Ideia infeliz

|Hélio Bernardo Lopes|
Já ninguém duvida de que a liderança do Bloco de Esquerda foi extremamente infeliz com a sua decisão de utilizar o tal cartaz com a imagem de Jesus e que já vinha circulando noutros lugares. 

Em todo o caso, há três dados que importa olhar com atenção, e que se prendem com a posição já assumida por aquela liderança, com a hipocrisia dos que logo vieram a terreiro protestar e com as reações no seio do povo católico.

Apesar do erro cometido, a grande verdade é que a liderança do Bloco de Esquerda já veio reconhecer o seu erro, embora, como todos perceberão, nunca tenha existido o intuito de ofender os católicos, antes usar (mal) um dado que nem mesmo é correto, se se tiver em conta a doutrina católica oficial. E como errar é humano e reconhecer o erro é uma forma de pagar pelo mesmo, o tema termina aqui.

Em contrapartida, e como seria expectável, de pronto surgiram as usuais carpideiras, logo aproveitando, politicamente, o erro em causa. A própria liderança da Igreja Católica em Portugal também não foi feliz com a sua reação, porque o facto não teve um ínfimo de valor ofensivo. Foi, digamos assim, uma coreografia de mau gosto, errada e infeliz.

Para se perceber a hipocrisia reinante neste caso, basta olhar o das centenas de milhares de refugiados, cujo paradeiro está entregue à sorte dos elementos. Os políticos cobardes de hoje, mas também a própria Igreja Católica, nada fizeram sobre este tema, para lá de meras palavras paliativas. Tão paliativas como os raros cuidados paliativos com que se pretende combater o desespero da doença sem o acesso adequado a ser tratada ou curada.

Foi sugerido pelo Papa Francisco que cada paróquia recebesse uma família refugiada, logo com o exemplo de uma das paróquias vaticanas, que já havia recebido uma família (cristã). Sobre a segunda, porém, foi um ar que lhe deu. E das nossas quatro mil setecentas e trinta e duas, nem o ar lhes chegou. E aqui, sim, estão milhares de vidas em causa, mas a que os grandes cultores dos valores ocidentais simplesmente não ligam. Uma hipocrisia inqualificável.

Por fim, a posição dos católicos comuns, que são a enorme maioria e que não têm posições sociais ou tachos a defender: quase nem uma conversa sobre o tema. Até de dirigentes católicos leigos conhecidos das convivências correntes – familiares, amigos ou conhecidos –, nem uma palavra. O tema do referido cartaz, de facto, foi um não tema. Mas um não tema que logo foi aproveitado pelos opositores do Bloco de Esquerda, que vivem apavorados com o seu crescimento evidente. Só nos falta agora vir a escutar protestos dos nossos concidadãos da Direita que defendem a legalização da eutanásia. No fundo, um caso que ilustra bem o estado moral a que chegou a vida política em Portugal. Vale tudo.

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