|Hélio Bernardo Lopes| |
É tal esse desnorte, que já se deita mão de tudo e de umas botas mais. Dois casos ilustram claramente esta realidade. Por um lado, as recentes congeminações de Henrique Neto sobre a estrutura cultural do PS. Por outro lado, as inenarráveis declarações de David Justino sobre os objetivos do Governo na cedência operada perante os juízes.
Em primeiro lugar as engraçadíssimas declarações de Henrique Neto e que o i reproduz. Assim, o PS estaria estruturado, parece que desde sempre, na base da lealdade incondicional ao chefe. Bom, trata-se de uma historieta que não resiste a uma análise simples, porque se assim tivesse sido sempre, não se conseguiria entender como os lealistas a António José Seguro acabassem por vir a mudar para António Costa. Nem se poderia perceber como Jorge Sampaio se conseguiu antecipar e impor a Guterres na sua corrida presidencial. A verdade é que estas palavras de Henrique Neto valem realmente nada, porque se assim não fosse, bom, ele não teria ficado na terrível posição que se viu na corrida presidencial.
Devo dizer que compreendo muitíssimo bem que alguém que até acreditou no socialismo real e depois no dito democrático, sempre sem lugar político que a História venha a registar, acabe por reagir como se vai podendo ver com este nosso concidadão. A grande verdade, tal como também acontece com Rui Rio, é que Henrique Neto, malgrado sempre se ter interessado pela política, não nasceu para ela. As coisas são como são e Neto só por via de um verdadeiro bambúrrio poderia ser considerado como alguém que pudesse ser escolhido para um lugar político de alto nível. A sua corrida presidencial mostrou isto mesmo: à beira de um infinitésimo político.
E, em segundo lugar, as declarações de David Justino sobre as motivações de Francisca van Dunem ao redor do recente compromisso do Governo de António Costa com os juízes. Por um acaso, eu até penso que as causas da cedência se terão ficado a dever à necessidade de evitar chatices com um órgão de soberania que dispõe de um poder quase absoluto e incontrolável. Basta que recordemos as palavras do falecido conselheiro Jorge Aragão Seia, quando foi Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, ao redor da celeridade que se pedia, então, ao Sistema de Justiça em torno de Paulo Pedroso: não se metam com os juízes!..., não se metam com os juízes!!...
Destas considerações de David Justino há três conclusões que podem tirar-se facilmente. Por um lado, o completo desnorte do PSD de Rui Rio, incapacitado para poder dizer, de facto, o que realmente faria se conseguisse chegar ao poder. Por outro lado, a baixeza argumentativa de David Justino, ao recorrer ao que agora se lhe pôde escutar. E, por fim, esta dúvida: o que vão agora fazer os juízes, através, no mínimo, da Associação Sindical dos Juízes Portugueses? Afinal, David Justino acabou por dizer que a Judicatura é de tal ordem que um seu membro supremo, para mais com funções governativas, decide com base nas razões ora inenarravelmente apontadas.
Mesmo por fim, esta dúvida, que se agiganta a cada dia que passa: o que tem a dizer o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa sobre este tipo de argumentos esgrimidos por políticos da desesperada Direita neoliberal destes dias contra um governante que também é, por acaso, juiz do Supremo Tribunal de Justiça? Nada?!