Copiar antes de pensar

|Hélio Bernardo Lopes|
Muitos são os produtos bebíveis, ou mesmo com outras utilizações, onde expressamente se pode ler: agitar antes de usar. Uma frase muito próxima da atitude cultural portuguesa, onde, invariavelmente, se copia antes de pensar. E esse parece ser o caso do novo modelo finlandês de ensino.

Surgida a ideia na Finlândia, de imediato aqui se está a tomar tal caminho como o destinado a ser seguido. Assim sucedeu com a designada descolonização, com a adesão à Europa, com a adoção do euro, e com tudo o mais que vem de fora. Chegou-se mesmo ao ponto, como pude escrever há dias, de constatar a imensamente maior dificuldade em discutir hoje a saída da Zona Euro do que o fim da defesa das antigas províncias ultramarinas, no tempo da II República.

Trata-se, objetivamente, de uma caraterística extremamente estruturante do modo português de estar na vida. Uma caraterística já muito antiga e que nada tem de consequência do modelo político-constitucional da II República. Bem pelo contrário: foi este dado estrutural que permitiu aceitar, com toda a calma, o referido modelo. E durante quase meio século.

Acontece que esta mesma caraterística esteve igualmente na base do Movimento das Forças Armadas, um pouco para lá da questão menor do Quadro Especial de Oficiais. Todos os Estados da Europa haviam descolonizado, pelo que se impunha que Portugal concedesse, por igual, novas independências. Começava a alargar-se o espaço da unidade europeia, pelo que logo os nossos políticos correram para o mesmo.

Surgiu o euro, e num ápice os políticos portugueses ao mesmo aderiram. Hoje, como se vai vendo, estamos na miséria e sem porta de saída. Com a globalização, tomada como incontornável, está-se à beira do fim da democracia, hoje pouco mais que um ritual indesejado por muitos na vida política.

Assim se dá, mais uma vez, mas agora com o caso do novo modelo finlandês: se estes o adotam e vão à frente, é porque ele é também o melhor para nós… Nem se olha, por exemplo, para as consequências, ao nível do elitismo social, que um tal modelo, com toda a evidência, criaria entre nós. Porventura, mesmo na própria Finlândia.

Tenho para mim a evidência forte das palavras recentes – já de há muito – do Papa Francisco: estamos já a viver a Terceira Guerra Mundial, mas em pedaços. E percebo, por tudo o que nos vai chegando, que uma nova escravatura está a nascer e a impor-se, um pouco por todo o lado. O Papa, de facto, protesta, mas o fenómeno é imparável, dado que as populações estão completamente cansadas de ser chamadas a jogar um jogo de resultado generalizadamente pior para a grande maioria. Nunca existiram tantos direitos e tão vasta liberdade, mas também nunca se viveu tão mal e num clima emocional tão angustiante. E entre nós, como de um modo geral, vamo-nos regendo pelas ideias dos outros. Se pensarmos um pouco, veremos que foi quase sempre assim.

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