|Hélio Bernardo Lopes| |
Tal como pude logo escrever na noite da sua primeira vitória, a segunda poderia não vir a ter lugar, como quase ia acontecendo. E, como pude também já escrever, a eleição de Aníbal Cavaco Silva para Presidente da República foi o erro mais trágico praticado por via eleitoral depois da Revolução de 25 de Abril. Já só raros deixarão de reconhecer que estas duas presidências de Aníbal Cavaco Silva foram as de pior qualidade política da III República.
Desta vez, o Presidente Cavaco Silva deu-se a tratar o perfil que entende dever possuir o próximo Presidente da República. Um perfil que deve suportar-se, ao que escreveu, num conhecimento forte de política externa. E, como de imediato teria de dar-se, tal foi logo visto como um apoio à candidatura (sem hipóteses de ganhar) de António Vitorino.
Sendo certo que António Guterres seria o natural vencedor da eleição presidencial, mas que tudo faz crer não estar interessado em disputar – a vontade dos portuguese não parece comovê-lo –, apenas António Vitorino satisfaz o tal critério do Presidente Cavaco Silva. O problema é que Vitorino se localiza na zona da direita do PS, muitíssimo mais propenso a coligações com o PSD ou com o CDS/PP que com quaisquer outros.
Não é possível que o leitor tenha tido outro pensamento. Nem poderá deixar de achar inenarrável esta ideia de um presidente que sai decidindo dizer aos cidadãos qual o perfil que entende ser o melhor para lhe suceder! A verdade, porém, é que, embora trágica, a escolha de Aníbal Cavaco Silva para o cargo de Presidente da República foi feita pelos portugueses que eram, ao tempo, eleitores e se quiseram pronunciar. A verdade está hoje à vista, sendo estimável pela comparação do Portugal que existia quando chegou a Belém, com o que deixará no início do próximo ano.
Por fim, a segunda decisão trágica: a escolha do PSD de Pedro Passos Coelho para partido mais votado. O preço do ódio à Revolução de Abril é hoje terrível, e, tal como a tantos expliquei, acabou por atingir quase todos, criando pobreza e miséria nunca vistas e um futuro que nunca chegará. Quando se dispõe da possibilidade de escolher os governantes, tem de ponderar-se muito bem o partido em que se vai votar. Sobretudo quando abunda uma vasta e desastrosa experiência de mais de quarenta anos. Duas decisões trágicas dos portugueses.