Vazio geopolítico

|Hélio Bernardo Lopes|
Estão aí as eleições destinadas a escolher os deputados ao Parlamento Europeu. Um dos vetores mais presentes nesta campanha eleitoral vem sendo o perigo da subida da Extrema-Direita, impondo-se, nos assim amedrontados, que se defenda a União Europeia, embora todos apontem mudanças diversas para melhor, percebendo-se, no entanto, que nada irá ser feito.

Ao contrário do sistematicamente apontado por mil e um, percebe-se que a União Europeia não irá implodir. Até porque ninguém saberia muito bem o que fazer para lhe pôr um fim. O que realmente se passa hoje com a União Europeia é que a mesma está construída na base de saltos quânticos impensados. A generalidade dos povos europeus não se sente europeia, cada um tem a sua alma nacional, não uma alma europeia. Simplesmente, na parte que também é boa desta estrutura os europeus veem-na como engraçada. A uma primeira vista, muito facilitadora e linear.

Ora, estas pessoas, que são a generalidade dos europeus, não têm a perceção do que está hoje a jogar-se no Mundo. Ainda não se dão conta, por exemplo, da autêntica ditadura mundial hoje desempenhada pelos Estados Unidos, e numa situação nunca até agora vista na História. Em contrapartida, a generalidade da classe política conhece esta realidade perfeitamente, mas mostra-se completamente incapaz de defender uma posição que possa materializar o interesse soberano, de cada Estado e da própria União Europeia, perante a ação ditatorial dos Estados Unidos, que indicam quem pode negociar com quem e sobre o quê. Eles ditam, a Europa come e cala.

O grande problema da União Europeia de hoje não se situa na sua potencial desagregação, mas no desenvolvimento da garantia do vazio geopolítico nunca ultrapassado. De resto, este vazio está em franco crescimento. Basta ver como a União Europeia e os seus diversos Estados consentem a presença do norte-americano Steve Bannon no seu seio, trabalhando ativamente na redução da União Europeia a uma mera fachada, mas onde se venha a operar o fim de um conjunto de valores entretanto criados como estrutura cultural e civilizacional que muitos acabaram por acreditar como irreversível. De resto, esta onda já está a materializar-se nos Estados Unidos, vindo a ser suportada por doutrina emanada pelo Supremo Tribunal Federal.

Lamentavelmente, o presente caso da Huawei, tal como o do Irão, ou o silêncio em face do que se passa na Palestina, ou o homicídio de Kashoggi, ou o da Venezuela, mostram bem como a União Europeia é um espaço vazio no domínio geopolítico: os Estados Unidos ditam, a União Europeia come e cala. Uma realidade que se mantém, agora já mesmo em crescendo, desde 1945. Em síntese: a União Europeia vai continuar, mas sempre na base de um vazio geopolítico.

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