Os portugueses, quando querem, são os melhores

|Hélio Bernardo Lopes|
Já por diversas vezes os portugueses puderam escutar do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa esta frase: os portugueses, quando querem, são os melhores. Trata-se, como se percebe, de uma exaltação do brio lusitano, porque a verdade é que, nos termos do referido raciocínio, invariavelmente, os portugueses não querem.

Ora, nós temos duas realidades históricas que mostram isto mesmo, ou seja, que os portugueses, em situações deveras importantes, simplesmente não querem: por um lado, a imparável violação do segredo de justiça, já com décadas e (quase) sem resultados; por outro lado, o histórico caso dos submarinos mais recentes da Marinha Portuguesa. De resto, muitas vezes os portugueses nem queriam, mas a grande verdade é que o acaso existe mesmo. Precisamente o que se deu com a nossa vitória no Europeu de Seleções.

Pondo de parte o primeiro daqueles casos, atenho-me aqui ao da aquisição dos nossos dois submarinos. Sabe-se hoje, sem um ínfimo de dúvida, que a compra desses dois submarinos esteve envolvida em oferta de luvas a alguém português, fosse um, dois ou mais, usando, ou não, instituições ou empresas. Tal foi provado por via da condenação de corruptores alemães e nos tribunais da Alemanha. A verdade é que nunca aqui chegou a notícia oficial dos corrompidos em Portugal. Uma realidade que mostra que, também aqui, os portugueses não terão querido.

Em contrapartida, um caso similar desenvolve-se agora entre a Alemanha e Israel, ao redor da compra por este Estado de submarinos fabricados e vendidos pelo primeiro. De facto, a justiça alemã está a investigar a venda desses submarinos militares a Israel, numa transação rodeada de suspeitas de corrupção em relação a vários colaboradores do Primeiro-Ministro de Israel.

Interessante é constar o que nos diz o diário económico alemão, HANDELSBLATT, ou seja, que a justiça alemã tomou em mãos este dossier a pedido da sua congénere israelita, que realiza desde o final de 2016 uma investigação às ramificações políticas do grande contrato militar ligado à compra dos submarinos em causa.

Acontece que na passada semana foi detido Michael Ganor, empresário que representava em Israel a empresa Thyssen Krupp. Ora, quando foi detido, Michael Ganor reconheceu ter recebido subornos, aceitando dar informações sobre outros suspeitos. Simplesmente, Michael Ganor voltou atrás com este seu compromisso inicial, não sendo difícil depreender a mão que o fez mudar de posição...

Concomitantemente, também um antigo ministro do governo de Benjamin Netanyahu, um seu antigo chefe de gabinete e um advogado pessoal surgem implicados no caso, agora com Benny Gantz, principal adversário de Benjamin Netanyahu, a pedir, nesta semana que passou, que novas investigações sobre o eventual envolvimento direto de Benjamin sejam desenvolvidas.

Este caso mostra o razoável abismo que vai entre o binómio Portugal-Alemanha, em matéria de submarinos, e o Israel-Alemanha neste mesmo domínio. Objetivamente, um abismo.

De tudo isto, há um dado que se impõe que o leitor tenha em conta: os nossos jornalistas, mormente os das televisões, investigam as coisas mais diversas, mas o histórico caso da compra portuguesa dos submarinos alemães nunca foi minimamente investigada. Como o não foi, por exemplo, a globalidade do que se passou com o BPN, e quem neste se encontrava ligado ao PSD, mormente no tempo da governação de Aníbal Cavaco Silva. Ou esse outro caso que ficou conhecido pelo caso Tecnoforma, embora, ao que ficou a perceber-se, esta empresa nada tivesse que ver com o problema de fundo. Ou seja: em todos estes casos os portugueses não quiseram. E, sem um ínfimo de estranheza, nunca deles se fala ao dia-a-dia, nas convivências correntes. Sintomático...

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