Entrevistas

|Hélio bernardo Lopes|
O tempo que vem decorrendo desde o passado domingo, em que Rui Rio (finalmente!) explicou aos portugueses a verdadeira posição do PSD – têm surgido diversas...– em face da crise que se criara com a coligação negativa ao redor do problema dos professores, tem-se mostrado rico em entrevistas. Primeiro, a entrevista do líder laranja a Pedro Pinto, na TVI; depois, a de Pedro Santana Lopes ao i; por fim, a de Augusto Santos Silva, anteontem, na RTP 3, com Vítor Gonçalves. Justificam-se, pois, algumas palavras sobre estas três intervenções, bastante distintas entre si. Na forma e no conteúdo.

A entrevista de Rui Rio foi de uma extrema clareza, mas para mal do líder do PSD e para a própria imagem do partido. Desde logo, porque Rui Rio não se encontra realmente fadado para a política. Depois, porque a generalidade dos portugueses independentes no seu pensamento perceberam muitíssimo bem a razão que assistia a António Costa e ao seu Governo, precisamente o contrário do que Rui Rio ali referiu e já vinha expondo desde o domingo anterior. Por fim, a imagem de balbúrdia que transmitiu sobre a engrenagem com que se movimenta hoje o PSD.

Objetivamente, Rui Rio não nasceu para a política. Ao menos, para a política que se pratica em todo o Mundo. De molde que o saldo final deste infeliz mau funcionamento do PSD saldou-se num esclarecimento que supera mil palavras sobre a importância de se não seguir o PSD e o seu líder.

Diferente foi o caso da entrevista de Pedro Santana Lopes ao i. Sem tibiezas, Santana não teve dúvidas em reconhecer o erro clamoroso levado a cabo na comissão parlamentar de Educação, um dos piores momentos da Direita, do Centro-Direita, desde o 25 de abril. Elementar, tal como Holmes tantas vezes referiu ao seu amigo Watson.

Com enorme facilidade, o antigo líder do PSD, que também ensinou Direito Constitucional, enquanto assistente, em Lisboa, de pronto reconheceu que o que se passou naquela comissão atenta contra o Princípio da Separação de Poderes. De facto, mesmo Watson teria facilmente percebido tal, até sem um mínimo empurrão de Holmes.

Do mesmo modo, Pedro Santana Lopes lá explicou uma outra realidade elementar: o Parlamento não pode começar a tomar medidas, a não ser quando aprova um Orçamento do Estado, de impacto financeiro durante o exercício orçamental. E completou: esta proposta, na minha opinião, é inconstitucional a vários títulos. Mesmo por fim, o que hoje mesmo se pôde ver: as mudanças que PSD e CDS tentaram introduzir, do ponto de vista dos seus protagonistas, é pior a emenda do que o soneto.

Mas onde Pedro Santana Lopes foi ainda mais assertivo foi quando referiu que lhes ficaria bem apresentar um pedido de desculpas e reconhecerem que foi um erro, porque dizerem que não leram é de bradar aos céus, como Rui Rio tem feito. E termina: eu diria a Rui Rio que isto não é uma trapalhada, é uma enormíssima trapalhada.

Por fim, a entrevista de Augusto Santos Silva. Uma entrevista que teve duas partes distintas, a protagonizada pela conversa do entrevistador, Vítor Gonçalves, e a do entrevistado e Ministro dos Negócios Estrangeiros. Da primeira parte nem vale a pena falar, tal foi a falta de qualidade que mostrou. Chegou a dar a sensação de que Vítor Gonçalves nem sabia bem como abordar dado tema, como se procurasse uma espécie de impossível.

Em contrapartida, as respostas de Augusto Santos Silva caraterizaram-se, como é usual em si, por um discurso muitíssimo consistente, o que se tornou fácil em face da realidade exposta por Pedro Santana Lopes na sua entrevista: perante uma enormíssima trapalhada de Rui Rio, difícil seria ter dificuldade, ou mostrar falta de clareza, nas respostas às fracas perguntas de Vítor Gonçalves.

Aconteceu ali que Augusto Santos Silva é um professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, muitíssimo culto e com uma mui vasta experiência política, até multivariada: Educação, Cultura, Defesa, Assuntos Parlamentares e Negócios Estrangeiros. O que impõe a quem consigo dialogue, mormente através de entrevista, para mais televisiva, que se não classifique como adjetivo o que é, objetivamente, um substantivo. Além do mais, Augusto Santos Silva é também dotado de um tipo de humor muito forte, sempre bem aplicado, por isso causando uma sonora gargalhada por parte de quem tenha a oportunidade de o escutar. Três entrevistas que variaram desde o medíocre, passando pelo suficiente alto – talvez bom menos –, e terminando num muito bom. Ao contrário de Rui Rio, o nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, como há muito se pôde ver, nasceu para o exercício dos mais altos cargos públicos.

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