Vitalíssimo

|Hélio Bernardo Lopes|
Só pode considerar-se um fator de grande satisfação o acompanhamento dos mil e um concidadãos que, quais Cataratas do Niagara, não param de pronunciar-se sobre a candidatura de António Sampaio da Nóvoa ao Presidente da República. 

Sem dificuldade, facilmente se descortina estar-se em presença de um fenómeno com duas caraterísticas: as opiniões, de um modo muito geral, provêm de gente sem história realmente substantiva na vida política da III República; e tal conjunto de opiniões materializa-se num sistema de condições absolutamente incompatível.

Assim, depois da copiosa derrota dos seguristas às mãos de António Costa, eis que aqueles voltam agora a dar um ar da sua graça, sobretudo depois da estrondosa derrota do PS na Região Autónoma da Madeira. E então nada como aproveitar a candidatura do académico António Sampaio da Nóvoa: Álvaro Beleza, com uma graça que terá de reconhecer-se como excecional, questiona-se agora sobre se não estará na altura de termos uma mulher em Presidente da República!! E, como se percebe facilmente, esta é que é a verdadeira questão com que se debatem os portugueses...

Outros, igualmente no seio do PS – também na área do PSD –, interrogam-se deste modo: será que António Sampaio da Nóvoa poderá assustar os eleitores do Centro? E sabe o leitor o verdadeiro significado deste conceito? É simples: a desgraça da III República na ponta do Bloco Central. Alguns chamam mesmo aos interesses que por aí de desenvolvem o Sistema Centrão. Precisamente os mesmos que defendem que a sociedade civil deve intervir, mas que quando um seu membro proeminente o quer fazer – é o caso do académico Sampaio da Nóvoa –, de pronto suscitam dúvidas verdadeiramente fantásticas!

Um destes criadores de dúvidas fantásticas é Vital Moreira, que agora nos surge tão vitalíssimo como quando conduziu o PS ao triste resultado que permitiu deitar António José Seguro para o exterior da cadeira do poder no PS. Simplesmente, a responsabilidade daquele desastre – Soares chamou-lhe, com razão, uma vitória pirra – não foi só de António José Seguro, porque o próprio Vital Moreira tinha o dever de perceber que para se ganhar não basta saber muitas coisas em certa área, mas por igual atrair o eleitorado. Ora, pensando um pouco, Vital teria facilmente percebido que, neste domínio, ficava a anos-luz – para trás, claro – de José Lello, por exemplo. Até mesmo de Renato Sampaio.

Diz-nos agora Vital que o antigo reitor da Universidade de Lisboa tem uma visão intervencionista do cargo! Vital podia dizer que prevê isso, mas logo acusa antes de ver, violando tudo o que os causídicos vêm dizendo da nossa Justiça e dos jornais que vão publicitando coisas.

Mas Vital vai mais longe – torna-se, deste modo, vitalíssimo –, assegurando que António Sampaio da Nóvoa tem um discurso político próximo das esquerdas radicais e uma visão intervencionista do cargo presidencial. Provavelmente, Vital discorda também de Diogo Freitas do Amaral sobre o SYRIZA, e terá uma ideia da função presidencial como sendo a de um corta-fitas, repleto de discursos inócuos e politicamente corretos: nem esquerda nem direita, tudo a correr bem, o País a andar para a frente, sempre com o inestimável apoio dos portugueses, todos certos de que o futuro, afinal, existe, mesmo que medido em múltiplos da dezena de décadas. Para Vital, enquanto António Sampaio da Nóvoa se poderá tornar num trouble maker, Cavaco foi sempre um sublime fator de linearidade funcional da nossa vida política.

Por fim, Vital Moreira vem com a sua última descoberta: Jaime Gama é presidenciável. O problema desta afirmação é que ela é lida por muitos portugueses. De modo que me dirijo agora ao leitor: se as sondagens dão a Guterres uma vitória com cerca de um pouco mais de metade dos votantes – e na segunda volta –, quanto poderá obter Jaime Gama? Eu creio, muito sinceramente, que a resposta é facílima: perderá garantidamente e de um modo estrondoso. E com tanta garantia quanta a certeza do leitor sobre a real autoria deste texto assinado por mim. Se tudo fosse tão fácil de prever, de há muito me teria determinado a ganhar semanalmente o Euromilhões.

Só que o tempo político eleitoral não termina com Vital, mesmo que agora demasiado vitalíssimo. Pelo contrário: palavras de Vital não foram ditas, e eis que de pronto nos surgiu Fernando Nobre! Um outro caso de garantia em termos de vitória eleitoral, como todos os portugueses tão bem conhecem.

Mas o que nos diz agora o Fernando? Bom, o que alguns membros do PS já estão a tentar fazer: colocar em Belém um homem de mão, ou mesmo uma mulher, claro está, desde que seja da máquina do partido... Fala-se mesmo em recorrer a primárias, o que é simplesmente estrórdinário! Até porque a eleição presidencial acabaria por ter lugar, sem que as primárias tivessem chegado!!

Termino, pois, com esta pergunta ao leitor: sendo António Sampaio da Nóvoa tão pouco ganhador e tão limitadamente apropriado para desempenhar o cargo de Presidente da República, porque estará alguma boa rapaziada do PS e do PSD tão nas aflitinhas? Mas então não é verdade que António Sampaio da Nóvoa é um académico distintíssimo, catedrático, com dois doutoramentos e que até provém da sociedade civil? Ou o problema é outro?...

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