Esquecimento?

|Hélio Bernardo Lopes|
Acabei de ler há momentos, nesta véspera do nosso jogo com a Holanda no Dragão, na disputa da Final da Taça das Nações de Futebol, a obra, PRISIONEIROS DE GUERRAS, editada pela Tinta da China e com a coordenação de Pedro Aires Oliveira. 

É uma obra de grande qualidade, escrita por gente sabedora e experiente nos temas que são abordados, mas densa, e, por isso mesmo, cansativa. Em face de quanto trata, é uma obra muito árida, que tem de ser lida com alguma lentidão, de molde a poder absorver-se o conteúdo de quanto está em jogo na temática tratada.

Já pelo final da obra surge um capítulo da autoria de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, onde se trata o caso dos prisioneiros portugueses da guerra de África, em que se defrontaram os movimentos que lutavam em prol da independência dos territórios portugueses naquele continente e as nossas Forças Armadas, naturalmente acompanhadas das restantes autoridades policiais do tempo, mormente a PIDE, depois Direção-Geral de Segurança.

Ora, a leitura deste capítulo suscitou-me alguma admiração, dado que não aborda o essencialíssimo caso, passado em Moçambique, e que se desenvolveu ao redor do navio Angoshe, por via do qual dois concidadãos portugueses, no mínimo, desapareceram por décadas, só voltando a saber-se de alguma coisa ao redor do caso por via de umas duas ou três edições de O DIABO, ainda no tempo de Vera Lagoa.

Sem que para mim seja estranho, também nenhum dos nossos historiadores sobre o Século XX Português se determinou a escrever uma qualquer obra sobre o que se passou com o navio Angoshe... Como também ninguém alguma vez se determinou a explicar o que poderá ter-se passado com os designados dinheiros militares do Ultramar... E então sobre a pedofilia e temas correlatos, no seio da Igreja Católica Romana em Portugal ou noutras estruturas religiosas, ou sobre um balanço real e objetivo da ação das IPSS, bom, nem pensar. Tudo parece cingir-se à IURD. Numa outra ocasião, qual tangente, lá veio por igual a talhe de foice as Testemunhas de Jeová.

Termino, pois, com esta minha dúvida: esta omissão ao redor do caso do Angoshe foi mero esquecimento, ou o tema continua a ter de ser mantido em banho de gelo e a mui baixa temperatura? E ainda mais uma dúvida: com tantos historiadores sobre o Portugal do Século XX e sobre a ação das nossas Forças Armadas em África, que razões poderão impedir o surgimento de estudos sobre os massacres de africanos por militares portugueses, ou sobre a corrupção ao tempo do Estado Novo, mormente no seio dos fluxos de bens e dinheiro entre a defesa em África e o continente? E porque não, também, sobre o contacto dos portugueses chamados à vida militar em África com as drogas que ali foram encontrar, numa realidade que foi uma novidade? Temas muitíssimo interessantes, mas que ninguém aborda...

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN