|Hélio Bernardo Lopes| |
Em primeiro lugar, a procuradora disse nunca ter encontrado quaisquer indícios de corrupção relativos ao agora arguido na Operação Marquês, quando tratou o caso Freeport, facto que dou completamente por certo. Simplesmente, nada garante que a sua investigação tenha sido bem feita, ou que tenha tratado todas as vertentes, mesmo que nada tendo que ver com o Freeport.
Como se torna evidente, os indícios apresentados pela investigação da Operação Marquês, e que foram considerados pelo juiz do Tribunal Central de Investigação Criminal como suficientes para aplicar a José Sócrates a medida de coação que se conhece, podem também vir a nada darem por certo. Também a investigação, ou o juiz, podem errar.
Mas o que me parece estranhíssimo é ver uma procuradora-geral-adjunta emitir opiniões sobre um processo que está a decorrer. Mesmo não falando diretamente sobre o que se contém no processo, a referência ao facto de nada ter sido encontrado no caso Freeport determina logo, junto de quem ouviu o comentário, que o mesmo terá de acontecer com a Operação Marquês. É verdadeiramente espantoso!
Em segundo lugar, Maria Cândida Almeida referiu que ficou surpreendida com a prisão preventiva de José Sócrates por ser um ex-primeiro-ministro! Mas, então, um antigo Primeiro-Ministro não pode ser investigado, ou detido, ou presente a juízo, ou até condenado?!
Em terceiro lugar, recusou comentar a forma como Sócrates foi detido e a medida de coação aplicada, por respeito ao trabalho dos procuradores envolvidos. A uma primeira vista, portanto, discordará da metodologia adotada, não o divulgando por via do tal respeito para com os procuradores da Operação Marquês. Mas não é assim em todo o mundo civilizado? Não foi assim com Clinton? Não foi deste modo com Sarkozy? Não foi este o caminho com Chirac? Não vem sendo assim em Espanha? Portanto,...
E, em quarto lugar, o caso da nova leva de grandões que vem sendo atingida. Diz Maria Cândida Almeida que a generalidade desses casos já tinha tido o seu início consigo. Talvez, mas a verdade é que, nesse tempo, ninguém foi condenado. Umas multas, umas devoluções, mas nada mais. Certamente por acaso, com Amadeu Guerra as coisas estão a chegar ao que vai podendo ver-se.
Claro que também eu creio que a generalidade dos casos que têm atingido poderosos acabará por dar em nada. Ou, vá lá, em quase nada. De resto, um general não faz um exército e os portugueses têm o seu modo próprio de estar na vida. É por isso que nunca surgiu um louco que desse um tiro em ninguém, pelo meio daqueles setecentos mil retornados, e que por aqui nunca surgirá um SYRIZA ou um PODEMOS. O leitor consegue imaginar João Jardim ou Albuquerque, César ou Cordeiro, a fazerem um referendo para uma independência, da Madeira ou dos Açores? Claro que não! Bazófia portuguesa!