da sua geração esteve no passado dia 14 de Junho, à conversa com o público moncorvense, na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo, no âmbito da iniciativa "Somos Douro".

A sessão teve início com as palavras do Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, Nuno Gonçalves, e da curadora da iniciativa, Anabela Mota Ribeiro.

José Luís Peixoto falou sobre literatura, fez uma reflexão sobre as obras e as influências de vários escritores da sua geração, falando também de si. Como vencedor do prémio José Saramago de 2001 não pode deixar de falar de José Saramago, da sua obra e importância em todo o mundo.

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