Ação e reação

|Hélio Bernardo Lopes|
Tem constituído para mim alguma admiração o facto de tantos jornalistas, analistas e e comentadores se virem agora queixar do diz tu, direi eu em que está a cair o debate indireto entre Aníbal Cavaco Silva e José Sócrates, quando a generalidade desses nossos concidadãos pouco referiram sofre o errado caminho do primeiro ao escrever um livro de objetivo ataque ao segundo.

Ao contrário do referido por aquele, até por diversos apaniguados seus, a generalidade dos estadistas não escreve livros de memórias apontando um detentor de soberania seu contemporâreo e nacional como usando de fingimento e sendo o causador de um qualquer grande desastre anterior para o País, mesmo que tal tivesse tido lugar, o que é aqui duvidoso. Basta reparar como Barack Obama nunca tal operou em face de George W. Bush, apenas com Donal Trump – uma singularidade histórica – se operou tal atitude em face de Obama.

Ora, na noite de ontem teve lugar o programa da RTP 3, moderado por João Adelino Faria, em que são residentes Rui Tavares, Pedro Adão e Silvva e José Eduardo Martins. Este último, há uma ou duas semanas, ao comentar-se ali o livro de Aníbal Cavaco Silva, questiou: mas Sócrates respondeu o que quer que fosse, desmentiu o que se diz no livro? Ao tempo, este argumento colheu, digamos assim, minimamente. O problema é que Sócrates já foi entrevistado, embora sem as mesmas ondições de tempo dadas a Aníbal Cavaco Silva.

Por tudo isto, eu salientei, para com quem estava ontem comigo, que o tema o livro do antigo Presidente da República iria, desta vez, ser comentado, perante o cabal e claro desmentido de José Sócrates. Bom, enganei-me. De modo que me interrogo: irá continuar este silêncio de José Eduarrdo Martins e dos restantes presentes no programa ao redor do que agora já José Sócrates veio esclarecer? Tenho alguma dúvida.

No meio de tudo isto, porém, está objetivamente presente a regra da ação-reação: quem começou este folhetim foi Aníbal Cavaco Silva, não José Sócrates, que sempre usou de (uma estranha) correção para ccom o antigo Presidente da República. Para lá destas considerações, está sempre omnipresente o histórico ditado popular digno de registo, a cuja luz quem não se sente, não é filho de boa gente.

De molde que quando Joaquim Jorge agora escreve que tudo isto parece um ajuste de contas, algo feio, degradante, dando uma má imagem aos portugueses, a quem estiveram confiados os destinos de Portugal, cabe também referir que quem iniciou este folhetim foi, precisamente, Aníbal Cavaco Silva, não José Sócrates, que teve, naturalmente, o direito de defender-se do que de si foi dito. É como se a meio de um jogo de futebol certa equipa passe a jogar com catorze atletas, sem que se notem reações. É natural, nesta situação, que a outra equipa faça o mesmo, ou passe até utilizar quinze. Há quem começou e quem reagiu. São coisas diferentes.

Mas há um ponto em que Joaquim Jorge tem tanta razão como a de há dias, de Manuela Moura Guedes, e que é quando refere que se Cavaco Silva não achava que José Sócrates era competente para exercer o cargo com seriedade, porque não o demitiu na altura? Precisamente a estranheza também há dias manifestada por Manuela Moura Guedes.

Um dado é certo: este folhetim, que veio para continuar a ser alimentado por Aníbal Cavaco Silva, seja ao redor do antigo Primeiro-Ministro ou de quaisquer outros da nossa vida pública, foi para o ar através do cabalmente inútil QUINTA-FEIRA E OUTROS DIAS. Mas tudo seria diametralmente oposto se o autor se tivesse dado ao trabalho de escrever uma obra que, tendo em conta o passado, mas sem atacar quem quer que fosse, expusesse uma visão de grande estratégia para Portugal. O problema é que tal é difícil e pressupõe a adoção clara de pressupostos humanos e sociais. Ou seria mais uma coisa técnica, como mil e uma outras sem projeção nem aplicação. Francisco Louçã, por exemplo, disporia de meios para operar um tal trabalho, mas duvido muito de que Aníbal Cavaco Silva o conseguisse realizar.

www.CodeNirvana.in

© Autorizada a utilização de conteúdos para pesquisa histórica Arquivo Velho do Noticias do Nordeste | TemaNN