Miguel Araújo |
Assim, nas últimas décadas, o maçarico-de-bico-direito passou a alimentar-se nos arrozais do Vale do Tejo. Mas será que esta nova dieta fornece energia suficiente para garantir o voo direto até ao destino final ou, pelo contrário, pode colocar em risco o ciclo migratório destas aves?
Um estudo, realizado por oito investigadores portugueses e espanhóis, permitiu descobrir que o maçarico-de-bico-direito consegue tirar do arroz a energia necessária para efetuar o voo sem sobressaltos, revelando uma «plasticidade fisiológica e metabólica impressionante. Estas aves conseguem usar o arroz, de forma eficaz, para armazenar gordura. E fazem-no através de várias vias metabólicas diferentes para assegurar a sua migração», revela Miguel Araújo, investigador do MARE (Centro de Ciências do MAR e do Ambiente) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e um dos coautores do estudo publicado na prestigiada revista científica Journal of Experimental Biology.
A investigação foi realizada com maçaricos-de-bico-direito capturados em campos de arroz do Tejo durante o inverno, altura em que se encontram a preparar a sua migração. Os investigadores dividiram as aves em dois grupos, aplicando-lhes dietas diferentes: uma à base de larvas, tipo de alimentação que encontrariam nos habitats naturais, e outra com arroz.
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Os resultados do estudo evidenciam que o maçarico-de-bico-direito, uma espécie que decresceu 75 por cento nas últimas cinco décadas devido à destruição dos ecossistemas naturais, é «um excelente exemplo de adaptação a um habitat antropogénico. Para garantir a sua sobrevivência, esta espécie ajustou-se com sucesso a um novo tipo de alimentação, conseguindo “combustível” para efetuar o voo sem escalas até ao destino final», simplifica Miguel Araújo.
O estudo chama também a atenção para o facto de ser necessário pensar na conservação destes habitats: «se, por ventura, se decidir converter os arrozais em pastagens ou algo similar, por exemplo, metade desta população de aves pode desaparecer, pois 50% usa os arrozais do Tejo para adquirir o combustível necessário à sua migração», assevera o investigador da FCTUC.
Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa - Universidade de Coimbra)