|Hélio Bernardo Lopes| |
Invariavelmente, estas entrevistas são organizadas, e posteriormente comentadas, na base de um certo tipo de conflitualidade dialética, pegando neste ou naquele ponto, com a finalidade de, por aí, criar um tempo de antena que possa ser chamativo das audiências, ou servir um propósito ligado a outros interesses. Bom, não foi este o caso.
Desde logo, toda a entrevista foi muito bem conduzida, com Sérgio e Judite a utilizarem de simpatia, gentileza, ausência de tom provocador ou minimizador, mas sempre tratando os temas que decidiram por bem. Temas sobre cujas perguntas o Primeiro-Ministro, António Costa, respondeu sem hesitações e com a mais ampla sinceridade.
Este meu texto, que até bem poderia não ser escrito, também poderia ficar por aqui. A razão de o dar à estampa ficou a dever-se ao facto desta entrevista ter permitido mostrar a quase completa incapacidade da Direita e da Extrema-Direita terem conseguido alinhavar comentários realmente válidos e mínimos. Pelo contrário, o que sobreveio foi um pouco o que também se dá comigo: havia que dizer qualquer coisa. E, perante os inequívocos êxitos da governação, o que é que aqueles forças políticas poderiam vir dizer-nos de realmente válido? Nada!
Já pelas dez e meia da noite tive a oportunidade de encontrar aquela ilha em que se constituiu, num oceano de bola, o programa O OUTRO LADO, desta vez apenas com José Eduardo Martins e Pedro Adão e Silva. Além de João Adelino, claro está.
Ora, José Eduardo Martins trouxe-nos, desta vez, duas interessantes novidades. Por um lado, deixou transparecer o que já toda a gente percebeu: há um objetivo boicote à ação política de Rui Rio no seio das figuras do PSD que viveram lugares cimeiros sob a liderança de Pedro Passos Coelho. E até se compreende esta situação, porque o prolongador desejado de Pedro Passos Coelho era o histórico perdedor, Pedro Santana Lopes.
Também se compreende este evidente boicote a Rui Rio, dado ser este alguém que corta a direito, e que não irá – é o que todos esperam de Rio – pôr os interesses partidários ou das suas clientelas acima do interesse que possa estimar como sendo o de Portugal. Viu-se isso com o modo como, pela primeira vez, defendeu a aplicação da lei e dos direitos e interesses legítimos do PSD em face dos gastos para lá do estipulado ou permitido. Uma chatice...
No meio da sua intervenção, José Eduardo Martins estimou, à luz da sua sensibilidade, que Pedro Passos Coelho poderá pretender voltar à liderança do PSD, embora, ao que assegurou, só depois das eleições para deputados à Assembleia da República.
Acontece que familiares meus muito diretos, até amigos com cor política diversa, se mostraram admirados com a minha defesa de que Pedro Passos Coelho não deixasse a liderança do PSD. A todos expliquei sempre a razão daquela minha defesa: Rui Rio era alguém com qualidades e com obra, ao passo que o PSD estava garantida e sustentadamente a afundar-se com Pedro Passos Coelho. E isto porque o ora catedrático – convidado, claro está – era um acérrimo defensor do neoliberalismo, tal como se dá com Pedro Santana Lopes. E se com aquele o PSD não parava de descer, com o segundo o que nasceu foi a tal nova e efémera Aliança. Mais uma estrutura destinada a ficar pelo caminho, talvez permitindo a Pedro Santana Lopes voltar à Assembleia da República.
Hoje, a Direita e a Extrema-Direita só sobrevivem através de casos, uns mais reais, outros mais artificiais. Não falam de Trump e muito menos de Bolsonaro. Terrível poderá ser Fernando Haddad, até por suceder a Dilma, que sucedeu a Lula. E mesmo ao nível do PS de Costa, limita-se a defender a solução de dois Estados para a Palestina – é o momento da gargalhada –, mas não se determina a reconhecer o Estado da Palestina. Até Trump já conseguiu ir imensamente mais longe, salientando bem alto que a Arábia Saudita não sobreviveria sem o apoio dos Estados Unidos por duas semanas. Aliados, aliados, petróleo à parte...
O que tudo isto mostra é que, com a exceção de Salazar e de Marcelo Rebelo de Sousa – convém lembrar a coragem que mostrou no seu recente discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas –, os governantes da III República acabam por mostrar-se como autênticos pigmeus da política em face dos interesses inconfessáveis dos poderosos do mundo. Enfim, o grande interesse da entrevista do Primeiro-Ministro, António Costa, pode agora medir-se pelo estrondoso silêncio ao seu redor por parte da oposição. Mas o que é que esta haveria de dizer? Sim, o que é que esta haveria de dizer?!