|Hélio Bernardo Lopes| |
Mais uma vez, João Soares lá foi buscar o tema do ambiente prisional no tempo de seu primeiro minuto. Tendo procurado tratá-lo de um modo objetivo, amplo e como tema essencialmente ligado à dignificação do ser humano, centrou-o a partir das suas visitas a amigos que tiveram o azar de ir parar a tão desagradáveis ambientes. De modo que aproveitou esta sua oportunidade para se fazer eco do que realmente tem de pior tal tipo de ambientes. E até conseguiu ter razão.
Simplesmente, a grande verdade é que se têm seguido políticos diversos no poder, mas pouco se fez de capaz no domínio que abordou neste seu debate. O que significa, afinal, que João Soares só se mostra agora preocupado com o que viu – podia facilmente conjeturar – por via de ali se encontrarem concidadãos seus amigos. Ainda assim, e como referiu, sempre vale a pena aproveitar estas situações para abordar o modo como a punição dos ilícitos tem lugar na vida do nosso País.
Devo dizer que não penso ser muito complexo mudar as coisas do Direito Penal para melhor, embora tal obrigue à coragem de operar uma mudança profunda de paradigma neste domínio. Uma mudança que só pode ser realizada sob o comando de uma personalidade de grande prestígio político e que consiga concitar um amplo apoio na Assembleia da República.
Simplesmente, tal mudança obriga a diversas outras, de molde a garantir uma minimização da grande criminalidade económica e financeira, tão potenciada nos dias que passam por via do modelo neoliberal e da globalização. Além do mais, impõe-se, por igual, uma ação concertada e persistente ao nível internacional, no sentido de harmonizar regras e procedimentos e de agilizar práticas de combate à grande criminalidade dos nossos dias, naturalmente ligada ao modelo neoliberal e à globalização.
Se eu conhecesse João Soares, tomaria a iniciativa de o tentar convencer a comigo esboçar uma metodologia com os objetivos aqui expostos. Depois se veria se a classe política, por cá e lá por fora, aceitaria o modelo que conseguíssemos criar. A minha ideia, neste momento, é que não iria aceitar. Pois se assim não fosse, já se teria operado a referida mudança nestas coisas. Mas é bom que João Soares não se esqueça deste problema, porque tendo o mesmo sempre existido, ele está aí para continuar.