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|Tânia Rei| |
Há aquela expressão dos “jovens adultos”, só que, quando olho para o Cartão do Cidadão percebo que, se calhar, me devia deixar dessas aventuras do “ser jovem”, e começar a ter outra postura na vida. Por outro lado, agora parece que com isto de haver novos paradigmas sociais, envelhecemos mais tarde. Como um elixir milagroso. E por isso, temos mais tempo para andar a vadiar no reino juvenil.
Pensei, em complemento à primeira ideia, começar a deixar os ténis de parte, e andar sempre de saia ou vestido, e de blusas sóbrias. Também não resultou. Fiquei a sentir-me tão adulta como antes.
Depois, pensei, repensei e olhei para o umbigo, mas pela parte de dentro, a que não se vê, e deduzi, pelo que lá encontrei, que sou crescida, já. “Tudo está consumado”, à semelhança daquela passagem bíblica, carregada de pesar. É que sermos arrancados do nosso lado de adolescentes dói, estica a alma até ao inimaginável.
Achar que se é adulto, e não se ter a certeza, é como ir ao supermercado comprar uma manga. Por mais que se apalpe e cheire, só quem come mangas pode perceber o que tem à frente. Nesse dia, da introspecção, senti que comprei uma manga tão verde, mas tão verde, que vai demorar uma eternidade a amadurecer.
Não sei se ser adulto é importante, ou necessário. Em boa verdade, nem sei como é. É ser responsável? Ter contas para pagar? Ganhar dinheiro para pagar as ditas contas, e comprar uma casa e um carro? É casar e ter filhos? É ser um profissional de sucesso? É começar a achar que se está velho para andar de All Star?
Não sei.
Chego à conclusão de que nem quero saber. Xô vida de adulto, xô! Pára de me zumbir aos ouvidos, de me morder os calcanhares. Fica lá bem longe! Se calhar, até é possível ser-se adulto sem sequer o saber. Algo inato, que já trazemos de fábrica, e que, a dada altura, salta como um daqueles bonecos enfiados em caixas de madeira, que têm uma mola. Depois, só temos de carregar na cabeça do boneco, para o enfiar dentro da caixa de novo, e fechar. Aposto que até tem escrito “abrir em caso de necessidade, ou depois dos 40, caso não abra até lá (deixa de ser criançola, que já é tempo)”. Felizmente, e como os 40 são os novos trinta, ainda não encontrei a minha caixa, ou as instruções.
Por isso, para já, nem procuro a caixa, que deve estar longe, e fujo do mundo dos crescidos. É que acho que já espreitei pela fechadura, e não gostei do que vi.