Duas notas simples

|Hélio Bernardo Lopes|
Ao contrário do que me parecia lógico, continua o fandango dos ataques a Vítor Constâncio, vindos, até, de lugares estranhos. Ou talvez não. Desta vez, foi com graça, bem mais que com espanto, que tomei ontem conhecimento das considerações de Ana Gomes na SIC Notícias, no seu mais recente programa dominical.

A uma primeira vista, ficou-me a ideia de que a eurodeputada terá sempre olhado Joe Berardo como alguém sem real impacto na nossa vida social. A verdade é que o Presidente António Ramalho Eanes condecorou Joe Berardo, em 1985, com o grau de Comendador, o que me levaria a colocar a Ana Gomes esta pergunta: que razões terão levado aquele nosso Presidente da República a condecorar Joe Berardo deste modo?

Simplesmente, esta situação teve uma continuidade forte, mas já com o Presidente Jorge Sampaio, que agraciou Joe Berardo com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Razão para recolocar a pergunta anterior: o que determinou Jorge Sampaio a proceder a esta condecoração? Seria interessante que Ana Gomes procurasse esclarecer-nos sobre estas duas decisões presidenciais, porque a não se ir por aqui, o que nos sobra é esta dúvida: aqueles dois Presidentes da República deveriam atribuir títulos honoríficos sem pensarem duas vezes.

Acontece que Joe Berardo foi também agraciado em França, e logo como Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra, ao que se diz, a mais alta condecoração de França. Portanto, parece que também as mais altas autoridades francesas deveriam andar a viver na Lua, ou nos seus arredores, naquele tempo.

Quando se falava em Joe Berardo, de pronto me assaltava o sorriso, porque logo me recordava das suas entrevistas, por exemplo, no Jornal das Nove, com Mário Crespo, e daquela sua dificuldade em exprimir-se sobre a CMVM, ficando-se sempre, após uma ou duas tentativas infrutíferas, pela dita CVM. Fartei-me de rir com as aparições de Joe Berardo. Mas o que nunca me passou pela cabeça foi que Ramalho Eanes e Jorge Sampaio atribuíssem condecorações nacionais assim como eu como os excelentes pastéis de Belém. Ou seja: ao mais alto nível da nossa vida pública, em tempos tão distintos e distantes como os antes referidos, e mesmo fora de Portugal, Joe Berardo era uma personalidade de grande prestígio pelas razões que estiveram na base da atribuição daquelas condecorações. Será que Ana Gomes não consegue reconhecer esta transparente evidência?

E agora a segunda nota. Nesta sua mais recente aparição dominical, Ana Gomes contou-nos a sua conversa com José Sócrates, em que procurou dissuadi-lo de apoiar a ida de Vítor Constâncio para o alto cargo de Vice-Presidente do Banco Central Europeu, em face do que se havia passado com o caso BPN. Infelizmente, a eurodeputada esqueceu-se de que o apoio não foi só de José Sócrates e do seu Governo, porque Aníbal Cavaco Silva, então Presidente da República, respondendo a jornalistas por quem foi abordado, de pronto apontou Vítor Constância como sendo alguém que dispunha das mais altas qualidades para o exercício do cargo. De resto, já pelo final do Governo Passos-Portas, Aníbal Cavaco Silva teceria os maiores elogios a Carlos Costa, na peugada da sua recondução como Governador do Banco de Portugal, salientando que poucos em Portugal saberiam tanto de banca como Carlos Costa.

Por fim, esta pergunta simples: porque haveria Vítor Constâncio de se opor ao empréstimo da Caixa Geral de Depósitos a Joe Berardo, se os administradores da instituição aceitaram plenamente a proposta que lhes foi feita por este? E não procederam também deste modo os administradores das outras duas instituições a quem Joe Berardo solicitou o restante da totalidade de que precisava?

É verdade que as intervenções de Ana Gomes se caraterizam por um amplíssimo leque que vai desde mínimos muito baixos a máximos bastante elevados. Desta vez, se acaso não faço uma estimativa errada do caso, ter-se-á tratado de um novo mínimo, mas absoluto, nas intervenções de Ana Gomes. E já agora: que é feito dos casos dos voos de rendição da CIA e dos corrompidos portugueses ao redor dos nossos submarinos? Águas de bacalhau?...

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