A importância do acaso

|Hélio Bernardo Lopes|
Iniciou-se ontem, na TVI, o novo programa de investigação jornalística coordenado por Alexandra Borges. Desta vez, o primeiro tema tratado voltou a ser a Igreja Universal do Reino de Deus, (IURD), agora ao redor da alegada má utilização dos dinheiros oferecidos à instituição pelos seus seguidores. Um tema aparentemente apelativo, mas que não creio ter já grande impacto junto dos portugueses, e de um modo muito geral.

A uma primeira vista, há aqui, nesta caso da IURD, uma espécie de obsessão, uma vez que qualquer pessoa adulta, mesmo que fora dos meandros da instituição, tem a obrigação de perceber o valor do que ali lhe é contado e das práticas prosseguidas no seio daquela instituição e ao seu nível. Basta recordar, por exemplo, um certo fenómeno meteorológico há muito conhecido, observado em Fátima – noutros locais também, claro está –, em certa data de grande referência, sendo que logo um concidadão nosso, lacrimejando fortemente, se questionava sobre a coincidência e sobre a naturalidade de se tratar de uma manifestação divina!!

Ninguém com um mínimo de atenção ao que hoje nos chega das partes mais diversas do Mundo poderá deixar de perceber que onde há poder poderá existir abuso de poder. Uma realidade muitíssimo mais evidente e forte quando esse poder e o correspondente hipotético abuso do mesmo giram ao redor do mecanismo da fé religiosa. É o que se passa, porventura, com os casos já tratados na TVI sobre a IURD, mas por igual com todas as restantes confissões religiosas, incluindo, claro está, a Igreja Católica Romana.

Por um acaso dos diabos, eis que o Papa Francisco, como num ápice, nos surgiu a reconhecer que padres e bispos católicos abusaram de freiras do mesmo credo, salientando mesmo que o facto é antigo mas que, por razão mais que suficiente, deverá continuar nos dias de hoje. Como qualquer um com alguma perspicácia facilmente depreenderá, trata-se de um acontecimento com elevadíssima probabilidade.

Estranhamente, a TVI, que foi um canal televisivo ligado à Igreja Católica Portuguesa ao seu início, nunca se determinou a trazer-nos algo de similar àquela série de dez programas sobre as crianças retiradas aos pais por dirigentes da IURD. Mesmo com tudo quanto já se sabe hoje sobre os mil e um escândalos passados no seio da Igreja Católica Romana, até com o reconhecimento público e corajoso do próprio Papa Francisco, e onde se inclui de tudo das diversas tipologias apresentadas ontem sobre a IURD, a verdade é que a TVI nada nos conta sobre uma tal realidade.

O acaso tem grande importância na vida, das pessoas, das instituições e do fluir do Mundo, e foi esse acaso que veio colocar um rochedo como Francisco a par e passo com o mais recente trabalho da TVI sobre a IURD. Para lá de trapaças, sempre presentes em todo o lado, mormente nas instituições religiosas, a verdade é estes programas acabam por admitir uma espécie de estratégia da própria Igreja Católica Romana, que vai perdendo adeptos a uma cadência rápida. E não admira que assim seja, porque se olharmos para Espanha e para a questão franquista, lá está o silêncio da Igreja Católica de Espanha. E se hoje ouvimos um certo cardeal venezuelano falar de um modo aparentemente natural, foi silêncio que se viu com os crimes (quase) sem fim de Pinochet e quejandos da sua Junta Militar. O acaso ode ser uma chatice...

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