Mas que malandrão!!!

|Hélio Bernardo Lopes|
Com uma graça enorme foi como há dias li este fantástico comentário de Marcelo: não fica nada bem a Costa dizer que não aceita a decisão dos portugueses. Mas trata-se, obviamente, de uma brincadeira, até porque Marcelo conhece bem a Política. Em todo o caso, acho que vale a pena escrever, sobre este tema, algumas palavras para o leitor.

No próximo dia 04 de outubro os portugueses irão escolher a sua representação parlamentar. Essa representação, naturalmente, é variada. Em princípio, essa variedade deve sempre ser tida em conta em matérias essenciais. Mesmo que já fosse conhecido o Programa de Governo, o PS, como qualquer outro partido – até deputados do PSD ou dos CDS/PP, como já aconteceu –, podiam discordar de pontos essenciais e votar contra. Isto não significa não aceitar a decisão dos portugueses, porque esta está ali representada por cada um dos deputados.

Se Marcelo tivesse razão nesta treta elementar, então Pedro Passos Coelho teria traído os portugueses ao garantir que nunca falaria com o Primeiro-Ministro, José Sócrates, mesmo que este viesse a sair vencedor das eleições que iam decorrer. Disse-o por vezes diversas, tendo o tema alimentado os mil e um debates televisivos, não me recordando a não ser de brincadeiras de Marcelo.

Simplesmente, eu sigo sempre de muito perto as perguntas surgidas nos jornais ao redor de temas políticos. Ora, o DN, num destes dias, trazia um inquérito na sua edição online com a seguinte pergunta: Concorda com a decisão anunciada por António Costa de que se não ganhar chumbará um orçamento da coligação? Mais de um dia depois, as respostas – por acaso, poucas, em face do que é corrente – eram estas: sim, 983 votos, 58 %; não: 706 votos, 42 %. Dezasseis pontos percentuais de diferença!

É pena que Marcelo não se preocupe antes com a perda da soberania de Portugal, atacando, de modo contundente, os recentes dados da Standard & Poor’s, que diz esperar a continuidade das políticas depois das eleições, ganhe quem ganhar. Ou que não repudie a notícia de que bancos ameaçam sair da Catalunha em caso de independência. Fizeram-no com a Escócia, ou com a antiga Checoslováquia, ou com uma possível separação futura da Bélgica? Claro que não! Mas Marcelo, sobre todas estas humilhações à nossa soberania – e quanta já perdemos...–, nem uma palavra deitou cá para fora. E que tal a recente opinião de João de Deus Pinheiro, sobre a vida democrática: se para haver acordo for necessário pôr Costa e Pedro Passos Coelho fora, que se ponha. Mas, então, as eleições servem para quê? Para continuar a política que desgraçou a vida de tantos portugueses?

Muitas vezes tenho salientado a gente amiga, alguns que até andaram a bater-se contra o Estado Novo, Salazar e Marcelo, que para se chegar à atual desgraça – até o Afeganistão e o Iraque são democracias...– bem se poderia ter evitado a Revolução de Abril. Como se percebe, as coisas teriam sempre mudado, mas não se teriam criado os mais que naturais direitos humanos a cada um de nós, para agora os virem deitar para a área dos negócios financeiros.

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