Um quente verão de vale-tudo

|Hélio Bernardo Lopes|
O presente tempo estival está a mostrar-se-nos bem acima do que um treino já de décadas poderia permitir estimar e enfrentar. Depois das mil e uma vicissitudes que a III República criou, e com que nos ajudou a conhecer e a enfrentar a realidade da vida política democrática, o tempo deste verão é uma verdadeira novidade. Mormente pela contínua prática do vale-tudo.

Como realmente teria de dar-se, continua a ação concertada da Direita alemã com a nossa, sempre lançando a dúvida sobre a capacidade dos portugueses realizarem os seus compromissos reiterados. E quem diz a nossa Direita, diz a fação direitista do PS. Uma objetiva estratégia contra o interesse dos portugueses, sempre procurando recuperar a receita desastrosa que nos empobreceu como agora o BCE nos veio confirmar em matéria de despedimentos e esmagamento salarial.

Desta vez, para lá dos nossos oposicionistas, aí nos surgiu o presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, criticando a falta de atuação da Comissão Europeia relativamente a Portugal e Espanha – o verdadeiro objetivo é Portugal...–, defendendo que o não cumprimento das regras orçamentais devia ter dado lugar a consequências. Da nossa Direita, tal como de Aníbal Cavaco Silva, de António Ramalho Eanes ou dos nossos bispos católicos, bom, nem uma palavra.

No meio de tudo isto, algumas lembranças de verão. Desde logo, essa infeliz ideia de mandar estudar a situação da ADSE, quando a mesma é claramente superavitária. Porquê mexer no que está bem e quase todos desejam manter, com as notáveis exceções dos que só pensam em ganhar mais ainda do que já auferem? Espantoso!

Um pouco depois, o caso do IMI, que também nos dizem agora ser só coisa que parece mas não é. O problema é que se abre aqui uma porta para futuro, porque logo que a Direita chegue ao poder o que fará será dar andamento à parecença de agora, tornando-a uma realidade, como realmente esteve prestes a fazer.

Por fim, o caso dos jogos do Euro 2016 e dos convites a Fernando Rocha Andrade e dois colegas de Governo. Claro que a euforia da circunstância nem permitiu pensar no impacto do convite natural e sem maldade ou perda de isenção decisória. Simplesmente, a oposição deita mão de tudo, perante uma Geringonça que funciona e vai levando a carta ao Garcia. Um perigo iminente…

Para mim, porém, o mais espantoso é ainda a grande comunicação social, que agora atua com a mesma falta de vergonha com que silenciou os casos dos políticos e jornalistas ligados aos Papeis da Mossack Fonseca. Nestes casos, estando em causa políticos, jornalistas, banca e secretas, isso da ética sofreu logo um daqueles ares que costumam fazer sumir o inconveniente... Enfim, já nem se pode descansar no domínio opinativo!

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