Os partidos estão mortos?

|Hélio Bernardo Lopes|
Quem tiver a oportunidade de ler o presente texto, quase com toda a certeza, conhece há muito que o português, no plano político, fala por falar. Invariavelmente, diz mal, mesmo sem refletir, minimamente, sobre aquilo de que fala.

Como muitas vezes pude referir, a democracia nunca foi, ao longo de toda a II República, um tema de grande interesse ou preocupação para os portugueses. E, passados os primeiros anos da III República, os portugueses, em face da nefanda ação de muita gente da classe política, de parceria com o seu modo próprio de estar na vida, foram-se afastando de novo da democracia.

Ora, num destes dias, Luís Montenegro surgiu com mais uma velha ideia, embora sem lógica. Também aqui é preciso dizer qualquer coisa, de molde a tentar apagar os êxitos da atual governação. Simplesmente, o tema lançado para a discussão é caricato. O líder parlamentar do PSD, em essência, refere os temas do Sistema Político, mormente, a redução do número de deputados, a consagração do voto preferencial e a facilitação do voto em mobilidade. Aponta mesmo a informatização do sistema como uma medida importante de combate à abstenção.

A verdade é que nada disto responde ao que determina o desinteresse dos portugueses pela vida política. Pois se fossem fatores como estes, o mundo não estava a experimentar as reviravoltas que se vêm vendo, mesmo por quase todo o lado.

Os portugueses, com lógica e naturalidade, esperam da classe política a resolução humanamente adequada dos seus problemas. Não esperam carros de alta cilindrada, ou vivendas, ou férias no estrangeiro, ou em hotéis de cinco estrelas, mas desejam uma vida estável e que possa ser vivida com dignidade. Ora, a estrutura do nosso Sistema Político atual não impede nada disto. Quem vem impedindo são boa parte dos dirigentes políticos, que governam ao arrepio dos naturalíssimos anseios dos portugueses.

Diz o PSD que a informatização do sistema é uma medida importante de combate à abstenção. Pois, eu penso que comporta dois riscos. Por um lado, o possível abatotamento dos atos eleitorais. E, por outro, o risco de ver a abstenção aumentar mais ainda, dado que uma enorme franja de portugueses não tem computador nem sabe tratar de uma tal matéria por via informática. Para lá destes dois fatores, a votação informática retiraria o colorido que ainda se mantém nos atos eleitorais. Seria como comer uma alheira online.

Por fim, o texto de José Pacheco Pereira, no Público, ontem mesmo, intitulado, ELEIÇÕES QUE ESTÃO VIVAS EM PARTIDOS QUE ESTÃO MORTOS. Simplesmente, embora com cambiantes, a verdade é que a vida dos partidos é naturalmente a que se conhece. Basta ler a obra de Vítor Matos, OS PREDADORES, para se ficar a saber como funcionam os partidos. Ou ter estado presente no interior de um partido, por uns sete anos, para se perceber a realidade e que a mesma é essa e não uma outra.

De tudo o que escrevi antes retiro duas conclusões. Em primeiro lugar, os partidos não estão mortos, antes funcionam como, mais ou menos, sempre funcionaram. E, em segundo lugar, qualquer mudança de fundo que seja agora feita acabará por aumentar a perda de referências já dominadas, acabando por deitar alguns dos partidos por terra, permitindo o surgimento de outros novos, mas com tudo a ficar sensivelmente na mesma, fruto da inércia cultural. As coisas são como são, pelo que devemos evitar sonhar com castelos no ar.

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