Calorias em dias de festa

|Tânia Rei|
Com a chegada do Verão, cada vez mais pessoas se preocupam com a linha, aposto que sim. Mas depois há hábitos que tendem a arruinar todo o processo de dieta – e não, não vou ensinar a contar calorias, nem a comer saudável, nem falar de sumos que fazem perder barriga.

É um outro hábito, que em certas ocasiões não lhe encontro qualquer significado, a não ser a “gordice” que é inata ao ser humano, e é esta mania de assinalar tudo na vida com um bolo.

Nos aniversários, poderei entender e ser adepta, mais não seja pela visível necessidade de ter como segurar as velas. Já noutras ocasiões, não compreendo. Alguém acaba um curso académico, onde ao longo de pelo menos três anos estudou que se fartou, pagou mensal ou anualmente verbas consideráveis, e agora vai combater contra a maré do desemprego. Como vai marcar essa passagem? Com um bolo cheio de massa de açúcar e formas fofinhas, claro. Nonsense.

Alguém arranjou um emprego melhor, ou foi promovido. Os amigos fazem uma festa, onde figura, certinho como o destino, um bolo. É a maneira de os colegas dizerem “até podes ir, mas vais mais gordo/a, isso é certo, e essa camisa, que tão bem te fica, vai começar a abrir na zona do peito, e já não vais fazer um brilharete com ela”. Uma doce vingança, portanto.

Mesmo nos casamentos, note-se, há um bolo gigante, que nunca ninguém come (ou que aceita por simpatia, mas que rapidamente coloca enrolado num guardanapo). Pergunto-me se não houvesse bolo, mas, por exemplo, um cocktail de fruta, o casal seria menos feliz. Até li sobre isso na internet (essa fonte de saber) onde diz que o bolo de casamento era, nos primórdios, um “sinal de riqueza e ostentação das famílias” e que os bolos “com três andares” têm significados por cada patamar, ligado a coisas inerentes aos recém-casados. Ora a mim parece-me que é uma tradição inventada por malta que, como eu, gosta de bolos, e alimentada por quem os confecciona.

Mesmo numa outra festa qualquer, num piquenique ou um convívio há sempre uma alma que grita “ai eu faço um bolinho”. O bolo, digo sem mentir, é a primeira opção a ficar preenchida quando a comida toca. Por outro lado, nunca ouvi ninguém atirar “eu levo uma salada de agrião com rúcula”. Porquê, não sei, mas seguramente a salada dá menos trabalho.

O bolo está embutido na nossa cultura. Os bolos caem sempre bem, e têm ar de festejo. Até os há saudáveis e com variantes (com farinhas diferentes, com duas farinhas ou sem farinha).

Lembro-me da primeira vez que fiz um bolo, sozinha. Quase no final, sem entender o motivo que levava a massa a não estar homogénea (palavra que sempre figura nas receitas), vejo a minha mãe a olhar-me com um ar de pena, enquanto me dizia que os ovos se adicionam no início. O que é que isto tem a ver com o resto do texto? Absolutamente nada. Apenas, juntamente com os 180ºc e a escolha de uma boa manteiga, são sempre boas dicas para a próxima vez que se aventurar na cozinha.

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