Chega de ser confrangedor

|Hélio Bernardo Lopes|
Pois é verdade, caro leitor, chega a ser confrangedor assistir às mui raras tomadas de posição de Gorbachev sobre a sua Rússia de hoje, ao redor do que vai pelo mundo e da sua antiga União Soviética e seu colapso.

Para mim, todas estas suas raras intervenções surgem como dolorosamente confrangedoras. Para os mais desconfiados, até estranhas, porque sempre haverá alguma probabilidade de poderem ser vistas como conducentes a um acréscimo de dúvida.

Sem dúvida significativo é o facto de Gorbachev nunca se pronunciar sobre a política mundial dos Estados Unidos, mormente na sequência do que pôde ver-se com George W. Bush e Barack Obama, mas também com a própria Hillary Clinton, ou mesmo John McCain. Entre outros Estados, como a França, o Reino Unido, a Alemanha, etc..

Como é evidente, a recíproca não é verdadeira, não faltando políticos a pôr em causa tudo o que os detentores da soberania russa possam fazer em defesa do seu país. E da OTAN, bom, nem uma palavra. Tal como com a guerra religiosa que hoje varre o mundo, em face da oportunidade estratégica criada pela política externa dos Estados Unidos. Nem uma palavra!

Neste seu texto recente de jornal Gobachev tem a mais plena razão, ao reconhecer que era necessário e possível reformar a União Soviética, evitando a sua desintegração. E logo complementa esta realidade com esta outra: assumo minha parte de responsabilidade, mas tenho a minha consciência limpa. É minha convicção que Gorbachev poderá não ter lido a excelente obra, O FUTURO DO COMUNISMO SOVIÉTICO, de Wolfgang Leonard, onde se analisa, com grande pormenor, o caminho mais lógico para operar a mudança que o antigo Secretário-Geral do PCUS pretendia. Simplesmente, uma tal mudança teria sempre de suportar-se em quatro pilares essenciais: reforçar a doutrina que suportava a experiência soviética; reconhecer os erros antes praticados; pôr em andamento um programa de reformas ao nível do conjunto das repúblicas; e evitar acreditar na aparentada boa vontade dos Estados Unidos – e do Ocidente, em geral –, uma vez que nunca seria difícil perceber que as regras que vinham enunciando não poderiam nunca ser levadas a sério.

Se Gorbachev olhar o que hoje se passa, por exemplo, com a Igreja Católica Romana de Francisco, facilmente perceberá que, de facto, pouco ou nada mudou. Até por se estar à beira o fim do atual pontificado. Este foi, muito acima de tudo, um tempo de recuperação do estado de horas de amargura a que havia chegado a imagem da hierarquia da Igreja Católica Romana. Pois, Gorbachev fez o contrário: até em Lenine encontrou erros! Tudo tinha erros, o que, sendo sempre verdade, não era coisa para ser enunciada alto e com bom som. O resultado foi a fantástica queda de braços que pôde ver-se por toda a URSS e suas repúblicas. Coisa muito pior, entre tantos outros casos, que o BREXIT e os efeitos, sempre apontados e nunca materializados.

Como no-lo diz um histórico ditado popular digno de registo, vale mais tarde que nunca. Mas Gorbachev não deverá nutrir grandes ilusões, porque se é verdade que uma federação mais eficaz de Estados é hoje possível para o conjunto das antigas repúblicas soviéticas, suportadas agora num sistema político-social onde a dignidade humana seja respeitada em primeiro lugar, há também que ter em conta o conflito religioso mundial que está atualmente a jogar-se. É essencial usar de criatividade e de boa-fé, mas evitar sempre o Ocidente, porque deste lado o que há para oferecer é a máquina global de pilhagem dos povos, sempre com o tal deus dinheiro à frente de tudo. Se à primeira todos caem, à segunda os melhores já não deverão cair.

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