|Hélio Bernardo Lopes| |
A verdade é que logo me ocorreu a dúvida ao redor do controlo sobre os dinheiros assim carreados e oriundos de lugares os mais diversos. Sendo português, já com mais de setenta anos, conhecedor do modo de ser de uma imensidão de portugueses, a minha dúvida não era ilógica.
Por ser esta a realidade, de pronto me causou um espanto grande as exigências dos mil e um que nos iam surgindo nas televisões, logo a começar pelos jornalistas, pedindo menos burocracia e pleno aligeiramento de processos... Tornava-se evidente que tal via de atuação teria sempre de conduzir a abusos e a golpadas.
Esta minha reação de estranheza voltou logo a crescer ao dar-me conta que tais ideias estavam também a ser defendidas pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, com um ano a menos que eu, e naturalmente muito conhecedor de certas doenças sociais endémicas da sociedade portuguesa. Chegou mesmo a pedir, numa atitude verdadeiramente populista, que as casas estivessem prontas logo por esse Natal. Nem lhe ocorreu perguntar se existiam empresecas de construção civil nesses concelhos, porque num ou noutro nem existiam. Os governantes, perante mais uma deste tipo, lá foram sorrindo, tentando chamar à realidade com algumas estimativas otimistas. Fosse Pedro Passos Coelho – o único que encostou Marcelo às cordas da política – o Primeiro-Ministro, e logo o Presidente da República teria tido ali uma resposta já própria de um catedrático (convidado). Passou o tempo, como sempre acontece, e os que pediam facilidades e aligeiramentos descobriram, afinal, o que sempre se poderia prever como uma natural consequência do populismo apresentado e acefalamente defendido pela grande comunicação social.
Foi, pois, com enorme satisfação que há dias escutei as palavras de José Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo, salientando, pleno de razão, que o próprio Marcelo andou por lá a pedir rapidez na recuperação das casas e aligeiramento nos procedimentos... Depois de ter eu já referido esta realidade, eis que um concidadão nosso com notoriedade pública se determinou a dizer as coisas com clareza. Assistindo ao programa na companhia de minha mulher, de pronto reagi dizendo: até que enfim, na mouche!
A verdade é que as coisas (portuguesas) são como são, pelo que já agora se voltou à exigência ao redor desta metodologia, mas na sequência do incêndio de Monchique. Convém, pois, que o Ministério Público se determine a preparar uma equipa de trabalho, de parceria com a Polícia Judiciária, a GNR, as autarquias, etc., de molde a operar um mínimo levantamento prévio da realidade aqui em jogo, porque mais um anito, e aí teremos nova reportagem ao redor das (naturalíssimas) consequências dos aligeiramentos a todo o custo.