A banca e o bilhete de identidade

|Hélio Bernardo Lopes|
Há alguns anos, na sequência do escândalo que envolveu o Instituto de Obras Religiosa, usualmente designado por banco vaticano, Adriano Moreira teve a oportunidade de responder a uma pergunta da revista STELLA, onde salientou que, em sua opinião, não existe justificação para que a Igreja Católica tenha um banco. E citou mesmo Jesus, recordando que não quisera os vendilhões no templo.

Acontece que a Igreja Católica não pensa assim, mesmo no tempo do atual pontífice, o que se compreende, porque para manter toda a sua estrutura – e desde logo a central – é essencial dispor-se de avultadíssimas quantias de dinheiro, sendo conhecido que a generalidade dos católicos pouco dá à sua Igreja.

Entendo que Adriano Moreira tem razão, o que significa que as palavras de ontem do Papa Francisco, por acaso improvisadas em dado momento, sendo inteiramente corretas, não têm aplicação. A uma primeira vista mostram-se-nos como uma pedrada no charco da miséria moral do mundo de hoje, mas acabam por se perder na voragem informativa, sendo que a generalidade da classe política pouco nelas pondera.

Sendo evidente que a Igreja não precisa de dinheiro sujo que venha das mãos de criminosos, a verdade é a malandragem dos dias de hoje não anda com o bilhete de identidade à vista. Quando se é banco procede-se em conformidade. De um modo muito geral, as coisas seguiram sempre estas pisadas. O problema do banco vaticano não está no banco, mas sim no Vaticano, porque o mantém. O que significa que a Igreja terá sempre uma dificuldade (quase) intransponível para rejeitar a ajuda dos que lucram explorando os outros. Falta um bilhete de identidade que (ainda) não existe.

A prova disto mesmo está nas revelações feitas por um elemento espanhol da Opus Dei a dois jornalistas italianos, mostrando que a situação do banco vaticano teria voltado ao seu estado anterior. O que se compreende, até porque a tal ineficaz supervisão é, neste caso, ainda mais ineficaz. Duvido que alguém pense de outro modo, desde que se disponha a mostrar o seu verdadeiro pensamento.

Os bancos não são bons nem maus, apenas bancos. Pretendem obter lucros e têm sempre de jogar no plano do segredo. Quem tiver ouvido, há dias, o comentário de Francisco Louçã e visionado o seu Momento ZEN, e se recorde das sucessivas palavras de Vítor Constâncio na Assembleia da República, percebe, afinal, que na banca quase tudo é nada. A banca é como é. Nem mesmo neste caso do banco vaticano os milagres estão presentes.

Por fim, o Papa Francisco lá voltou a abordar o caso dos refugiados, completamente escorraçados pela famigerada União Europeia. Mas ainda não foi desta vez que lhe escutámos notícias sobre a segunda família a ser recebida pela segunda paróquia do Vaticano. Terá também ficado para um dia de S. Nunca?

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