Não quer dizer que a vida não existisse antes. Quer dizer que ou não deixou rastos, ou estes ainda não foram encontrados. Por exemplo, o geólogo dinamarquês Minik Rosing identificou “assinaturas químicas” indicadoras da existência de vida em rochas com mais de três mil e setecentos milhões de anos, encontradas na Gronelândia.
Recorde-se que a idade estimada para o nosso planeta é de quatro mil e seiscentos milhões de anos. Assim a vida ter-se-á originado no nosso planeta numa janela temporal inferior a mil milhões de anos. Mas como?
Um dos momentos decisivos para a evolução da vida terá sido a formação de uma membrana suficientemente estável que delimitasse e separasse um meio interior do meio externo envolvente. Esta membrana teria, entre outras propriedades, a capacidade de permitir a entrada selectiva de matéria-prima (alimentos), assim como a saída dos produtos das reacções internas cuja presença no interior não era “desejável”. Mas para se formar esta proto-célula terá sido necessária a presença dos compostos químicos essenciais para a sua edificação: lípidos (para a membrana), aminoácidos (para as proteínas), ribonucleótidos (para a formação dos ácidos nucleicos como o ADN e ARN), entre outros.
No final de Março, foi publicado na revista Nature Chemistry um artigo (B.H. Patel et al. Nature Chemistry, (2015) 7, 301-307) que representa uma aproximação mais completa para o ambiente geoquímico que poderá ter constituído a antecâmara da vida. Neste artigo, uma equipa de cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, liderada pelo inglês John Sutherland, demostra como é possível obter os blocos moleculares da vida a partir de uma simples mistura de ácido cianídrico (HCN) e ácido sulfídrico (H2S), compostos verosimilmente presentes abundantemente na atmosfera da Terra primeva. Sob a acção dos raios UV provenientes da radiação solar e com a intervenção de iões de cobre como catalisadores inorgânicos, os cientistas propõem uma série de reações químicas num mesmo ambiente geoquímico capaz de produzir os precursores químicos do ARN, das proteínas e dos lípidos, moléculas essenciais para o aparecimento das primeiras células.
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António Piedade
Conteúdo fornecido por Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva