Quatro Notas

|Hélio Bernardo Lopes|
Desde a terça-feira da passada semana que me dei conta de movimentações inusuais na zona onde resido – na sua grande zona, digamos assim –, mormente em certos lugares típicos, por onde sempre passo a cada dia que surge. Gente não residente nem usualmente presente, em todo o caso sem grande pressa, algo expectante, mostrando aquele grau de nervosismo já muito típico de quem não se movimenta pelas melhores razões.

Na quinta-feira seguinte, tudo se acabou por confirmar, já com uma grande nuvem ao nível da movimentação humana completamente exterior à grande zona referida, mas também com alterações ao nível dos fortes hábitos de muita gente residente no referido grande local. Até que chegou este mais recente sábado.

Tenho aqui que confessar que raramente havia visto dados tão evidentes, mormente para quem aqui vive em Lisboa. Um desses dados era o que se prendia com o vestuário usado por concidadãos nossos que não são residentes da região. Para lá de consigo transportarem pequenas malas-carrinho, como se tivessem ido às compras, eles usavam botas fortíssimas, de sola grossa de borracha e muito aconchegadoras, samarras fortes, com gola de pele, destinadas a climas frios, e calças de fazenda grossa. Foi uma regra muito presente em muitos daqueles meus avistamentos.

Esta, pois, a primeira nota: quase com a plena certeza, mais uma maré viva, oriunda de um qualquer lugar do mundo, ao redor daqueles produtinhos cujo ritmo de chegada a Portugal é constante e quase de dia sim, dia não.

A segunda nota prende-se com uma das consequências dos recentes atos dos terroristas do Estado Islâmico. Olhando os comentários que se lhes seguiram, tudo por entre nós estará calmo, sob garantida vigilância, e sempre com garantias dadas de plena atualização de conteúdos e procedimentos. A verdade, porém, é que a Polícia Judiciária terá organizado ações de formação para todas as polícias, profissionais de saúde, educação e entidades de imigrantes, a fim de poderem identificar sinais de radicalização.

Deste modo, a Unidade Nacional de Contraterrorismo daquela polícia fez realizar em Portugal uma ação de formação da Radicalisation Awarness Network, que é uma rede da Comissão Europeia que se encarrega de formar para a prevenção da radicalização terrorista e extremista.

A terceira nota prende-se com o mais recente desacerto entre o ministro António Pires de Lima e o seu secretário de estado, Sérgio Monteiro, por um lado, e o que depois o Primeiro-Ministro tentou explicar como sendo a realidade. A verdadeira, a legítima. Simplesmente fantástico! E foram os dois primeiros membros do Governo que realmente trataram o problema com objetividade. Mais uns meses, e logo o leitor terá a oportunidade de poder concluir sobre a realidade desta minha conclusão.

Por fim, a quarta nota. Nos termos do que se pôde escutar a António Costa, tal como a Rui Rio, está de volta a regionalização, desde há décadas imposta pela Constituição da República, mas nunca posta em prática. A verdade é que nestas considerações recentes sobre o tema surgiram logo dois aspetos que são estranhos.

Em primeiro lugar, parece que terá de operar-se uma revisão constitucional – mais uma...–, o que denota que o fim do Estado Social, tal como eu sempre salientei, está adquirido. Tudo estava em ser o PSD e/ou o CDS/PP a fazê-lo, de molde a por aí se tentar ilibar o PS. Com esta nova revisão constitucional, lá irão ver o seu fim os Sistemas Públicos de Saúde e de Educação. No mínimo… E porquê? Bom, porque PS e PSD, certamente com a aquiescência do CDS/PP, irão atribuir aos municípios do País aquelas tarefas, com a correspondente transferência de meios para as autarquias. Passaremos a ter a Saúde e a Educação a retalho, ao sabor de impulsos locais e sem unidade ao nível da globalidade da população. E, em segundo lugar, porque as tais regiões a nascer não irão ser eleitas pelos cidadãos, sim pelas autarquias. Ou seja: passaremos a ter uma entidade não eleita pelos cidadãos a coordenar autarquias que foram escolhidas por eles.

Um autêntico caranguejo, andando para trás e muito mais rapidamente do que é usual. Dado que o PCP e o Bloco de Esquerda nunca aceitarão um tal grau de abandono da prática democrática, ficam assim lançadas as bases para o desde sempre anunciado: vem aí o Bloco Central, suportado no que nestes quatro anos foi feito pela atual Maioria-Governo-Presidente. É caso para perguntar: para quando a eleição do Presidente da República por via de um colégio eleitoral?

E já agora, uma espécie de quinta nota: António Vitorino, ao contrário do que se contém na mais recente sondagem, nunca será um candidato com probabilidade maior de ser ganhador, mormente sobre Marcelo. O que pode permitir perceber o que escrevi há muito: António Guterres poderá não estar nada desejoso para se vir introduzir no atual vespeiro português.

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