Falar escuro

|Hélio Bernardo Lopes|
Como se pode facilmente imaginar, foi com uma graça enorme e muito minha que na passada edição d’A QUADRATURA DO CÍRCULO pude ver o modo aflitivo da reação de Jorge Coelho à aparente revelação de José Pacheco Pereira, de que aquele também não é um grande entusiasta da coligação criada pelo PS, Bloco de Esquerda, PCP e Os Verdes.

Claro que se trata de uma revelação aparente, porque de há muito se percebeu que Jorge Coelho se constitui numa versão menos nervosa de Francisco Assis, naturalmente chegado ao que, algo inacreditavelmente para os tempos de hoje, continua a designar por socialismo democrático. Como se percebe de um modo elementar, de há muito os portugueses se deram conta de que Jorge Coelho é tão socialista como eu sou espanhol. E faço esta comparação, porque é muito possível que existam ascendentes meus ligados a Castela, sendo que até as duas línguas têm uma origem comum e muitas semelhanças entre si. Só que não são a mesma coisa.

Jorge Coelho, como se dá com tantos colegas seus ainda hoje no PS – porque não passam para o atual PSD?! –, apresenta uma qualidade inversa da que deu título a um histórico livro do padre José da Felicidade Alves, FALAR CLARO. Com Jorge Coelho, porém, o título correto terá de ser, FALAR ESCURO. E foi, pois, com uma terrível graça que pude assistir à sua plena perda de calma pelo facto de José Pacheco Pereira dizer aquilo que já todos os interessados na política de há muito sabem.

De um modo repetitivo, Jorge Coelho identifica-se com António Guterres – e muito acima de todos os outros –, apoia a candidatura de Maria de Belém, tão saudada pela direita atual, não se pronuncia sobre as virtudes desta coligação da Esquerda, e pretende que os portugueses acreditem que é um socialista (democrático, claro está)? Mas os portugueses não são tolos!

Enfim, foi um momento deveras hilariante, sobretudo, pelo modo explosivo como Jorge Coelho reagiu à chamada da sua realidade pelo adequado nome por parte de José Pacheco Pereira. O Zé – como lhe chama António Lobo Xavier – é muito direto, é intelectualmente honesto e tem, por tudo isto, dificuldade em ouvir Jorge Coelho perorar mas sem ser claro. E para mais o Jorge, que até deverá ter lido o tal livro do padre Felicidade Alves. Foi giríssimo.

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