Perdigota e bota

|Hélio Bernardo Lopes|
No passado domingo, como normalmente – excetuam-se os dias das transmissões de bola –, acompanhei o PONTO CONTRAPONTO, de José Pacheco Pereira na SIC Notícias. E dei, mais até desta vez, por bem empregue o (pouco) tempo do programa. 

De resto, agradavelmente acompanhado do meu neto, com os seus treze anos e já com um metro e oitenta centímetros – já me apanhou –, que se fartou de colocar questões ao final do visionamento.

Ora, foi com muita satisfação que acompanhei o excerto da intervenção do Papa Francisco, em abril do passado ano, no Parlamento Europeu. Para lá da clareza das palavras, gostei de ver a firmeza com que as mesmas foram proferidas e achei uma terrível graça ao incómodo que provocaram na Direita europeia, de que fazem parte os nossos eurodeputados do PSD e do CDS/PP. Nem palmas bateu, boa parte dessa Direita, às passagens mais verdadeiras e dolorosas do discurso de Francisco.

A verdade é que as palavras do Papa Francisco, ali proferidas, não eram novas. Inovador terá sido, quase com toda a certeza, o tom com que foram proferidas, fazendo lembrar a expulsão, por Jesus, dos vendilhões do Templo.

Acontece que, há já um bom tempo, eu salientei que estas intervenções comportam fortes limitações, porque os grandes interesses que se apropriaram do poder na zona desenvolvida do Planeta nada ligam ao que nas mesmas possa conter-se. Essas limitações têm dois fortes aliados: o clero nacional, que de há muito se vem quedando em silêncio perante estas tomadas de posição do seu Papa, e a grande comunicação social, hoje fortemente dominada pelos grandes interesses que passaram a pontificar no mundo depois do colapso da antiga URSS.

Pois, o primeiro fator limitante do efeito das palavras do Papa surgiu agora, e muito explicitamente, na Alemanha, com a nova tomada de posição do cardeal Reinhard Marx, que preside à Conferência Episcopal Católica da Alemanha. Depois de sempre se ter mostrado um grande defensor da política de receção aos imigrantes, o cardeal veio agora dizer-nos este mimo: a Alemanha não pode acomodar todas as necessidades do mundo, impondo-se reduzir o fluxo de refugiados.

É interessante constatar o valor da enormidade desta afirmação, porque países muitíssimo mais pequenos que a Alemanha vêm acomodando uma verdadeira imensidão de refugiados. Aqui está como a Igreja Católica, como sempre nos habituou na História, acaba por assumir uma posição e a sua contrária. De molde que me interrogo: que é feito da segunda família refugiada que iria ser acolhida na segunda das duas paróquias do Vaticano? Bom, leitor parece ter surgido um ar que lhe deu. Duas tomadas de posição que são autêntica bota e perdigota...

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