Solidão é um sentimento que Ana Velosa conhece bem, enquanto mãe de um jovem doente com neuropatia óptica hereditária
de Leber (LHON), uma doença rara, que costuma conduzir à cegueira quem dela sofre e que, por cá, continua ainda pouco conhecida.
No maior congresso de neuroftalmologia da Europa, o EUNOS 2019, que decorreu entre os dias 16 e 19 junho, no Porto, partilhou a história de Tomás, o filho, e deixou um apelo: “É necessário criar uma associação que represente os doentes, que seja capaz de pressionar
o Estado para que seja feito mais. É preciso chegar às equipas de neuroftalmologia, através da criação de centros de referência que tornem o diagnóstico e tratamento de LHON mais fácil e acessível.” E é preciso também, conclui, “aumentar o conhecimento sobre
LHON, com mais informação em português”.
Num simpósio dedicado inteiramente a esta doença genética rara, hereditária,
incapacitante e que provoca uma perda de visão rápida em ambos os olhos, Ana Velosa explicou como, num verão de há três anos, sem que nada o fizesse esperar, Tomás, então com 15 anos, o terceiro de quatro filhos, começou a queixar-se de problemas de visão.
“Dizia ter a visão turva, dificuldade em focar, mas na altura não nos preocupámos muito. Pensámos que era o resultado do cansaço de umas férias intensas”, recorda.
A persistência das queixas acabou por levar ao hospital, onde Tomás acabou
por ficar internado devido ao aumento da pressão intracraniana. “Fizeram-lhe muitos testes, exames, pensou-se num tumor, em meningite, esclerose múltipla…”, conta a mãe. Enquanto isso, Tomás ia perdendo a visão. “Começou a perder a visão central: primeiro
de um olho, depois do outro. Uma semana depois de estar no hospital já não conseguia ver televisão.”
Teve alta ainda sem um diagnóstico ou tratamento, mas com a suspeita de
uma doença que Ana Velosa não conhecia: LHON. Uma pesquisa na Internet revelou um pouco mais sobre o problema, mas não o suficiente. E, um mês depois da primeira ida ao hospital, chegava a confirmação: Tomás era um dos poucos em Portugal com esta doença.
“Partilhámos a informação com os familiares e amigos e começámos a lidar
com a doença no dia-a-dia e tem sido sempre assim. Porque esta doença não vem com um guia, com um livro de instruções.” Para Tomás, a vida mudou, mas não a vontade de a viver. “O meu filho é o meu grande herói porque decidiu lutar. E apesar de todas as dificuldades
visuais, conseguiu terminar o secundário e entrar para a universidade, onde está a estudar Gestão de Empresas.”
Os quase três anos de vida com LHON conferem a Ana Velosa um conhecimento
e estatuto que lhe permite deixar três conselhos a outros que, como ela, se vejam confrontados com uma doença como esta. “A família deve continuar unida, deve aprender a ter paciência e deve manter a esperança, não só para lidar com a doença, mas esperança
de que a medicina evolua no sentido da cura.”